Maio, 2018
Anna Luíza pousava a xícara cerâmica, com uma rosa e folhas verdes estampados na lateral no pires, após dar um gole em seu leite puro. Ela encarou Dona Carla que fazia o mesmo com o seu café.
— Papai está trabalhando muito, não está? — indagou Anna agarrando uma torrada. — Ele chegou muito tarde ontem. Eu estava na cozinha pegando água quando o vi entrar e ir direto para o escritório já com o celular pendurado na orelha.
— Também notei. Mas há alguns meses perguntei o porquê de ele estar tão focado no trabalho de novo. E ele confessou que a empresa passa por problemas.
Dona Carla arqueou as sobrancelhas enquanto Anna puxou os lábios para lateral esquerda, perdendo-se em seus pensamentos. Ela não conseguia imaginar o que poderia ser de tão grave para ver o seu pai novamente chegando tarde em casa e saindo quase de madrugada.
— Estamos falindo? — Anna usou um tom de voz sereno.
— Não. Quando limpei o escritório dei uma espiada no fluxo de caixa que estava dando sopa em cima da mesa. Me senti uma espiã — concluiu a avó com um sorriso no canto da boca.
— Só faltou os apetrechos e a elasticidade.
— Eu sou muito alongada, fique sabendo.
— Te vi fazendo pilates, vó. E elasticidade é algo que você não tem.
— Aqueles exercícios são muito difíceis!
— Era só pôr a palma da mão no chão — concluiu Anna aos risos vendo sua avó revirar os olhos. — Mas, enfim, se não for um problema sério na empresa, por que ele está se afundando no trabalho? Pior, por que ele mentiria para você?
Anna terminou de passar manteiga na torrada começando a devorá-la. Já Dona Carla tomou mais um gole do café procurando a resposta no gosto amargo da cafeína.
— Ele deve estar sofrendo. Teu pai fez isso quando sua mãe morreu. Logo depois de você dar os primeiros passos, ele começou a se afundar na empresa fugindo da dor.
— Não sei, vó. Tem alguma incoerência que não estamos conseguindo captar. Acho que ele está precisando é viver — murmurou Anna deixando micro pedaços de torrada escapar pelos dentes.
— Concordo. Ele precisa de uma namorada — disse a avó com um riso frouxo.
— Ou namorado — proferiu Anna arregalando os olhos, surpresa por chegar em uma conclusão que agora, para ela, estava muito clara. — Meu pai é gay!
— O quê? — Dona Carla se engasgou com o pão caseiro que colocara na boca.
— Sim! Pense comigo, vó. Depois da minha mãe, meu pai nunca mais se casou, nunca mais se envolveu com nenhuma mulher. Dedicou a vida inteira a empresa e a mim.
— Isso não o faz gay e sim pai — enfatizou a última palavra.
— Vó, ele brigava com você para escolher os meus vestidos quando pequena. — Anna foi contando nos dedos. — Passa gel no cabelo e é fã da Madonna. Como que eu não vi isso antes?
Anna Luíza exalava uma perplexidade acreditando nos pensamentos que sua mente estava criando, enquanto sua avó respirava fundo, incrédula em ouvir os devaneios de sua neta.
— Anna, minha querida, você está cometendo um erro ao pensar isso.
— Não estou não, quer ver.
Anna Luíza pegou o celular discando o número de seu pai. Ela clicara para que o som saísse no viva-voz e foi exatamente o que aconteceu.
— Oi, filha — disse Marcos em uma voz sendo abafada por uma música dançante.
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TURMA 201
Teen FictionPara desbravar as aventuras que lhe esperam no segundo ano do ensino médio, a antiga Turma 101 se transformou em Turma 201. Muitos desafios estão cercando esses adolescentes que estão rumo à metade do ensino médio, entre eles o autoconhecimento, pro...