Capítulo 12-01

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Outubro, 2018

Anna Luíza abria a gaveta de seu criado-mudo branco enquanto jogava de lado seu cabelo úmido. De lá, ela tirou o celular que havia despertado nela tanta aflição. Desde que recebera a mensagem respondendo seu contato, Anna Luíza entrou em pânico não dando continuidade na comunicação, ainda mais quando o celular começou a receber chamadas do número de DDD 68, fazendo a menina ter que desligá-lo. Mas Anna Luíza sabia que ali estava a sua arma mais poderosa contra Vivian, no entanto, ela ainda não se sentia pronta para usá-la.

Anna fechou a criado-mudo após jogar o celular lá dentro, trancando-o com chave. Em seguida, ela calçou seu sapato baixo azul-marinho sendo beijado pelo foicinho rosado e molhado de baba de sua porca.

— Ai, mas que beijo molhado, meu bebê — murmurou ela, em resposta com a voz melosa.

A menina saiu do quarto marchando até a sala de jantar, encontrando seu pai e Dona Carla em uma discussão calorosa, mas que foi silenciada com a presença de Anna.

— Por que estão brigando? — indagou a filha, percebendo sua avó esconder o rosto com as mãos. — Vó, não vai me dizer que caiu mais um dente?

— O momento não é oportuno para piadas, Anna Luíza — disse Marcos com a voz firme.

— Não, querida, não foi mais nenhum dente — proferiu a senhorinha grisalha com os olhos marejados. — Só mudanças da vida.

— Bom, então, por que vocês dois não me explicam o que são essas mudanças na vida? Pois sei que elas vão impactar na minha.

— Recebi sua carta de aceitação no colégio interno na Inglaterra. — Marcos disparou sem nem preparar o terreno antes. — Estão pedindo apenas os documentos restantes que preciso buscar hoje no colégio.

Um silêncio se infiltrou na sala de jantar, havendo apenas os ruídos de Anna Luíza sentando-se à mesa, boquiaberta e em choque. Ela nunca imaginou que seu pai levaria a ideia até o fim, pois acreditava que ele não conseguiria se imaginar vivendo longe de sua única filha, porém ela percebeu que estava completamente enganada.

— Quando vou? Preciso arrumar minhas malas e me programar. Estou sem tempo. E ainda vou ter que organizar uma festa de despedida. Dar tchau aos meus amigos, vovó e pão de queijo.

— Lá você poderá comprar pão de queijo em mercados brasileiros — disse Dona Carla chorosa.

— Ow, não. Esse é o apelido do Matheus. Meu namorado que vou abandonar às traças e deixá-lo livre para alguma outra garota sem sal dar em cima dele e conquistá-lo — murmurou Anna ríspida. — E tudo isso, porque o meu pai arranjou uma sarna para se coçar.

— Anna Luíza, você sabe que nada disso tem a ver com a sarna..., quero dizer, com a Vivian. Ela até tentou me fazer mudar de ideia, mas, desta vez, eu vou até as últimas consequências. Você precisa de disciplina. Entender que o mundo não gira ao seu redor.

— O meu mundo gira — falou Dona Carla.

— Mas vai ter que aprender a orbitar em outro eixo — respondeu Marcos rápido. — Isso vai ser a sua nova realidade, Dona Carla.

— Ou, eu poderia me mudar com a Anna para Inglaterra. Eu me adaptaria superbem. Nem de casa eu saio, o frio de lá não iria me incomodar.

— Não mesmo, Elsa — complementou Anna.

— Assim essa viagem perderia totalmente o objetivo. Quero que a Anna Luíza cresça, crie responsabilidade. Com você lá, ela iria ter a mesma rotina que aqui. E a senhora sabe muito bem disso. — Marcos proferiu deixando de lado o guardanapo e pondo-se em pé. — Vou para o escritório. Espero vocês para o jantar hoje aqui em casa. Alguns amigos também virão.

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