Capítulo 09-03

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A noite caiu na cidade de São Paulo trazendo uma brisa fria de inverno. Na casa de Anna Luíza, Marcos e Vivian se reuniam na sala de estar à espera de Anna que ainda não chegara do colégio.

— Ela não atende o celular — murmurou Marcos desligando o aparelho e jogando-o no sofá.

— Calma. Ela respondeu minha última mensagem dizendo que estava à caminho. A van parou em algum lugar — respondeu Dona Carla sentada em uma poltrona branca de tecido grosso e bege.

— Acho que ela não aparecerá por causa do jantar. Está fazendo birra — disse o pai em um tom de voz sério e rouco.

— Ela concordou. Tenho certeza que aparecerá.

— Nossa, estou morrendo de vergonha. Tudo isso por minha causa — proferiu Vivian de um canto da sala levando a mão ao rosto. — Talvez eu devesse ir embora.

— Não. Você fica. Minha filha tem que se acostumar com sua presença.

— Mas, às vezes, ela precisa de tempo para assimilar tudo e eu estou aqui, forçando, entende. — Vivian imprimiu na voz o tom suave, como se realmente acreditasse no que estava dizendo.

A porta do hall rangeu ecoando na sala de estar. Marcos respirou fundo sabendo que sua filha acabara de chegar.

— Olá — falou Anna. — Cheguei. Cadê vocês?

— Sala de estar, querida — gritou Dona Carla sorrindo.

Anna adentrou a sala vendo seu pai encará-la raivoso.

— Onde você estava? — indagou ele cerrando os dentes.

— Vindo para cá. Mandei mensagem para a vovó.

— Bom, agora que chegou, pode subir e se trocar. Vamos nos preparar para comer — disse Dona Carla, pondo-se em pé.

— Espere — disse Anna sorrindo. — Eu tenho que apresentar alguém a vocês.

A família a encarou receosa, sabendo que não era algo bom. E não demorou muito para tudo se revelar. Anna trouxe consigo um porco de tamanho médio, gordo, provavelmente com mais de cento e cinquenta quilos, babão e com pelo ralo.

— Família esta é a Elvira. Elvira esta é a sua nova família — anunciou ela radiante.

Marcos ficou boquiaberto, bem como sua sogra que esbugalhou os olhos. Vivian, por outro lado, deu um sorriso tremulo sentindo o estômago gelar e as mãos começarem a suar.

— Um porco, Anna Luíza?! — protestou Marcos indignado.

— Não. Uma porca, com A.

— Mas ela parece ter um... saco! Então é porco — disse Vivian dando três passos atrás.

— Só que o animal é meu e eu quero que ele seja uma porca — respondeu Anna soltando Elvira.

A porca não demorou muito para começar a xeretar todos os cantos indo em direção a Vivian, que deu um grito estridente quando o animal fungou ao seu lado. A madrasta se encolheu toda, principalmente quando a porca lhe lambeu.

— Elvira! Não. Nada de porcaria antes do jantar — falou Anna seguindo até o animal e puxando-o para trás.

— Chega, Anna Luíza! — gritou Marcos suando a testa. — Você foi longe demais. Eu quero esse porco ou porca para fora da minha casa.

— Não! Você nunca me deixou ter um cachorro por ser alérgico, então resolvi ter uma porca. Estudos dizem que humanos precisam do contato com os animais para tonarmos mais sensíveis — contra-argumentou Anna Luíza agarrada em seu novo bicho de estimação.

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