Capítulo 8 - DEFENDO MEU CASO

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Entro em casa e encontro minha mãe sentada no sofá ao lado do meu tio assistindo a uma novela — meu tio é viciado em novelas.

Me sinto um pouco nervoso, e é por isso que quando me sento no sofá menor, cruzo meus braços encima do meu peito.

— Como foi hoje com os NERDS? — Minha pergunta sorrindo, ela adora dizer a palavra "nerds".

— Legal... err... eu tenho algo para contar para vocês!

Pela luz do sol do meio-dia, ainda bem que o meu tio está aqui porque eu sei que ele vai adorar a noticia sobre o emprego o que vai ser totalmente inverso da reação da minha mãe.

— O que aconteceu? — Tio Carlos pergunta animado, meio olhando para mim, meio olhando para a televisão.

— Eu arrumei um emprego! — Digo de uma vez.

Passa-se um segundo e consigo perceber o rosto da minha mãe passando da expressão de expectativa pelo que eu tinha para contar e assumindo uma expressão de "eu entendi direito?" que eu conheço muito bem.

— Eu entendi direito o que você disse? — Ela diz.

— Sim, eu arrumei um emprego lá no Café da Neide, perto da escola. — Digo sorrindo. — Vai ser só meio período então nem se preocupem que eu não vou abandonar a escola.

— Ah então tudo bem, esse é único problema! — Ela tá sendo irônica? Minha mãe só é irônica quando fica muito estressada.

— Isso é maravilhoso! — Meu tio comenta todo animado, como se não acabasse de ver que minha mãe está a ponto de ter um ataque. — E você fez tudo isso por baixo dos panos!

— Realmente, você escondeu isso tudo de mim? — Ela pergunta, e continua a falar antes que eu possa dizer qualquer outra coisa. — Espero que saiba que você não vai trabalhar coisa nenhuma, José Antônio!

Abro a boca, surpreso, mas é meu tio quem fala:

— Como é que é? E por que não?

— Ele não aguenta ficar em pé por muito tempo! E não é como se você precisasse trabalhar, José!

Eu a encaro.

— Eu quero trabalhar mãe, eu já tenho quase vinte e um anos, quero uma responsabilidade maior do que a escola. — Não cito o fato de que eu não me sinto como se tivesse vinte anos. — E eu vou ficar no caixa, sentado, não tem como isso ser mais cansativo do que a escola.

Eu mesmo poderia citar como trabalhar pode ser muito mais cansativo do que a escola: não poder sair quando quiser para ir ao banheiro ou beber água, o estresse por ter que lidar com as pessoas, o estresse por ter que lidar com dinheiro.

Tudo bem, para de pensar José, senão você mesmo se convence contra.

— E hoje a Ananda disse que eu logo vou conseguir sair por aí sem a muleta, o que significa que estou praticamente cem por cento! — Acrescento, rapidamente.

— Eu não sei, filho... e o seu encontro com os seus amigos todas as tardes?

— Eu já conversei com eles, a gente pode se encontrar quando eu sair, não é um problema para eles.

— Só a gente não tava sabendo seu espertinho? — Meu tio brinca e fico aliviado ao saber que minha mãe sorri. — Você não pode negar o desejo do primeiro emprego a um homem, Lu. Isso seria desumano!

Balanço a cabeça dizendo que sim para confirmar o que meu tio disse. Eu sabia que ele me ajudaria.

Minha mãe respira fundo, passa as mãos sobre o rosto e então me encara.

— Você quer muito, muito mesmo esse trabalho? — Eu assinto dizendo que sim. — Então tudo bem, você pode ir trabalhar!

Meu tio bate palmas e eu o acompanho.

— Bom, agora vou tomar um banho! — Digo me levantando e saindo andando animado.

Do corredor, escuto meu tio dizendo:

— Qual vai ser sua desculpa agora?

Mas continuo andando, não paro para ouvir se eles continuaram a conversa.

Eu fiz questão de não tocar no assunto que aquilo daria mais tempo livre para minha mãe, ela saberia na hora que estou fazendo isso por ela.

Mais tarde estou deitado na minha cama e estranhamente fico me perguntando: o que Júlia e Antônio diriam se eu tivesse arrumado um emprego naquela época?    

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora