Tremor

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Chovia. Ainda eram gotas pequenas que caiam para molhar os gramados e deixar o clima mais ameno. O céu estava parcialmente nublado, encoberto assim como meus pensamentos nos últimos dias. Depois daquele momento em que nos separamos no vestiário, depois da comemoração irracional e egoísta de certas garotas, Valentina não havia aparecido mais. Já se passavam 6 dias, quase uma semana sem vê-la, sem encará-la, sem sentir aquele cheiro e ver aquele sorriso.

Não posso dizer que aquela distância foi de todo ruim. Não no sentido dos ânimos se acalmarem. Eu precisava pensar, Nayeli precisava ficar quieta e nos deixar em paz por algum tempo e convenhamos, eu estava no terceiro ano do colégio. Precisava estudar para ter alguma chance de fazer algo com a minha vida, que já era difícil o suficiente.

Eu até tentei estudar, me dedicar como nunca, esquecer que tinha conhecido a pessoa mais incrível da minha vida e apenas tentar entender a física, aquela maldição que era das matérias em que eu sempre ficava por um fio. Confesso que às vezes pensar em Val no meio dos outros assuntos, me dava aquela calmaria que só ela conseguia me dar. Nem acreditei no dia em que percebi que até lia com mais facilidade. Aquela garota realmente era a benção em forma de tornado.

Mas como toda chuva tinha um momento mais intenso e podia se tornar uma tormenta, às quatro e vinte e dois da tarde daquela quarta-feira, uma mensagem chegaria ao meu celular trazendo uma enchente de emoções.

Val: Quanto tempo?

Li. Reli. E fiquei ali parada sem saber sobre o que Valentina estava se referindo. Acho que demorei uns quinze minutos para mandar uma resposta, já que eu escrevia e apagava seguidamente as palavras que apareciam na tela do aparelho. Depois de quebrar a cabeça, resolvi mandar a coisa mais óbvia.

Juls: Como assim quanto tempo, Val?

Silêncio por alguns minutos mais. Eu já apreensiva achando que ela não responderia mais, já que me pareceu uma mensagem grossa e sem interesse. Parabéns Juliana. Pode ter de vez espantado a sua musa. A mensagem poderia ser meio fria, mas mal sabia ela que eu não parava de tremer e andar pelo meu quarto a espera da bomba que poderia vir, que logo em seguida, chegou.

Val: Quanto tempo você precisa ficar sozinha?

Boom... Bateu a lembrança do que eu tinha falado naquele momento de exaustão no vestiário. Ela pediu para que eu me afastasse por conta de uma ameaça e eu nunca pedi uma explicação, nunca lutei para mantê-la ao meu lado. Ela, com medo, se afastou. Óbvio que se afastaria. Juliana, você é muito doida mesmo. A sua amiga, musa dos seus sonhos, a única pessoa que queria ficar ao seu lado se afastou por que você foi fraca. Você não precisa de tempo. Você precisa dela.

Juls: O que preciso é de você.

Logo em seguida marcamos de nos ver, fora da escola. Mas não seria um encontro, seria? Na hora não pensei nisso. Ai, meu deus. Calma, Juliana. É só um café para vocês conversarem sem que ninguém as atrapalhe. O problema era que eu nunca tinha saído com ninguém antes e eu não saberia se era um encontro nem que a pessoa viesse me encontrar com um buquê de flores. Não era um encontro. Definitivamente éramos apenas duas pessoas que se gostavam, que compartilham interesses parecidos, que gostam de passar tempo juntas, que precisam esclarecer algumas questões, dar explicações sobre assuntos delicados, que já se beijaram intensamente e que não conseguem ficar uma sem a outra. É... não era um encontro.

Cheguei ao café às exatas seis e dezenove da tarde. Eu, por conta dos meus inesquecíveis atrasos homéricos sai de casa as cinco e quarenta, sendo que o café ficava a 15 minutos da porta da minha casa. Esqueci que com ela na minha vida eu conseguia chegar a tempo nos meus compromissos. Havíamos combinado às seis e meia da tarde, então por uma gracinha do cosmos eu estava adiantada.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora