O amor não é perfeito, mas ele vale a pena. Desistir não é uma opção.
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Eu sempre soube que Valentina era uma em um milhão. Ela é única, uma flor que floresce no inverno, uma estrela que brilha mais forte num céu estrelado. Ela tem um coração puro, uma alma que absorve todo o mal do mundo para que ninguém mais tenha que sofrer. Mesmo com tudo que passou, ela sempre quis ajudar os outros, nada iria impedi-la, nem mesmo uma doença bizarra que a deixava ainda mais única.
Val tentava manter sua rotina, acordando e queimando minhas torradas, mesmo eu insistindo que não era necessário, até porque era bom de vez em quando não comer pão carbonizado. Ela gostava de ir ao centro ver como estavam os pacientes e como seus tratamentos estavam caminhando, mesmo eu dando todas as informações que ela necessitava. Mas ela me ignorava e ignorava também suas dores, sua fraqueza e indicações médicas.
Não posso dizer que havia alguma boa notícia quanto ao seu tratamento. Eu buscava incessantemente nos bancos de sangue do país alguma esperança enquanto aguardava respostas de inúmeros pedidos que fiz pelo mundo. Cheguei a me comunicar com pessoas da Tailândia que mal falavam outra língua senão o tailandês. Eu não iria parar de procurar uma solução e Val sabia disso. Desde a descoberta dessa condição ainda mais estranha da minha namorada, fomos informadas que o procedimento não era tão comum, então muitas vezes faltava equipamento e profissionais para que o teste de compatibilidade fosse finalizado. Mesmo assim, tive a ideia de reunir conhecidos, familiares, amigos, amigos de amigos, inimigos dos amigos, todos que pudessem doar sangue para fazermos um de cada vez o teste e quem sabe acharmos um doador mais próximo do que pensávamos. Dinheiro não iria nos impedir. Bom, a falta dele de repente iria, pois estávamos pagando tudo do nosso bolso. Descobrimos que os procedimentos ficavam ligeiramente mais baratos se pudessem ser feitos em até 5 dias. Conversamos, eu e Val, e chegamos a conclusão que poderíamos esperar esse tempo. Alguns dias a mais não pareciam ter tanta diferença assim.
Minha mãe e seu namorado, agora noivo, Panchito foram os primeiros a doarem seus líquidos vermelhos para serem analisados, seriam seguidos por mim, meu primo, Rosa, meus tios e tias. Eu e Valentina não éramos muito populares, o que não nos ajudava quando tínhamos que reunir uma quantidade grande de conhecidos. Quase ligamos pro Lucho, tamanho era o nosso desespero.
- Juls, vem deitar comigo! – Val gritava do quarto enquanto eu me encontrava na sala, sentada em frente ao computador, como em muitas das nossas noites mais recentes.
- Estou indo, meu amor. – respondi da sala, entrando em contato com o o banco de sangue de Oklahoma, nos Estados Unidos, que pelo que parece era referência. Aguardava uma resposta para saber se tinham registros novos ou se poderiam nos dar alguma outra opção para o caso da mulher que eu amava. Como já era tarde, me levantei para ir deitar.
- Oi, amor. Cheguei. Você tá quentinha?
- Tô sim. Tô um pouco enjoada. Acho que é o remédio que médico indicou.
- Pode ser. Ele disse que é algo pra combater as toxinas do seu corpo, e deve ter efeito colateral, porque é meio que uma bomba pro seu corpinho, né?
- Vem aqui cuidar de mim, então? – como lutar contra esse pedido? Ela fazia um biquinho lindo e eu me derretia na hora. Entrei embaixo das cobertas e me aconcheguei no travesseiro. Como todas as noites, Val colocava sua cabeça em meu ombro e seu nariz em meu pescoço, como um filhotinho querendo proteção.
- Você promete que vai estar aqui quando eu acordar? – ela perguntava todos os dias antes de dormir. Descobri que ela morria de medo que eu fosse embora, que eu não desse conta desse castigo, como ela chamava. Mal sabia ela, que esse era o castigo pelo qual eu viveria.
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O que ficou pra trás
FanfictionSabe quando a gente acha que tá pronto pra seguir em frente? Que o que passou ficou no passado e não nos afeta mais? Que quem um dia foi importante, hoje é apenas a sombra de uma antiga realidade? Então, esquece. Quando o tempo não importa, passado...