Capítulo 04-01

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Abril, 2018

Anna Luíza saiu do banheiro ajeitando a camiseta branca do uniforme do colégio, colocando-a para dentro de sua saia quadriculada e passando a mão pelo abdômen na tentativa de desamassá-la. Na frente do espelho, seus olhos brilharam ao ver a mensagem de bom-dia de Matheus. O relacionamento dos dois andava de vento em popa. Finalmente eles deixaram o orgulho de lado começando um relacionamento, um tanto receosos devido a todos os acontecimentos anteriores, mas, mesmo assim, muito felizes por estarem dando uma nova chance aos dois.

— Onde está o papai? — Anna Luíza indagou sua avó que tomava o café da manhã na sala de jantar com os olhos grudados na tela do celular.

— Já saiu. Disse que tinha um dia muito importante na empresa. Alguém de fora estava vindo.

— Ele anda tendo, né. Há dias que sai cedo. Deve ser a Rainha da Inglaterra — Anna murmurou, sentando-se à mesa e dando um gole no suco de laranja.

— Não! Ela anda muito antipática, não querendo sair de casa.

— Deve ser a idade, você está igual — Anna riu vendo a feição de sua avó contrair em protesto.

— Saiba que estou muito nova ainda e bem à frente de meu tempo. Estou fazendo um perfil no...

— Tinder? Ah, vó, nem vem.

— O que é isso?

— Um aplicativo de cardápio — Anna tentou se desviar da explicação.

— Soletra que quero baixar. Preciso de ideias para o jantar.

— Não é bem esse tipo de cardápio — Anna encurvou a sobrancelha transmitindo a sua avó a mensagem que ela entendeu na hora.

— Limites, Anna Luíza. Nós precisamos de limites — Dona Carla respondeu esboçando um riso. — Mas, que tal falarmos do Matheus. Estão namorando? Só vejo você grudada neste telefone aos sorrisinhos apaixonados. Me lembrou o início das férias.

— Nós só estamos nos conhecendo — murmurou Anna em um tom envergonhado não querendo ter esse tipo de conversa com um familiar.

— Mas vocês se conhecem há, pelo menos, um ano.

— Nos conhecemos como inimigos. Depois passamos a nos conhecer como amigos, e agora estamos nos conhecendo como ficantes. São estágios diferentes, vó.

— Meu Deus, quanta bobagem. Na minha época não tinha nada disso não. Era casamento direto e funcionava.

— Na sua época muita coisa era diferente, vó. Inclusive as luminárias que eram à vela — sua neta riu ao final da frase.

— Limites, Anna Luíza. Nós precisamos de limites — concluiu Dona Carla com um tom firme.

Anna continuou tomando o café da manhã e, sempre que possível, fazia piada com a cara de sua avó. Dona Carla não se incomodava de fato, até gostava dessa liberdade, pois era sinal que mantinha uma relacionamento muito saudável com sua neta.

No pátio coberto do colégio, Matheus, Tiago, Marcelo, Rebeca e Daniele se escondiam da fina chuva que caia sentados na mesa perto da cantina. Matheus se remexia na cadeira ajeitando a gola da camiseta, um tanto acuado.

— Nós não estamos namorando, estamos na fase de nos conhecer — respondeu ele fazendo a turma revirar os olhos.

— Mas vocês já se conhecem — Rebeca proferiu com a voz ardida de sempre.

— Eu sei, só que queremos ir devagar.

— Como dois idosos fazendo maratona para aparecer na televisão, sendo os dois senhores mais lentos da São Silvestre? — Daniele indagou sendo encarada por todos da mesa. — O que foi? Não posso mais contar a história trágica dos meus avós?

TURMA 201Onde histórias criam vida. Descubra agora