Valentina, o que você está fazendo aqui com ela?
No exato momento em que essas palavras foram gritadas para a cafeteria toda ouvir, estávamos próximas, com as mãos entrelaçadas e com os corações cheios. No exato momento em que aquelas palavras entraram em nossos ouvidos, as nossas mãos se soltaram, nossos rostos se afastaram e nossos corações gelaram. Era uma voz amargurada, ressentida, fria, assustada e ao mesmo tempo que assustadora.
- Pai, por favor, eu não falei nada...
- Fique quieta e conversamos em casa. – o homem pegou no braço de Valentina com muita força e a foi arrastando para longe de mim, como se eu fosse perigosa para ela ou que ela fosse pra mim. Ele me encarou ofegante enquanto a levava para fora do estabelecimento. Nos olhos da mulher pra quem eu acabara de me declarar, eu vi medo. Naquelas esferas azuis eu via temor e algo como um aviso para eu não tentar defende-la naquele momento. E assim, ela sumiu pela porta enquanto eu tentava não ter um ataque de pânico.
Ele sabia quem eu era? Por que eu seria um problema ela estar comigo? Eu não estava entendo nada e a minha cabeça latejava. Foram mais 3 dias de ligações não atendidas, mensagens não respondidas e noites em claro. A noite de domingo chegava e minha ansiedade com ela, já que no dia seguinte supostamente Valentina teria que ir ao colégio. Ela já havia faltado muitos dias e se nós continuássemos assim, ela faltando e eu sem conseguir me concentrar nos estudos, com certeza não teríamos o fim de ano que gostaríamos.
Me arrumei para dormir, sem fome, sem ânimo, com dúvidas e certezas me assombrando, quando minha mãe abriu a porta do meu quarto.
- Hija, não quero te atrapalhar nem me meter, mas o que está acontecendo com você? Quer marcar uma consulta com o Dr. Mateo? Preciso me preocupar?
Eu estava exausta de pensar em tudo sozinha. Realmente me abrir para alguém seria muito bom pra mim, mas esse alguém seria minha mãe? Eu já a preocupava demais apenas sendo quem eu era. Ela não precisava de mais problemas em sua vida. Mas ao mesmo tempo, eu a deixaria por dentro de tudo e talvez ela se preocupasse menos.
- Mami, podemos conversar? Preciso que você saiba de algumas coisas que andam acontecendo.
- Juliana, se você me disser que está usando drogas ou que está grávida, eu juro por Deus...
- Mãe, por favor! Claro que não. Se acalme. – eu fale mais alto para que ela não entrasse em uma paranoia ainda maior. Pedi para que ela sentasse ao meu lado e respirasse.
- Juliana, me conta logo. Ou você vai me fazer ficar adivinhando o que você tem pra me dizer? – já estava nervosinha. Resolvi tirá-la da neura.
- Me prometa que vai ouvir tudo sem me interromper?
- Prometo – eu sabia que era mentira, mas fingi que acreditei.
Comecei do começo. Disse que tinha conhecido a Valentina no colégio, que no dia em que desmaiei senti algo que nunca havia sentido: o mundo como ele deve ser para os outros. Não sabia como, mas com ela tudo ficava mais calmo e devagar. Contei também da minha consulta com o Dr. Mateo em que ele me mostrou o papel que o homem misterioso havia deixado pra trás. Contei ainda que eu estava no café com a Val e fomos interrompidas pelo seu pai, em um acesso de raiva, a retirando a força de dentro da cafeteria.
- Juliana, quem são essas pessoas? Essa menina e o pai? Quero ver o papel que está com o Dr. Mateo. A letra pode ser a do seu pai e se for, eu juro por todos os santos, que o mando pra cadeia de vez!
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O que ficou pra trás
FanfictionSabe quando a gente acha que tá pronto pra seguir em frente? Que o que passou ficou no passado e não nos afeta mais? Que quem um dia foi importante, hoje é apenas a sombra de uma antiga realidade? Então, esquece. Quando o tempo não importa, passado...