Semana corrida. Desculpem a demora. Tentarei ser mais rápida nas atualizações.. sorry.
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Minha infância foi bem simples. Não havia muitos recursos muito menos farturas. Mas nunca faltou carinho, amor e compreensão. Éramos só nós duas, eu e Lupita, minha incansável mãe. Ela sempre estava atrás de emprego, de bicos para somar a renda da casa, pois um serviço só não pagava o suficiente para que ela terminasse seus próprios estudos, para que eu fosse pro colégio e ainda por cima, meus médicos constantes. Me sentia muito culpada por isso. Ameacei muitas vezes largar os estudos para poder ajuda-la em casa, mas ela nunca aceitou essa oferta. Queria que eu terminasse meus estudos e tivesse uma carreira em algo que eu gostasse. Eu sabia que por conta da minha condição doida teria que aceitar o que viesse pra mim em termos de trabalho, pois seria uma funcionaria complicada de se manter.
Meu pai? Minha mãe não falava muito sobre ele. O que eu sabia era: ele nos deixou quando eu era pequena para seguir uma vida de contravenção, pois aplicava golpe em pequenas empresas além de outros "servicinhos", como minha mãe descrevia. O que ganhava, gastava.
Minha mãe o conheceu muito nova e foi aquele tipo de paixão enlouquecedora. Mas logo ficou grávida e ele, como um adolescente, não conseguiu ser o homem maduro que necessitava ser. Meus avós não aceitaram muito bem a gravidez da minha mãe e fizeram da vida dela um inferno, até que ela saiu de casa, comigo ainda na barriga. Sorte dela que tinha uma irmã mais velha, que a ajudou até que eu tivesse 2 anos, que foi quando mudamos de cidade para tentar uma outra vida, sem depender de favores.
No dia em que eu fiz 10 anos de idade, minha mãe me sentou no sofá para conversar. Ela tinha um envelope na mão e me olhava com olhos tensos. Estava nervosa para me contar alguma coisa. Logo eu saberia que o assunto era meu pai.
- Mi hija, esse envelope é uma carta do seu pai. Eu ainda não a abri, pois ela é pra você. Há um mês ele me ligou. Não foi uma conversa muito boa, mas ele me pediu pra saber de você. – eu estava muito confusa, mas ao mesmo tempo curiosa para saber o que aquele homem, que eu não conhecia, gostaria de saber sobre mim. Eu não sabia nada sobre ele e nem sabia se queria. Estávamos bem só eu e minha mãe. Quer dizer, eu estava indo, mas eu via que minha mãe se desdobrava para tentar me dar uma vida decente e acompanhamento para a minha cabeça, sendo que Dr. Mateo não me parecia um médico barato.
- Você quer abrir a carta? – Perguntou Lupe, com olhos ligeiramente mareados.
Eu a fiquei olhando e tentei decifrar se ela queria que eu abrisse ou se ela queria que eu rasgasse aquela carta naquele momento e nunca mais falasse sobre meu pai. Mas como toda criança, não me contive. Peguei a carta e a abri.
Dentro havia uma boa quantidade de dinheiro e um bilhete:
Juliana,
Sei que não mereço seu perdão por ter abandonado você e sua mãe, mas gostaria que você soubesse que penso em vocês. Conversei um pouco com ela, que me contou que as coisas as vezes não são fáceis por ai. Então quero ajudar de alguma forma. Espero que esse dinheiro ajude a pagar o seu médico e dê para vocês saírem para se divertirem no seu aniversário.
Não sei onde estarei daqui um tempo, mas tentarei sempre te dar alguma ajuda. Desculpe não ter sido o pai que você merecia, mas agradeça todos os dias por você ter a melhor mãe do mundo.
Um feliz aniversário e fique bem.
Seu pai.
Naquele dia, decidi que não iria procura-lo. Eu não precisava dele. O dinheiro dei para minha mãe e pedi para que ela usasse para pagar meu médico e o que sobresse, que ela usasse para comprar algo para ela, pois realmente, eu tinha a melhor mãe do mundo.
