Minha mãe chora quando o meu nome é chamado.
José Antonio Barreto de Oliveira. Ouço a voz da diretora ecoando pelo salão e quando subo mancando para pegar o papel que imita o diploma, olho para baixo e a vejo junto com o meu tio, que grita animado.
Quando me sento novamente em meu lugar, uma lágrima escorre pelo meu rosto. Mas é uma lágrima de felicidade.
É Rafaela quem faz o discurso representando nossa turma. Ela deixou que a gente lesse antes, e mesmo assim me sinto emocionado quando ela o diz em voz alta pelo microfone.
— Somos os donos de nossas vidas e isso causa felicidade e medo. — É assim que ela começa.
Somos os donos de nossas vidas e isso causa felicidade e medo. Somos os responsáveis por nossas escolhas, e isso é assustador. Somos aqueles que colheremos o que plantamos e isso é maravilhoso em um milhão de formas possíveis.
A partir de hoje temos uma nova luta para travar, mas assim como todos os anos passados, não estaremos sozinhos. Há mais pessoas para agradecer do que podemos nos lembrar, e daqui cinco anos terão tantas outras mais que será quase impossível olhar para trás e saber o nome de todas elas.
Nós chegamos aqui com o esforço próprio, e o apoio de nossos familiares e amigos. Esse não é o primeiro dia do restante de nossas vidas, esse é mais um dia, um dia que muda tudo, que dá abertura para um novo começo. E embora isso seja aterrorizador, é também maravilhoso.
Todos no salão se levantam para aplaudi-la e pela primeira vez a vejo se sentindo um pouco envergonhada, aposto que, por baixo da maquiagem — que Gabriela insistiu que ela usasse — seu rosto está todo corado.
Quando a cerimônia termina, minha mãe corre para me abraçar, e ver o seu rosto reluzindo de orgulho faz com que eu sinta vontade de chorar também.
— Obrigado por tudo mãe. — Digo antes que ela possa dizer qualquer coisa. — E você também tio, sem vocês eu nem estaria aqui hoje. — Estico o braço para abraçá-lo também.
— Não acredito que você vai me fazer chorar! — Tio Carlos comenta e eu e minha mãe rimos.
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Enquanto a maioria dos pais seguem para a festa, o pai de Eduardo e uma das mães de Denis nos leva até a Toca para que possamos vestir nossas fantasias.
Quando estou pronto com minha fantasia de John Constantine e meu cabelo loiro um pouco bagunçado — seguindo o que Samuel me mandou — Rafaela se aproxima com uma garrafa com suco de groselha e deixa cair um pouco em sua mão. Ela passa a mão suja do meu ombro esquerdo até o lado direito da minha barriga.
— É pra ficar mais real e parecer que você realmente estava lutando com uma onda de mortos-vivos. — Ela diz sorrindo.
Logo todos estão prontos. Nicolas está com sua fantasia do Pantera Negra, assim como tínhamos combinado antes; Eduardo está fantasiado com um uniforme da Sonserina e faz questão de dizer que é o Draco Malfoy; Rafaela está toda imponente em sua fantasia super real de Mulher Maravilha; Denis demorou tempos para escolher uma fantasia porque em nenhum lugar encontrava um garoto negro gordo para se representar, e no fim Nicolas o ajudou a achar uma fantasia de Super Choque, que não é exatamente o que ele queria, mas o deixa satisfeito; Samuel está fantasiado de Percy Jackson e fica a todo o momento levantando sua espada de plástico pintada de azul-escuro no cabo e prateada na lâmina.
— Nós seremos os mais bem vestidos dessa festa, podem ter certeza! — Samuel diz, e nós saímos apressados.
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Nós estamos no canto da pista dançando porque está tocando uma música da Dua Lipa. Eu fico me divertindo com os garotos até que percebo que Samuel está há uns cinco metros conversando com Gustavo — que está fantasiado de Superman.
Quando paro de dançar os garotos fazem o mesmo e ficam olhando para o mesmo ponto que eu.
— Será que o Gustavo tá brigando com ele? — Nicolas questiona.
Vejo que Gustavo está sorrindo e Samuel também.
— Parece que eles estão apenas conversando. — Eu digo, e isso parece estranho até para mim.
Vejo então Gustavo entregando um guardanapo dobrado para Samuel e os dois se despedem. Vejo que Samuel caminha em nossa direção, sorrindo.
— O que acabou de acontecer ali? — Rafaela pergunta assim que ele para em nossa frente.
— O Gustavo falou que sente muito por tudo o que fez com a gente durante esse tempo, e que percebeu que fazia aquilo porque se sentia reprimido. — Samuel fala.
— Reprimido com o quê? — Eduardo pergunta, ainda sério.
— Aparentemente ele é gay, e antes não conseguia lidar muito bem com isso. — Samuel está quase soltando uma gargalhada. — Ele me passou seu número e disse que eu deveria ligar para que a gente combinasse algo. — Samuel levanta a mão com o guardanapo dobrado.
— E você vai sair com ele? — Denis questiona, incrédulo.
— Claro que não! — Samuel diz como se aquela fosse a resposta mais óbvia de todas. — O fato dele ser gay não apaga tudo o de ruim que ele nos fez. Eu realmente posso perdoá-lo por isso, mas sair por aí como se nada tivesse acontecido é realmente demais. Mas, até que é legal saber que tem alguém afim de mim.
Nós rimos junto com ele.
— Ei, a gente vai precisar se reunir pra refazer cronograma! — Eduardo diz, quando decidimos voltar para as mesas que nossos pais juntaram.
— Amanhã bem cedo, todo mundo na Toca para que possamos trabalhar duro! — Rafaela diz, toda sorridente.
— Eu mal posso esperar! — Digo, todo animado.
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Danço um pouco com a minha mãe e com meu tio. Logo depois quando estou dançando com Pedro, Rafaela e Gabriela, Eduardo vem animado nos apresentar sua webnamorada — não-tão-web mais. Nicolas e Denis vêm animados nos mostrar que Samuel está ficando com um garoto de outra turma que também se chama Samuel.
Quando a música lenta começa a tocar, Pedro me puxa para junto do seu corpo.
— Ei, você quer sair amanhã depois de se encontrar com os NERDS? — Ele pergunta, estou com a testa junto da dele.
— Como você sabe que vou me encontrar com os NERDS?
— Porque os NERDS sempre têm planos para o futuro.
Eu assinto a cabeça sorrindo. Adoro que isso seja verdade.
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José e os NERDS Contra o Mundo
Teen FictionJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...