Capítulo 06-01

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Junho, 2018

O hino nacional ecoava no pátio descoberto enquanto os alunos, eretos em posição de sentido, encaravam a bandeira do Brasil que ondulava no ar pendurada em um mastro recém assentado no piso de concreto. Observando os adolescentes obedecendo o novo ritual que foi implantado no colégio desde a venda, o senhor Diretor até tentava cantar o hino, mas nas palavras mais difíceis ele se embolava e camuflava seu erro com uma tosse forçada.

Quando a música terminou, os alunos não demoraram nem mais um segundo naquela posição e já se mandaram, espalhando-se pelo pátio.

— Não aguento mais cantar o hino — disse Rebeca agarrando no braço de sua melhor amiga. — Qual o objetivo disso tudo?

— Eu gosto de cantar. Consigo treinar a minha veia artística assim — murmurou Daniele.

— Você nem sabe a letra. Toda a vez que o hino começa você entoa "Bang" da Anitta — retrucou Rebeca.

— Porque esse é o meu hino! — confirmou Daniele vendo a amiga revirar os olhos.

As duas marcharam até o banco cinzento encostado em uma parede de um dos pavimentos do colégio. Rebeca se sentou cruzando a perna esquerda sobre a direita e jogando o cabelo castanho avermelhado de lado.

— O dia dos namorados é amanhã — entoou ela animada.

— Eu não vejo a menor graça — confessou a amiga quase emburrada. — Os homens não sabem dar presentes. Ou eles vêm com chocolates, ou buquê de rosas, ou uma marmita de strogonoff com batata palha.

Rebeca balançou a cabeça incrédula, encarando a amiga que percebeu que não havia sido muito clara.

— Meu padrasto sempre dá isso para mim mãe.

— Sua família é esquisita, igual a você — falou Rebeca. — Mas eu te adoro assim.

Rebeca a puxou para um abraço e lhe deu um beijo no rosto, deixando Daniele sorridente.

— Porém, sabendo que os homens são horríveis com presentes, eu acabei tendo uma ideia para o Marcelo não errar. Coloquei uma listinha do que eu quero ganhar na bolsa dele.

— E o que ele disse sobre isso?

— Não sei, porque eu coloquei lá para ele encontrar e pensar assim: "Nossa é o destino, não sabia o que dar a Rebeca e isso irá me salvar. Obrigado, Deus" — tentou ela imitar a voz do namorado, mas não deu muito certo.

— Esse era o Marcelo? — Daniele riu. — Pensei que fosse o professor de matemática.

Rebeca cravou seus olhos profundos nos dela não achando graça alguma.

— Quero só ver o que o Fábio irá te dar.

— Tomara que seja uma marmita — Daniele falou realmente desejando isso.

Tiago veio se aproximando delas arrastando o seu corpo sem a menor vontade de estar ali no colégio. Ele subiu seu olhar cansado e exausto até elas, cumprimentando-as.

— Onde você estava? E cadê os outros meninos? — indagou Rebeca se encurvando para o lado, na tentativa de encontrar o restante do grupo atrás de Tiago.

— Eu fui beber água depois do hino e eles foram ao banheiro.

— Animado para o dia dos namorados? — perguntou Daniele.

— Com certeza não. Nem namorada eu tenho, por que me animaria?

— Você acha isso ruim ou bom? — Rebeca disse em um tom cauteloso, não sabendo ao certo se era uma boa pergunta.

TURMA 201Onde histórias criam vida. Descubra agora