Nosso tempo

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Eu to falando que é pra ter esperança de um final feliz, né?

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O ser humano tem cerca de 70 mil pensamentos por dia, o que da 3 mil pensamentos por hora e 50 pensamentos por minuto. Isso é a contagem de um ser humano qualquer. Se fossem fazer um estudo comigo naquele momento, sentada naquele voo, com aquela mulher ao meu lado, aquele momento em particular, depois de ouvir tudo o que eu ouvi, daria com certeza o triplo desse resultado. Eu estava a mil e isso não era comum para a minha pessoa, como já sabemos.

Ela tinha uma pergunta. E por incrível que pareça não quis saber o que eu tinha achado dela ser cobaia, dela ter me deixado, dos meus anos seguintes sem a sua presença, sobre como eu estava. Ela só queria saber se poderia me amar. Eu, que só me deixara ser amada por ela. E olhando pra dentro da minha alma, ela sabia disso. Ela sabia que ninguém tinha alcançado o nível de encantamento que ela possuía em mim. Como poderia? Ninguém era ela. Apenas Valentina seria Valentina para mim.

E agora eu me via naquela situação. Como e o quê responder àquela pergunta sabendo de tudo que aconteceu? Se eu respondesse que sim, eu teria que esquecer ou deixar pra trás toda a dor que ela me causou, todos os anos que eu tive que me forçar a tentar entender o que havia entre nós, o que eu tive que superar por voltar a ser apenas eu, a Juliana doentinha da cabeça, pois me martirizava ao pensar nela, me achando uma idiota por acreditar que ela sentia a mesma coisa que eu. Se eu respondesse que sim, teria que baixar a minha guarda, aprender a ser cuidada novamente, aprender a não desconfiar, me entregar ao desconhecido, a um sentimento tão forte que poderia me matar da próxima vez. Teria que aprender a lidar com o passado dela, com todas as perdas, com todo o sofrimento, pois tudo tem consequência e eu seria parte da vida em cacos que ela poderia ter pra sempre. Eu queria isso? Eu queria ser essa pessoa? Será que eu não ficaria a salvo sozinha, mais segura tendo somente eu para cuidar? Se eu me deixasse levar por aqueles olhos azuis com índigo, eu poderia colocar tudo que sou a perder. Eu queria isso? Será que eu queria aquelas mãos longas acariciando a minha pele todos os dias, aquela voz me embalando para os melhores sonhos que poderia ter, aquele cheiro doce de prazer que ela emanava? Será que eu deveria fugir daquela boca carnuda, daquele sorriso malicioso que me envolve desde à primeira vista? Eu deveria fugir de Valentina? Continuar fugindo da realidade que era indiscutível: que eu a amava com todo o meu ser? E que eu faria de tudo para que ela pudesse superar o que viveu? Eu sofreria por ela, eu me perderia por ela. Era isso. Eu não poderia mais fingir, escapar ou tentar ignorar. Eu a queria. Por inteiro. Só pra mim.

Esses pensamentos demoraram provavelmente alguns segundos na minha mente e eu com certeza tinha aquele olhar perdido para o nada enquanto analisava todas as possibilidades da minha vida com ou sem Valentina.

- Juls, acho que foi muita coisa de uma só vez. Estou com medo de você ter algo. Respira. Não precisa responder agora... – Ela disse se afastando de mim, chegando mais para a janela.

Antes que ela pudesse continuar eu a segurei com força, fazendo com que ela se virasse por completo pra mim, mesmo com seu cinto afivelado, o que não era muito confortável.

- Val, eu preciso que você entenda o que eu vou te dizer. Por favor, não me interrompa se não eu não vou conseguir falar o que eu preciso, ok? – Os olhos daquela mulher encheram de lágrimas, prevendo uma fala que ela não suportaria. – Val, desde que te vi sabia que a nossa história não seria normal. Nada do que aconteceu desde a primeira vez em que olhei pra dentro dos seus olhos, foi completamente feliz. Tivemos momentos, em meio a todo o nosso caos, de alegria e de paz. Mas vamos aceitar que foram poucos com tudo que nos cercou. – ela fez que sim com a cabeça e mordeu seus lábios para controlar a vontade de falar.

O que ficou pra trásOnde histórias criam vida. Descubra agora