Capítulo 27 - A GRANDE FAMÍLIA NERD

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Acordo com uma risada alta e me sento passando a mão nos olhos. Empurro o cobertor para longe e vejo que todos estão acordados.

— Qual é a da risada? — Eduardo pergunta, ele dormiu ao meu lado.

— O Samuel soltou um pum muito alto! — Denis diz e solta uma gargalhada, o que me faz entender que a risada que me acordou é dele.

— Eu nunca faria isso! — Samuel diz levantando a mão, mas então começa a rir, o que o entrega.

Começo a rir também e fico feliz por ele ter dormido do outro lado e não perto de mim.

Vejo que Rafaela também ri enquanto amarra o cabelo, mas está um pouco calada.

— Como você está, Rafa? — Pergunto.

— Estou bem, com medo, mas um pouco mais calma que ontem.

Ninguém diz mais nada. A gente se levanta e faz a fila para ir ao banheiro. Depois que todo mundo já se arrumou, saímos juntos e vamos para a casa de Eduardo onde o pai dele preparou um café da manhã na sala de jantar — que tem uma mesa enorme.

As mães de Denis, os pais de Samuel e os de Nicolas já estão aqui, e cinco minutos depois que começo a tomar um suco de laranja, minha mãe chega com meu tio.

— Bom dia, filho! — Minha mãe diz vindo até mim e me dando um abraço apertado como se não nos víssemos a dias. — O vizinho me falou que ontem uma garota apareceu me procurando lá em casa de noite, eu acho que é a repórter que fez aquela matéria quando você estava dormindo.

Quase engasgo com o suco quando ela diz isso.

— A senhora acha que ela quer fazer outra matéria comiga? — Ela balança a cabeça dizendo que sim. — Nem pensar, minha vida já foi exposta demais.

Minha mãe nem pensa em discutir, apenas vai até a mesa e procura algo para comer.

— Seu irmão não veio? — Pergunto para Nicolas quando ele se aproxima comendo um bolo de fubá. Não vejo Pedro em lugar algum.

— Meu pai falou que tentou acordar ele, mas que o Pedro reclamou de estar passando mal. — Ele diz isso sorrindo. — Isso que dá ficar bêbado. Até a hora do almoço ele deve aparecer.

Fica todo mundo conversando e falando sobre como a festa foi boa. Alguém comenta que as confraternizações estão ficando cada vez melhores e quase morro de vergonha quando meu tio diz que a gente deveria sair em caravana para viajar para outro estado. Como se a gente fosse acostumado a sair em viagem de carro por aí.

Uma das mães de Denis pergunta para Rafaela sobre sua mãe e eu penso que ela vai sustentar a mentira de ontem quando disse que a mãe foi embora porque estava passando mal, mas então ela conta toda a história: sobre ser lésbica e a gente ter inicialmente pensado em fazer a festa para que ela pudesse sair do armário.

Primeiro, quando ela termina de falar, fica todo mundo em silêncio, mas aí a minha mãe diz:

— Conheço sua mãe há pouco tempo, mas sei que ela ama você e sua irmã mais do que poderia amar qualquer coisa. Ela só precisa de um tempo para pensar!

E nesse momento, enquanto a olho, sinto que ela é a melhor mãe do mundo.

[+]

Todo mundo ajudou a arrumar a mesa de jantar e depois Denis, o pai de Eduardo e a mãe de Nicolas foram para a cozinha preparar o almoço. O restante de nós se acomoda na área da casa e enquanto os adultos falam sobre qualquer coisa que não queremos ouvir, eu, Nicolas, Rafaela, Eduardo e Samuel começamos a avaliar as nossas próximas opções de séries para a gente fazer maratona.

No exato minuto que Denis aparece na janela e grita que a comida está quase pronta o interfone toca e eu vejo Rafaela ficando tensa. Nós cinco nos levantamos e vamos até a janela ver o pai de Eduardo pegar o telefone e passar a saber quem é.

— É a sua mãe, Rafa! — Ele diz colocando o telefone no gancho.

Sem dizer mais nada, Rafaela sai apressada em direção ao portão.

Passam uns cinco minutos. Consigo perceber que está todo mundo tenso — embora o meu tio tente fazer algumas piadinhas para tentar animar todo mundo — até que Rafaela aparece com a mãe segurando sua mão direita e a irmã segurando a mão esquerda.

Nem sei o que eu penso quando começo a aplaudir, mas por sorte todo mundo — até a galera na cozinha — me acompanha e quando chega até nós, Rafaela e família se abaixam, como se estivéssemos em uma peça e elas fossem o elenco que acaba de terminar a encenação.

— Preciso de um copo d'água e uma aspirina! — A mãe de Rafaela diz e o pai de Eduardo grita para ela entrar e pegar o remédio.

— Ei, cadê seu irmão? — Raquel pergunta para Nicolas e ele conta o que o pai disse. — Eu falei que ele era fraco para bebida, mas não quis me escutar. — E então sai andando sorrindo em direção à cozinha, finalmente, nos deixando sozinhos.

Nós cinco cercamos Rafaela como se fossemos atacá-la — eu nem vi em que momento Denis saiu da cozinha.

— Conta tudo! — Samuel pergunta.

— Ela falou que foi um baque e que ela, de verdade, nunca tinha imaginado. Mas que está tudo bem, que isso nem qualquer outra coisa poderia mudar o amor que sente por mim e por minha irmã! — Percebo que ela se segura para não chorar e no impulso a abraço, e logo sou agarrado pelos garotos e estamos todos em um grande abraço em grupo.

Pedro chega quando o almoço fica pronto e todos nos sentamos à mesa, ele está com uma cara péssima e pede que ninguém comente nada sobre isso, o que claramente faz todo mundo rir. Quando já estão todos servidos, Samuel levanta batendo com a faca em seu copo de refrigerante.

— Eu sempre quis fazer isso! — Ele diz, e todos riem. — Bom, novamente e como sempre estamos reunidos, e gostaria de dizer que nós, os NERDS, agradecemos imensamente por termos famílias tão maravilhosas que nos apoiam em todo momento de nossas vidas!

Quando ele se senta, o pai de Eduardo se levanta e diz:

— Em toda minha vida eu sempre quis ter uma grande família e hoje eu posso dizer que eu e o Edu temos a maior e mais bonita família de todas. Obrigado por estarem presentes, é sempre bom receber vocês!

Depois de alguns segundo em silêncio, enquanto comemos, o pai de Nicolas e Pedro, Jonas, que é o brincalhão do grupo dos pais — meu tio sempre troca piadinhas com ele — diz:

— Então ninguém nesse grupo gosta de garotos?

— Eu gosto! — Samuel diz animado e nós rimos.

— O José também, não é filho?! — Minha mãe diz e eu sinto vontade de enfiar minha cabeça na macarronada em meu prato.

Todo mundo ri — certeza que é da minha cara — e eu tenho quase certeza que Jonas me encara de um modo estranho.

Fico emocionado enquanto olho para todo mundo se interagindo e conversando tão abertamente — tão abertamente que a mãe de Rafaela nos conta sobre todos os sentimentos que sentiu quando a filha contou para ela sobre sua sexualidade — e percebo que estou imensamente feliz, eu nunca imaginei ter esse tipo de amizade: uma amizade que unisse minha família e mostrasse que eles podem fazer mais parte da minha vida do que eu imaginava.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora