Segredos imersos

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Seus olhos eram da cor dos olhos da sua mãe, que faleceu quando ela tinha 12 anos. De quê? Ainda não sei. Onde? Sabia muito menos. Seu pai? Era descendente de Búlgaros, com cabelos castanhos claros, já grisalhos com o tempo. Nome? Leon Carvahal, nome que pra mim naqueles primeiros momentos com Valentina não significava muita coisa, mas isso viria a mudar com o passar do tempo.

E nossos papos se davam todos no intervalo entre as aulas, as vezes esquecíamos de comer para ficar conversando sobre interesses, que muitas vezes eram em comum, sobre acontecimentos da escola ou o assunto mais puxado: eu. Ela, que eu queria tanto conhecer a fundo, não me deixava entrar com facilidade. Era monossilábica em quase todas as suas respostas, o que me deixava ainda mais maluca de vontade de devorá-la por completo. A essa altura do nosso convívio, eu esquecia dos meus atrasos, de que eu tinha tido aquela vida antes dela, mas havia marcado para hoje, uma quarta feira, de visitar o Dr. Mateo, pois precisava entender minimamente o que eu chamava de Efeito Valentina.

Como em quase todas as manhas dessas duas intensas semanas de amizade, Val me buscava na porta da escola, me acompanhava até o meu armário, onde eu pegava minhas coisas, depois íamos até o dela e assim seguíamos para as nossas aulas. Esse movimento sendo sempre observado pelo grupo de paspalhos metidos a besta que agora, pensavam duas vezes antes de me importunar.

Dentro desse grupo, conhecia muito bem uma das namoradinhas de um dos capangas de Lucho chamada Nayeli. Convivemos uns anos antes, quando ela chegou a namorar o meu primo. Mal sabia eu que o futuro guardava surpresas. Nayeli era uma daquelas garotas que fica com quem está na moda ficar, e como meu primo saiu daquela escola pois ganhou uma bolsa de estudos para jogar bola, ela se viu sozinha e resolveu encontrar um novo guarda costas para chamar de seu.

Eu podia tentar ignorar o fato de todos os olhares de desejo dos homens daquele grupo estarem na minha companhia e todos os olhares das mulheres serem de inveja, obviamente pela sua beleza. Já os olhares para mim, eram normalmente de desprezo e indiferença. Com Val ao meu lado, isso não mudava. Eles apenas não agiam como antes, ou eu achava que não agiriam. Em um desses dias, nosso trajeto mudou e eu me separei de Val para ir ao banheiro. Já estava desconfiada que o grupo que nos observava poderia armar algo para nos incomodar, já que Valentina os enfrentou e eu, bem....eu era apenas uma retardada esquisita para eles.

- Val, eu vou ao banheiro. Te encontro na aula de história, tudo bem?

- Tudo bem, Juls. Mas não quer que eu vá com você? – Valentina olhava para mim, sentindo os olhares ao nosso redor.

- Val, eu não posso ter medo de ir ao banheiro. Eles não vão fazer nada. Só querem nos encher o saco. Pode ir pra aula, se eu me atrasar, bom, isso quer dizer que eu voltei ao normal. – ri e ela tb soltou uma risada daquelas que eu amava ouvir.

- Ok, mas vou ficar de olho no celular. Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, me chame. – disse em um tom preocupado, cheio de doçura.

- Eu chamo, meu cavaleiro corajoso. E sei que você virá correndo. – falei brincando, mas com um leve charme de princesa indefesa. Na mesma hora ela abriu um sorriso e suas bochechas ficaram vermelhas. Eu a olhava e só conseguia pensar em como aquela garota estava ao meu lado e queria conviver comigo.

Demos tchau e eu me dirigi ao banheiro que ficava próximo a escada principal do colégio. Entrei na hora em que algumas pessoas saiam, o que deixou o banheiro completamente silencioso. Abri a porta de uma das cabines, pendurei minha mochila e quando ia fechar, ouvi que a porta do banheiro se abriu e passos eram dados. E nesse momento soube que não estava mais protegida.

- Lerdinhaaaaa...queremos bater um papo com você.

Infelizmente eu conhecia aquela voz e sabia o que me esperava. Empurrões? Ficar trancada no banheiro? Roupa rasgadas? Meus livros destruídos? Isso tudo poderia acontecer com aquelas pessoas.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora