Déjà Vu

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Demorei, mas estou de volta.

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As mulheres são criadas a base de finais felizes de contos de fadas. Às vezes até impostas a acreditar que um príncipe as salvará de todos os perigos que existem lá fora. Mas o mundo real nos surpreende. Para um final feliz não há magia, não há milagres, não há facilidades. Confesso que no meu caso, teve sim o amor à primeira vista, mas nem ele sozinho poderia salvar um relacionamento. Parceria, compreensão, admiração e paixão. Esses são os ingredientes para um final feliz ter uma real chance de acontecer. Ah, e também paciência e leveza quando a pessoa que não tem tanto talento na cozinha tenta cozinhar pra você, mas acaba queimando tudo. Mas veja bem, teve um dia que eu fui surpreendida.

Eu acordei naquela cama enorme e confortável, dentro de um quarto com decoração moderna, mas simples, quase minimalista. Plantas por todos os lados, a coberta da cama era cinza, muito aconchegante e eu não queria levantar de lá. Mas sentia um cheio delicioso que me deu fome. Ia me erguer na cama quando ela entrou no quarto. Vestindo apenas um blusão preto surrado com a gola caindo por um dos ombros e uma calcinha preta, pequena, que me deixava ver muita coisa de seu corpo. Ela vinha com uma bandeja na mão, que até onde eu conseguia ver tinha suco, torrada e flores em um jarro.

- Buen día, mi amor.

- Val? O que é isso tudo? –

- Café na cama, minha linda. Já que é sua comida favorita, fiz ovos mexidos, torrada com abacate e ricota e um café fresquinho. Senta pra comer comigo?

De repente, senti meu corpo ser jogado em uma visão do passado, onde eu estava deitada em uma cama de hospital, com aparelhos diversos ligados ao meu corpo enquanto um bip frenético me deixava louca. Era a visão. Eu estava vivendo a visão que eu tive quando Valentina me deixou no hospital depois da nossa primeira noite. Como isso podia estar acontecendo? Eu sentia os aromas e as texturas dos objetos assim como senti naquele momento. Nossa ligação era estranha, disso não tínhamos dúvidas. Mas aquilo nunca havia me acontecido.

Aquele lugar onde me encontrava no presente era o apartamento de Val, na Cidade do México. Ele era a cara da minha namorada. Sim, minha namorada. Já estávamos juntas, de verdade, vivendo essa relação, há 11 meses. Depois do casamento do meu primo e daquela noite inesquecível no hotel, ela me pediu em namoro, eu fiz um charme falando que não sabia se era realmente a hora, mas cedi na brincadeira pois ela ameaçou fazer um grande gesto, me pedindo em namoro em megafones pela cidade. Aceitei para que isso não acontecesse e também porque a amo demais. Fiz chame para valorizar meu corpinho. Ela me deu uma bronca, o que é a coisa mais constante em nossas vidas e assim aqui estamos, namorando há quase 1 ano.

Quando fui a primeira vez naquele apartamento, fiquei confusa. Ela havia me convidado para conhecer sua vida, mas ela conseguia manter aquele estilo de vida eu ainda não tinha ideia.

- Val, isso aqui é lindo! Mas...

- Já sei a sua pergunta: como eu consigo pagar esse apartamento fofíssimo, em um bairro bom, sem tem um trabalho aparentemente, acertei?

Chegava a ser chato ela me conhecer tão bem, se não fosse tão fofo e não me desse tanta vontade de pular em cima dela. Dei um sorriso leve e fiz que sim com a cabeça, aguardando a explicação. Mais uma das várias que ela me daria a vida inteira.

- Então, para entrar com a ação contra o meu pai e o instituto, procurei uma advogado maravilhoso, pois eu fui sincera e disse que não tinha dinheiro para pagá-lo, afinal de contas, eu tinha 19 anos e não tinha um centavo no bolso. Ele concordou em pegar a causa, que ele já havida dado como ganha, se ficasse com uma porcentagem. Eu não me importei, pois não queria dinheiro na realidade, queria apenas aquele lugar fechado para sempre. – ela andava pra lá e pra cá pela sala, enquanto eu prestava atenção em tudo que saía de sua boca. Aquela boca linda e carnuda que eu tanto amava. Ô, Juliana. Presta atenção. Deixa o tesão pra depois.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora