Capítulo 32 - A CONVERSA COM MEU TIO

337 74 39
                                    


Sei que minha mãe ligou para os garotos e disse que eu estou bem — e eles provavelmente avisaram para Pedro —, mas ainda fico a noite toda recebendo mensagens e ligações deles. E decido continuar ignorando-os. Sinto que se fizer isso por tempo o suficiente, eles vão perceber que a minha amizade não vale a pena, e então seguirão em frente sem mim. Como deveria ser.

[+]

É quarta-feira de manhã e antes de sair de casa minha mãe vem até o meu quarto e pergunta se não vou para a escola. Digo que estou com dor de cabeça e ela não fala nada porque eu sei que ela me entende. Nesse momento não quero ver ninguém que não seja da minha família.

É quase dez da manhã quando decido sair do meu quarto e vou para a cozinha. Meu tio está sentado à mesa lendo um jornal. Decido tomar um pouco de café apenas porque quero sentir um gosto forte em minha boca.

Tomo um leve susto quando de repente meu tio abaixa o jornal e diz:

— Eu só erro com você, não é mesmo?!

— O que você tá falando tio?

— Fui eu que te dei aquela moto, e fui eu que deixei aqueles dois entrarem ontem. Eu devia ter me lembrado deles.

Me levanto e puxo a cadeira para ficar ao seu lado.

— Tio Carlos, você não tem culpa...

— Tenho sim, José! — Ele diz me interrompendo. — No fim tudo o que você passou é culpa minha. Você e sua mãe nunca disseram nada, mas eu sei que é! Quem é que dá uma moto de presente para um garoto de dezessete anos? Não é como se fosse a idade de alguém ter algum tipo de responsabilidade.

Estico o braço e seguro em sua mão.

— Você me ensinou a andar de moto melhor do que qualquer pessoa. Você me explicou tudo da melhor forma possível, e eu escolhi sair pilotando feito um louco por aí, eu escolhi atravessar o sinal vermelho!

— Mas se eu não tivesse te dado a moto...

— Aí eu iria de bicicleta. Talvez fosse pior. Se for para alguém ter culpa nessa história, essa pessoa com toda certeza não é você. Nós somos resultados de nossas escolhas, não das escolhas das outras pessoas. E sobre Júlia e Antônio, você não tem nenhuma obrigação de ficar se lembrando de todo mundo que passou pela minha vida.

Meu tio não morava comigo e com a minha mãe antes do acidente acontecer, raras vezes ele viu Júlia e Antônio; se até eu que os conhecia bem os achei diferentes, não seria ele que deveria reconhecê-los.

— Você é um ótimo filho, José! — É o que ele diz e sinto que se segura para não chorar.

— E você é um ótimo pai, tio!

Me inclino e o abraço. Quando nos soltamos decido jogar o café fora e tomo um pouco de suco de maracujá.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora