O envelope

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Capítulo fofo só pra mostrar que eu estou viva...

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Pra quem tinha problema em ver o tempo passar, em aproveitar todos os segundos que faziam a vida ser uma história, a cada dia que passava, eu percebia o quanto a minha antiga condição era totalmente ligada à aquela mulher que agora dormia e acordava sempre ao meu lado. Ainda é difícil explicar o que acontece, mas consigo perceber em meu corpo o que ela me proporciona. Nunca havia sentido tanta paz e tanta vontade de viver de fato. Não que antes eu pensava em não viver, em tirar a minha vida. Eu só não sabia o que era isso de verdade. Agora, depois de alguns meses de terapia pós traumas diversos, nos sentíamos nós de novo. Fazíamos planos e planejávamos nossa caminhada para o futuro. Tá ai. Futuro. Eu tinha agora um passado, um presente e um futuro. Com ela, eu tinha tudo.

- Sério, meu amor. Às vezes me assusta imaginar para onde você vai quando fica assim olhando pro nada. – ela me trouxe de volta enquanto eu estava com o cotovelo apoiado na mesa da sala, a observando lavar a louça. Como sempre, eu escorregava para o meu inconsciente. Acho que esse era o local agora de escape da minha antiga condição. Eu entrava em um limbo temporal onde eu achava que estava a apenas alguns segundos estática, mas que na verdade, eram minutos em puro silêncio e com olhar perdido.

- Desculpe, Val. Estava só pensando. – eu disse envergonhada e já esperando uma risada e virada de olho daquela deusa lavadora de panelas.

- Eu sei, minha linda. Dessa vez era em que? E não me fale que em mim, porque não cola mais. – ela afirmou com olhar de safada enxugando um prato.

- Você sabe que é em você. Que que adianta eu negar? – falei me levantando e caminhando até a cozinha, para abraça-la, envolvendo meus braços nas suas costas e apoiando minhas mãos em seu abdômen reto. Nos balançávamos lentamente, enquanto eu beijava seus ombros. Era um domingo, começo de tarde. Tínhamos tomado café da manhã, o qual eu preparei e ela se ofereceu para lavar a louça. Nossa rotina havia voltado ao normal e por incrível que pareça não passávamos há um bom tempo por nenhum episódio esquisito, de vida ou morte nem mesmo pesadelos intensos. A vida parecia simples e quase perfeita. Quase porque nada é perfeito, a não ser a minha linda noiva.

Em falar em noiva, minha mãe, dona Lupe, nos cobrava diariamente uma festa com cerimônia. Eu insistia em falar que seria algo simples e que não demoraria a acontecer, mas ela era um capeta quando encasquetava com uma ideia.

- Juli, podemos fazer na casa da sua tia, no interior.

- Mama, não queremos algo grande. Você sabe o motivo.

- Mas, Juli, Valentina é da nossa família já. Ambas são muito amadas.

- Mãe, por favor, já debatemos isso. Sei que Val é querida por todos. Quer dizer, quase todos. Tem o tio Cristiano, que já sabemos que é contra o casamento.

- Ai, mi hija. Ele é um preconceituoso tosco, mas que que podemos fazer? É família.

- Mas é isso que não queremos, mama. Não queremos nenhuma energia negativa no nosso casamento. Já passamos por tanta coisa. Só queremos amor. Então, por favor, não insista. – eu já levantava o tom de voz, o que fez Lupita apenas balançar a cabeça e não retrucar mais.

Esse assunto ia e voltava nas nossas conversas diárias, mas eu e Val não fechávamos o que realmente iríamos fazer. Em um momento, queríamos viajar para o mato, cercadas do verde mais verde que já existiu. Em outro, pensávamos em dizer sim olhando para o mar, com o azul mais vasto que já chegamos perto. Eu confesso que não sabia o motivo de ainda não termos fechado, mas a sentia em dúvida então eu não forçava fechar nenhum plano. Finalmente estávamos tendo um debate normal, algo totalmente simples que não tinha por trás uma possível internação, cirurgia, morte de uma das duas. E isso, convenhamos, era novo para nós duas, que passamos grande parte da nossa vida sem a chamada normalidade.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora