Uma chance

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Será aquela pontinha de felicidade e esperança?

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Eu ouvi. Prestei atenção. Absorvi e compreendi que no fim das contas, eu era uma idiota. Era isso. Foi o que eu tirei de tudo que escutei. Que eu, Juliana Valdes, fui uma completa panaca. Era a única dessa história que não sabia onde estava me enfiando e o quanto teria que me entregar a esse conto de fadas estilo Tim Burton de tão surreal. Era óbvio que estava sendo usada. Ninguém em sã consciência, ainda mais aquela garota linda e perturbada, teria interesse real em mim. O que ela queria era ser normal, ser curada. Que coincidência, não é mesmo? A diferença é que eu não mentiria para quem eu supostamente estava apaixonada.

- Juls, você ouviu tudo o que eu falei?

Eu permanecia muda tentando decifrar o que ela esperava que eu fizesse a seguir. Ela me queria nervosa? Ou talvez uma fraca, que chorasse e soluçasse pela revelação que ela havia confessado naqueles minutos antes? Talvez ela esperasse que eu jogasse o copo de água que estava na mesa suspensa da minha poltrona ou até mesmo que eu mandasse a porcaria do avião aterrissar pois teríamos um assassinato durante o voo. O mais incrível foi que nada do que ela me contou me chocou, tirando o fato da juventude dela ter sido um horror. Eu só queria acabar com aquele momento. Queria saber de tudo e poder seguir com a minha vida.

- Valentina, eu vou te fazer 3 perguntas, ok? – mantive o tom da voz baixo, para que ninguém nos ouvisse. Ela fez que sim com a cabeça e mordia os lábios cheia de nervosismo.

- Primeira pergunta: seu pai estava atrás de mim desde quando?

Eu estava mais que blasé, quase sem emoção, o que deve ter a incomodado. Não saberia nem expressar alguma naquele momento. Apenas aguardava arqueando a minha sobrancelha e de leve trincando os dentes, o que estranhamente ajudou a controlar a minha respiração.

- Ok. As perguntas são diretas e retas. Entendi. – ela respirou profundamente e eu nem pisquei. Esperei que continuasse sua resposta. – Meu pai foi atrás das pesquisas do seu médico desde aquele dia, o dia em que minha mãe...enfim. Você sabe. Nós estávamos em Monterrey naquela época e ele insistiu que viéssemos para a Cidade do México, pois era aqui que estava a minha suposta cura. Você. Ele passou muito tempo pesquisando institutos psiquiátricos, porque jurava que você seria como eu, uma paciente internada sendo estudada por uma equipe de cientistas louco. Ele só foi descobrir que você tinha uma vida normal, que frequentava a escola depois de conseguir subornar a secretaria do seu médico, o Dr, Mateo.

Primeira resposta mostrando que o ser humano realmente é precioso. O que as pessoas não fazem por um dinheiro, não é? Secretária vendendo informação de paciente. Fim dos tempos.

- Nesse período, ele tinha acabado de entrar de sócio no Centro Ernst Pöppel, que eu viria a descobrir, usou todo o dinheiro de bens da minha mãe que meu pai teve que investir para entrar nessa empreitada. Por isso que fomos viver em uma casa humilde, o que eu não entendia quando chegamos aqui.

- Valentina...

- Eu odeio quando você fala o meu nome inteiro.

- Você quer o que? Que eu te chame de Val, de linda, de meu amor?

- O último é ainda o meu maior sonho. – ela suspirava e eu fique com mais raiva da situação, por que eu também só quis fazer isso durante um bom tempo. Eu só queria encontra-la pra chamar de meu amor. Bufei de raiva e vontade.

- Valentina...sim, Valentina, sem nomezinhos fofos, vamos a segunda pergunta. Por que você demorou tanto pra me contar a verdade? Você teve tantas chances...

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora