Capítulo 01-01

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Final de Fevereiro, 2018

O sol de verão rasgava as nuvens cinzentas da cidade de São Paulo anunciando que mais um primeiro dia de aula estava prestes a começar. Anna Luíza até tentou acordar mais animada, mas algo a afligia. Desde o natal, Matheus não mandara nenhuma mensagem ou fizera alguma ligação, sumindo completamente do mapa.

Saindo de seu banheiro, já quase pronta, Anna Luíza abriu seu guarda-roupa tirando de lá um par de sapatos baixo azul marinho.

— Licença. Bom-dia, querida — falou Dona Carla adentrando o quarto e analisando a feição de sua neta. — Pensei que estivesse dormindo ainda. Até vim preparada.

A avó de Anna tirou uma bexiga cheia de água do bolso mostrando a sua neta, que não teve uma reação muito contente.

— O que foi? Não está animada com a volta às aulas?

— Não é que eu não esteja animada, só estou apreensiva em ir — respondeu Anna terminando de pôr seu calçado.

— E essa apreensão tem um nome, né: Matheus! Queria que ela tivesse um endereço também, porque aí eu iria lá na casa dele tirar satisfações.

— E ameaçá-lo com uma bexiga d'água? — proferiu Anna ao ver sua avó irritada levantando a mão e fazendo da bexiga sua arma.

— Poderia funcionar.

— Só se ele fosse hidrofóbico ou usuário de maquiagem que não fosse a prova d'água — Anna concluiu tirando um riso frouxo de sua avó.

— Não sinta medo, minha filha.

— Ele passou as férias inteira praticamente sem me mandar uma mensagem ou ligar. Eu achei que nós estávamos juntos depois da formatura, mas parece que me enganei.

— Ele ainda não deu nenhuma notícia?

— Chegou uma mensagem ontem à noite que dizia: "Não se preocupe, eu estou vivo e fazendo a barba! Só recuperei meu celular agora."

— E o que isso significa?

— Não sei. Liguei para a Amanda ontem e discutimos sobre as possibilidades. Fizemos até um bolão. Eu disse que ele foi raptado por um extraterrestre e ela apostou que ele entrou em uma Ceita.

— Os dois casos são trágicos — concluiu a avó de Anna. — Mas sabe o que você deveria fazer?

— Uma cirurgia plástica no meu nariz.

— Não! Você é linda do jeito que é. O que quero dizer, é que você deve ignorá-lo um pouco, até voltar a confiar nele novamente.

— É uma boa ideia — Anna sorriu indo até o abraço caloroso de sua avó. — Mas me deixa levantar o nariz um milímetro?

— Com sessenta anos — Dona Carla foi enfática, mas levando na brincadeira.

E, sem perceber, as duas deram um abraço bem apertado a ponto de estourar a bexiga que ficou entre elas.

— Vó!

— Desculpe — pediu Dona Carla aos risos. — Vá trocar de roupa. E rápido, senão vai chegar atrasa.

— Mais atrasada né — disparou Anna correndo para o banheiro e tirando uma parte de sua roupa.

O colégio Pedro Álvares Cabral exalava o frescor de primeiro dia de aula. Os alunos eufóricos andavam de um lado para o outro cruzando o pátio à procura de conhecidos, de quem sentira falta durante todas as férias. Entre eles, duas fortes amigas se abraçavam.

— Eu senti tanto a sua falta — disse Rebeca saindo dos braços de Daniele. — É tão bom voltar ao colégio depois de tanto tempo.

— Eu não ligaria de passar mais um mês longe daqui. Até porque onde eu estava era tudo lindo e perfeito — murmurou Daniele.

TURMA 201Onde histórias criam vida. Descubra agora