Espelhos

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Tá sofrido né? Mas estamos nos encaminhando para a finalização de toda essa sofrência.

Fiquem comigo. Vai dar tudo certo...

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Até que ponto nós vamos para salvar alguém? E até que ponto nós vamos para nos salvarmos? O amor ao próximo é maior que o nosso amor próprio? Descobri que tudo é relativo e não há amor incondicional depois de tudo que vivi com Valentina. Nosso tempo foi curto, mas com a intensidade de um furacão destruidor. Uma hora eu vivia só, sem ninguém que me compreendesse ou mesmo se interessasse em compreender. No outro, ela estava lá. Em todos os meus momentos. Desde a hora que acordava até o fechar dos olhos, embarcando nos meus sonhos e me fazendo sentir uma felicidade que nunca havia sentido.

Eu não posso afirmar com todas as letras que o que eu a fazia sentir era igual, mas depois daquela entrega de corpo, mente, alma que tivemos, eu acreditei que poderia ser real. Que enfrentaríamos juntas qualquer tipo de ameaça.

Minha vontade sentada dentro daquele carro ouvindo sua história, era de fugir e ao mesmo tempo de nunca deixa-la sozinha, pois sua juventude foi o suficiente para que ela pensasse que não era apta a sentir o que era o amor.

- Juls, não quero que você sinta pena de mim. O que aconteceu passou e eu não posso mudar.

Depois que ela contou que seu pai não a tratava mais como filha, a história só piorava. Seus 4 anos seguintes foram de pura solidão e muito tratamento. Passou a residir em uma clínica psiquiátrica, com tratamento regular com calmantes e reguladores de emoções. Seu pai acompanhava sessões, que algumas vezes envolveram eletrodos grudados à cabeça e algumas, mais drásticas, eletrochoque. Eu permanecia muda, a ouvindo e observando suas reações enquanto me contava as atrocidades que viveu.

- Meu pai me visitava, mas não havia afeto. O que eu era pra ele era um problema que ele queria resolver. E eu acreditei, no auge da minha solidão, que se eu ficasse boa, ele me amaria de novo.

- Mas e sua mãe? O que ele contou que aconteceu com ela?

- Meu pai mentiu para a polícia. Disse que ela tinha escorregado e batido a cabeça e que eu não estava em casa no momento em que aconteceu. Ele mesmo quase foi preso, já que por conta do meu empurrão na minha mãe, ela tinha uma marca em seu peito. – novamente ela baixava a cabeça e eu temia que ela fosse para o seu mundinho devastado. Tentei puxa-la para continuarmos a explicação.

- Val, tudo o que você está me contando é muito forte, mas a primeira coisa que eu quero que você saiba é: você não está sozinha.

-Juls...

- Não Val, presta atenção... – a interrompi e respirei fundo para agora falar para a mulher na minha frente que eu era diferente. Nossas histórias não eram iguais, nossas vivencias de amor até aquele momento eram opostas. Tive todo o apoio que precisei para me adaptar a minha condição. Já ela, foi levada ao limite do seu corpo por aqueles que deviam protege-la.

- Eu também não tenho sido sincera com você. Então quero que você me ouça antes de voltar a me contar o que você quer contar, ok?! – ela balançou a cabeça que sim e prestou atenção no que veio a seguir.

- Val, sei que desde que te conheci os meus atrasos e apelidinhos de Lerdeza, dodoizinha e outros foram motivos de risadas nossas, né? Eu sei que você tentou diminuir a dor do bullyng diário que eu sofria. E eu só tenho que te agradecer por isso. Ninguém nunca tinha feito isso por mim. Mas a realidade é que não eram atrasos comuns. A coisa é mais profunda que isso. – Eu falava bem rápido, como se quisesse tirar isso do meu peito de uma vez, colocar pra fora e esperar que ela me olhasse com aqueles olhos lindos e falasse que ficaríamos bem. – Valentina, eu tenho uma condição corpo-temporal também. E acredito que possa ser o seu oposto. – a respiração dela era audível de tão intensa que era. A minha devia estar nula, pois eu nem respirava entre as frases. Nem parecia que havia um osso lento em meu corpo. Ela poderia achar até que eu estava mentindo e fosse o The Flash.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora