Janeiro de 2014
Parecia que minha cabeça ia explodir. Se ela não explodisse naquele momento com o som alto que fugia dos alto-falantes, talvez explodisse com a dor que sentiria quando fosse embora para casa.
Ir aquela festa tinha sido ideia de Antônio, obviamente. O plano de Júlia era que a gente fosse a uma amostra de artes na galeria da mãe dela, mas Antônio protestou que a gente sempre fazia as coisas chatas que ela queria. No fim eu tive que decidir o nosso destino de sábado à noite, e eu, naquele momento, realmente pensei que ir a uma balada de rock seria melhor que a amostra de arte.
Eu não poderia estar mais errado.
Rock já é alto por si só, as pessoas precisavam mesmo colocar no último volume em uma caixa de som tão grande?
— Minha cabeça vai explodir! — Eu gritei para Antônio e Júlia que estavam em minha frente.
Assim como eu, Júlia estava com as mãos sobre o ouvido e olhava estranhamente para as pessoas ao nosso redor. Eu e ela não combinávamos com o estilo daquelas pessoas, diferentemente de Antônio que se encaixava aquele público como uma luva.
— A gente precisa mesmo ficar tão perto do som? — Júlia gritou.
Antônio, que estava dançando, parou de repente e nos encarou com uma cara séria.
— Vocês estão tensos demais! — Ele gritou para a gente. — Se soltem um pouco, sintam a música!
Ele colocou a mão esquerda sobre o meu ombro direito, e a mão direita sobre o ombro esquerdo de Júlia.
— Levantem a cabeça, fechem os olhos e deixem a música levar vocês!
Respirei fundo e decidir fazer o que ele nos disse.
Assim que fechei os olhos senti como se o chão tremesse. Levantei a cabeça e permiti que Antônio me balançasse. Demorou alguns segundos para que chegasse ao ponto que ele queria, mas logo estava lá: a batida da música guiando meus movimentos e me fazendo me mexer mais rápido e com mais vontade do que achava que queria.
Abri os olhos e virei a cabeça para o lado, Júlia também se balançava ao som do musica.
Nós três ficamos ali, no meio da galera dançando por umas cinco musicas seguidas, até que Antônio nos chamou para procurar algo para beber. Ele nos guiou até a cozinha da casa, onde havia uns dois casais agarrados.
— De quem é essa casa, afinal? — Perguntei me escorando na pia, que estava uma bagunça. Foi um alivio finalmente poder conversar sem gritar.
— Não sei, uns amigos que me avisaram sobre a festa. — Antônio abriu a geladeira e pegou três latas de cerveja (barata).
Peguei a lata da mão dele e depois de abrir tomei um gole grande porque estava com sede. O gosto da cerveja era horrível.
— Isso deve ser a pior coisa que eu já tomei! — Júlia disse ficando ao meu lado, ela jogou a lata dentro da pia.
— Vocês precisam se soltar um pouco mais, sentir a vibe, viver um pouco mais!
— Acho que depois de hoje eu já vivi tudo o que tinha para viver! — Eu disse sorrindo para ele e Júlia concordou balançando a cabeça.
— Não tudo!
Antônio se aproximou de mim, colocou a mão no meu pescoço e então se inclinou me beijando. Eu não o afastei, nem senti que deveria. Sua boca estava gelada e apesar de ele ter bebido a cerveja, não estava com um gosto ruim. Quando ele se afastou eu me inclinei para frente, desejando por mais.
Então sem dizer nada ele deu um passo para o lado e beijou Júlia. Senti meu corpo todo arrepiar ao olhar para eles, era como se ainda o estivesse beijando.
Quando os dois se soltaram, Antônio segurou em nossos ombros e fez com que nos virássemos de frente um para o outro. Eu me inclinei na direção de Júlia e a puxei, a beijando com desejo. Diferente de Antônio, a boca dela estava quente.
— Sempre há outros caminhos para seguir! — Antônio falou quando nos soltamos.
Eu e Júlia o encaramos, e então ele se aproximou nos puxando e nos beijando ao mesmo tempo.
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José e os NERDS Contra o Mundo
Teen FictionJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...