Capítulo 09-02

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Anna Luíza apontou no corredor escuro do Primeiro Pavilhão, contornando uma esquina e dando de cara com a sala da diretoria. Ela abriu a porta pegando o senhor Diretor de surpresa.

— Estou aqui — disse ela fechando a porta atrás de si.

O senhor Diretor girou sua cadeira, de modo a ficar de frente para ela. Anna segurou um riso quando notou que o Diretor estava com o rosto todo branco, com as bochechas desenhadas em vermelho e um nariz de palhaço. Ele engasgou, tentando-se explicar.

— Já passei dos cinquenta anos e vi em uma revista que é sempre bom fazermos coisas novas para a vida não ficar uma chatice.

— Aposto que a revista falava sobre praticar algum esporte ou cursos, tipo, artesanato, inglês — disse Anna confiante.

— Eu só li a manchete — confessou ele. — Mas, Anna Luíza, te chamei aqui para termos uma conversa séria. Não consegui te chamar logo que voltamos das férias por motivos pessoais.

— O senhor ficou mais duas semanas além da que tivemos.

— Não foi isso. Eu estava no colégio, só muito ocupado com várias papeladas e processos administrativos.

— A Leci disse o contrário.

— Eu tenho os comprovantes que bati o ponto naqueles dias. Mas, enfim, preciso que você entenda de uma só vez a nova condição para a sua permanecia neste colégio — murmurou ele encostando as costas na cadeira, inclinando-se levemente para trás. — As regras mudaram e você está a um fio de ser expulsa. A suspensão foi seu último aviso. Então, para depois você não dizer que estamos sendo muito autoritários, quando te expulsarmos arrastando você para fora pelo cabelo e deixando-a na sarjeta, não espera! Essa é a conversa que tenho que ter com a minha irmã cleptomaníaca! — O Diretor balançou a cabeça, reformulando seus pensamentos. — Para depois você não dizer que estamos sendo autoritários é que peço: entre na linha. Pare com essa história de armar uma revolução. Vocês não vão conseguir nada com isso.

— Mas o senhor acha justo tudo o que está acontecendo? As mudanças? Perdemos educação física, sociologia. Os banheiros unissex.

— Ninguém usava aqueles banheiros.

— Porque a Leci o infestava logo às 7 horas da manhã!

— Anna Luíza, este é o seu último aviso. Me prometa que nada mais irá acontecer.

Eles se entreolharam. Anna hesitou respirando fundo, não querendo concordar com o que ele pedira, mas ela sabia que não havia mais nenhuma opção, por enquanto.

Leci abriu a porta da Diretoria jogando ao Diretor um objeto, que ele o agarrou no susto.

— Bati o ponto do intervalo por você — murmurou ela, logo deixando a sala.

Na mão, o Diretor tentou esconder o dedo de silicone que ele usava para burlar o sistema de ponto eletrônico. Anna Luíza revirou os olhos para a situação, já acostumada com a loucura dos dois. Mas ela precisava retrucar o que o senhor Diretor dissera, então, Anna limpou a garganta e entoou:

— Nunca vou abandonar as minhas convicções do que acho que é certo ou errado. Posso repensar, reavaliar, mas quando sei que algo está errado, vou lutar para torná-lo certo, do contrário estarei sendo conveniente com a situação. — Ela fez uma pausa. — Mas irei dar uma trégua enquanto luto uma outra batalha.

— Isso aqui não é Game of Thrones.

— Bem que eu queria. Eu ia arrasar com a minha espata e meu veneno.

— Então estamos combinados, senhorita. A partir de agora, vamos ter uma relação harmônica.

O Diretor se pôs de pé, dando a volta na mesa, revelando que vestia uma calça amarela e um sapato de bico fino e extenso de um vermelho brilhoso.

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