A beleza de amar por inteiro é saber que esse inteiro aumenta a cada dia. Não temos limite para amar e não devemos ter. Se entregue, sempre...não tenha medo!
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A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.Fernando Pessoa
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Para àqueles que nunca encontraram um motivo para viver, a morte pode significar um alívio, uma forma de escapar daquilo que nos absorve todos os dias, de uma força que nos faz acordar e adormecer e que parece um looping calculado pelos piores carrascos. Eu poderia ser uma dessas pessoas, que vagavam pelo mundo dos vivos apenas para cumprir um protocolo de existência, essa que nunca alcançaria metade de um pequeno propósito. Eu, na realidade, já fui um ser desses, vagante e sem motivo, até que ela apareceu. Com apenas uma troca de olhares, eu sabia qual era a minha missão terrena. Era ela.
Nunca entendi como aquela Deusa Afrodite de longas pernas, sorriso largo, covinhas sensíveis, lábios cheios e um mar nos olhos poderia pensar em retribuir qualquer adoração sentida por mim. Sempre fui menor, mais insignificante, menos idolatrável. Mas não para ela. Ela nunca me viu como eu era, como essa dispensável pessoa que sou. Todas as vezes que me defendeu, que ficou ao meu lado apesar de sua vida ter tido as maiores dificuldades, de não desistir de mim mesmo parecendo que eu havia desistido de nós. Como essa pessoa poderia existia? Eu ainda me perguntava. Mesmo naquele momento em que eu a via descrente de tudo o que a cercava, pois o que nós consideramos que é a vida poderia ser retirado dela em breve.
O que foi descoberto sobre seu corpo não tem precedentes. A sua história não tem precedentes. Nosso passado era uma peça de ficção e ambas sabíamos disso, mas sempre tentamos ignorar pois tínhamos uma a outra, mesmo quando não estávamos de fato juntas. Nossas mentes sempre estiveram conectadas e isso era o que nos mantinha sãs e otimistas, coisa que eu tentava ficar depois de 3 semanas daquele episódio no hospital. Há 3 semanas eu não dormia, não comia direito e não sabia como e o que falar com a minha namorada. Há 3 semanas, não tinha o que ser dito ou feito, além de buscar uma solução para salvar a mulher que eu amava.
- Juli, por que você não está com Valentina? Eu adoro quando você me visitar, mas tem sido constante.
- Está tudo bem. Só precisava sair um pouco e aproveitei pra vir te ver. Não gostou da visita?
- Eu amo suas visitas, mas eu sei que não é só por saudade que está aqui. – minha mãe, dona Lupe, me conhecia como ninguém, mas eu continuaria negando, pois se eu fosse me abrir, não teria como fechar a porteira.
- Estou bem..e Valentina vai ficar bem. Vai dar tudo certo. Só queria te ver.
- Hija...
- Mãe, por favor. – eu tentava não encará-la, para que ela não visse a dor estampada em meu rosto.
- Você não me parece estar dormindo bem. Quer tirar um cochilo?
- Aceito, mãe. Vou tentar dar uma esticada no sofá. – disse me dirigindo a sala. Tentaria fechar meus olhos por alguns minutos, o que eu já sabia que seria uma missão complicada.
Me joguei naquele móvel antiquíssimo que minha mãe fez questão de manter quando se mudou pro novo apartamento, para a minha infelicidade, já que ele tinha um buraco imenso no meio do assento. Mas minha mãe dizia que era um item histórico, que era patrimônio já que foi o primeiro móvel bom que ela comprou quando começou a ganhar um salário. Essa era a dona Lupe. Cheia de mandingas e manias.
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O que ficou pra trás
FanfictionSabe quando a gente acha que tá pronto pra seguir em frente? Que o que passou ficou no passado e não nos afeta mais? Que quem um dia foi importante, hoje é apenas a sombra de uma antiga realidade? Então, esquece. Quando o tempo não importa, passado...