Quando Dr. Mateo me contou aquele ocorrido depois de sua palestra, minha cabeça deu um nó. Por que alguém ficaria tão consternado com a minha história? A não ser que...Não poderia ser meu pai, poderia? Ele não gostava tanto de mim a esse ponto, gostava? Será que minha mãe guardava algum segredo que eu não sabia? Será que meu pai queria me ajudar mesmo? Sei que em alguns momentos ele mandou dinheiro, que eu sempre falei para a minha mãe que eu não queria, que ela usasse ele para o que fosse necessário para ela. Mas até onde eu sei, nos mudamos no ano seguinte daquela carta que eu recebi no meu aniversário de 10 anos e o dinheiro nunca mais apareceu.
Me lembro de sair do consultório aquele dia pensando fixamente no meu pai, de quem eu só tinha uma foto de quando era muito novo com a minha mãe, então provavelmente se ele passasse por mim na rua, eu não saberia quem ele era. E foi ai que percebi: eu caminhava pela rua se rumo, estava escuro, eu tinha perdido meu ônibus, estava atrasada para o jantar e não me dei conta do tão tarde que era. Voltara a ser em pouco tempo a Juliana atrasada da infância, por um simples motivo. A havia esquecido e não pensava nela há pelo menos 4 horas, mantendo minha mente ocupada com outras preocupações. Não olhava nos seus olhos desde aquela manhã e já eram 9 da noite. Valentina era de verdade o meu remédio e eu estava precisando ser medicada.
Depois de avisar a minha mãe que estava atrasada – grande novidade – mandei uma mensagem para Val, falando que precisava conversar com ela. Entrei no ônibus, depois de 10 minutos esperando no ponto, o que foi um tempo ok para a minha pessoa, vi que ela ainda não havia visualizado minha mensagem. Tudo bem, pensei, quando eu chegar em casa ela vai ter respondido.
Saltei do ônibus e caminhei 5 minutos até a entrada da minha casa e foi quando reparei que havia uma pessoa sentada na escada de entrada do meu prédio. De cabeça baixa, mãos segurando o rosto escolhida num canto, estava o ser mais lindo do mundo. Fui chegando mais perto, abrindo um sorriso, querendo gritar que eu estava pensando nela, mas ela deve ter ouvido meus passos e levantou o rosto. Foi ai que eu senti uma pontada no peito. Ela estava chorando, muito. Soluços fortes, que passavam apenas dor. Eu ainda não sabia se era apenas emocional ou física.
Eu senti meu rosto se transformar e meu sorriso sumir imediatamente, ao mesmo tempo em que apertei o passo, quase correndo para segura-la. Ela se levantou e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, abri meus braços e deixei ela cair neles. A segurei, firme enquanto sentia seu coração acelerado, lágrimas sendo debulhadas e seus joelhos cedendo até que nos sentamos nos degraus.
Meu coração estava apertado de tanta angústia, mas eu não sabia o que perguntar pra ela. Apenas queria a fazer se sentir bem. Depois de um bom tempo sem nenhuma das duas falar nada, o seu choro foi diminuindo, ela afastou sua cabecinha que estava encaixada no meu ombro pra me olhar. Eu sequei as lágrimas que ainda restavam em seu rosto, retirei uma mecha daquele lindo cabelo e pus atrás de sua orelha, e com muito carinho e cuidado levantei seu queixo para que ela me olhasse.
- Val, o que aconteceu? Não sei o que fazer. Do que você precisa? – falei com um tom baixo, quase um sussurro cheio de preocupação.
- Eu só precisava olhar pra você. – seus olhos fixos nos meus, sua expressão amenizando, como se realmente só o que ela precisava era me ver. Mal sabia ela que eu estava na mesma situação, que só a olhando eu tinha calma e paz. Mas como falar isso sem parecer uma maluca, não é mesmo? Eu segurava suas mãos enquanto tentava manter meus olhos nos seus, mas as vezes me perdia e baixava o olhar pra aquela boca deliciosa, que me deixava de pernas bambas.
- Eu estou aqui agora, Val. O que mais posso fazer por você?
- Me beija.
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Uiá...
Quero ver Juliana lidar com tudo isso, gente? Muita coisa pra acontecer ainda.
Segura firme, Juls. Sua vida é e continuará uma loucura.
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O que ficou pra trás
FanfictionSabe quando a gente acha que tá pronto pra seguir em frente? Que o que passou ficou no passado e não nos afeta mais? Que quem um dia foi importante, hoje é apenas a sombra de uma antiga realidade? Então, esquece. Quando o tempo não importa, passado...