CAPÍTULO 4
<<Nathalie>>
No dia seguinte, acordei, como de costume, às 5h40, preparei o cereal com iogurte que como todas as manhãs. Coloquei Ted para fora, para ele esticar as patas um pouco e comecei minha sessão matinal de alongamento.
Minha professora de pilates aconselha sempre o alongamento matinal para estimular o corpo, oxigenar o cérebro e como terapia mesmo porque nos livra do stress.
"O pilates é uma maneira de você e seu corpo entrarem em equilíbrio. Isso faz com que você se sinta mais disposta. Além do mais, o controle da respiração é uma forma de meditar."- Ana Paula não se cansa de repetir em todas as aulas.
Depois tomei banho, fiz uma maquiagem leve para passar o dia, coloquei um conjunto de saia e paletó cinza de linho com uma blusa de seda branca por baixo. Um sapato preto de salto anabela confortável e sóbrio, assim como a roupa; e alguns acessórios, como brinco, pulseira, relógio e anéis. Tudo muito discreto porque não gosto de parecer uma árvore de natal cheia de penduricalhos. A blusa era de decote alto como todas as que uso, para não ser vulgar e não ficar com os seios à mostra.
Como de costume, às 6h50 o jornaleiro passava e jogava o jornal. Como ainda faltava uns minutos, liguei o radio para escutar uma música. Estava tocando SUICIDE BLONDE do INXS, quando escutei umas batidas bem firmes na porta.
"Nathalie Bustamante, abra! Polícia Federal!" - disse uma voz firme
"Como? Polícia?" - perguntei incrédula enquanto andava quase que maquinalmente em direção a porta.
"Abra!" - repetiu a voz.
"Bom di..."
Não consegui terminar nem de dar o meu bom dia. Um grupo de policiais foi invadindo a casa. Um deles me segurou, juntou minhas mãos, me algemou e disse que eu estava presa para averiguações.
"Como assim? O que está acontecendo? O que eu fiz? Ou melhor, o que inventaram que eu fiz?" - disparei nervosamente as perguntas.
"A senhora terá tempo de se lembrar, dona Nathalie." - respondeu secamente o Policial Federal que parecia comandar a operação, enquanto ordenava aos outros - "Vasculhem tudo. Laptops, celulares, blocos de anotações, tudo!"
"Espera aí, vocês tem um mandato para entrar aqui e fazer isso?" - perguntei sem saber se estava apavorada ou indignada.
"Senhora, por favor, para seu próprio bem, mantenha-se quieta. Não complique mais ainda as coisas para o seu lado!" - ordenou.
"Complicar? Eu nem sei do que estamos tratando... Tem certeza que é a mim que estão procurando?" - dessa vez perguntei apavorada.
A resposta a minha pergunta começou com uma sonora gargalhada.
"Tão inocentes! Sempre injustiçados. Engraçado que na hora de mandar dinheiro para contas no exterior e superfaturar obras se sentem os maiorais!"
O choque daquela gargalhada e daquela fala debochada só não foram maiores do que perceber que eu estava sendo filmada por um dos policiais da equipe.
"O que é isso? Por que ele está filmando, me filmando?"
"Sorria, senhora. Aproveite seus minutos de fama!" - falou seguido de outra gargalhada - "Amanhã esse vídeo terá milhões de acessos após ser exibido nos telejornais de hoje!"
Pesadelo? Não, muito pior...
Inferno? Não, acho que deve ser menos pior que isso...
Não dá. Simplesmente não dá para descrever a situação...
Eu estava apenas escutando música e no minuto seguinte minha casa foi invadida, eu estava algemada, minhas coisas todas sendo reviradas e eu sendo ridicularizada. Tentei falar mais, protestar que eu era inocente. Foi pior.
"Escuta aqui, senhora, já falei para ficar quieta e não se complicar" - falou novamente o policial enquanto fazia um gesto para o filmador ir para o outro lado da sala.
Nisso, ele aproveitou que eu estava algemada, me encostou na parede e novamente com sua gargalhada sarcástica, falou ao meu ouvido enquanto passava suas mãos nojentas em mim:
"Se não cooperar, as coisas podem ficar bem complicadas para você. Isso aqui é quase um sítio, você está sozinha e eu tenho certeza de que a rapaziada adoraria comer uma potranca arredia como você!" - falou isso passando a língua em meu pescoço.
Nojo, medo, revolta, impotência, tudo isso passou por meu cérebro. Uma lágrima teimou em escapar de meus olhos desmesuradamente arregalados. E como para que eu tivesse certeza de que ele não estava brincando, ele me virou num solavanco só, e eu fiquei com o rosto encostado na parede como uma criminosa qualquer. Enquanto isso, ele passava as mãos em mim, me apalpando.
"Vamos ver se a suspeita está armada!" - gargalhou mais uma vez.
Dessa vez ele não apenas ameaçou. Ele afastou minhas pernas com a força do seu corpo, levantou minha saia e enfiou sua mão no meio das minhas pernas e ficou me tocando.
"Que pena, ela não estava escondendo nada..." - fingiu resmungar enquanto me jogava no chão.
Nem sei por quanto tempo fiquei ali caída de cara no chão, corpo dobrado sobre os joelhos, sem poder me recompor por causa das algemas e chorando de ódio, medo, angústia, frustração, vergonha e tudo mais que se pode sentir quando é torpemente violentada desse jeito. Ainda mais porque esse senhor era um policial que, teoricamente, teria que me proteger.
A revista terminou. Levaram muitos pertences meus, papéis, celulares e nem sei mais o quê. O tal comandante da operação me levantou e antes de começar a me conduzir para o carro, falou no meu ouvido.
"Vou tirar essas algemas e nem pense em denunciar-me porque se disser uma palavra sobre isso aqui, eu vou até onde você estiver e te mostro que um homem com fome pode devorar uma mulher até ela querer pedir para morrer. Entendeu?"
Fiquei muda. Mas, ele sorriu entendendo que eu havia recebido o recado. Fui conduzida para a parte de trás de um carro preto com a identificação da polícia federal.
No caminho, não percebi nenhuma das paisagens que sempre gostei de apreciar. Minha mente estava longe tentando se refugiar... Hora no tempo de criança, quando eu era inocente e feliz, depois lembrei dos meus dois únicos namorados e que só um deles tinha me tocado. E, assim mesmo, o Ronie era respeitoso, não me tratava assim na cama. Depois as mãos, a voz, a gargalhada desse homem...
Estava tão arrasada em meus pensamentos que nem reparei que havíamos saído de Campinas e que já estávamos chegando à capital paulista.
No prédio da Polícia Federal percebi que tinha mais gente sendo trazida também. Vi até um senhor que costumava prestar serviços pessoais para o Jorge Lancaster.
"Coitado, deve estar tão perdido como eu." - pensei.
Todos fomos conduzidos para locais diferentes. E agora estou aqui nessa sala...
E o pior é que não posso me comunicar com ninguém. Tenho apenas que esperar meu advogado. Aliás, esse é um outro problema que preciso resolver. Mas, como?
Sempre me utilizei da equipe jurídica da Sillman para resolver meus problemas. Mas, como posso pedir a alguém da Sillman agora? E se a acusação tiver alguma coisa a ver com a Construtora? Preciso pensar.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do girar da maçaneta da porta.
É, gente, o dia para a Nathalie não começou nada fácil...
O que será que vem por aí? Será que o inferno que ela está vivendo vai piorar ou ela vai conseguir uma solução com a pessoa que girou a maçaneta da porta interrompendo seus pensamentos?
Descubra essas e outras respostas no próximo capítulo.
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Beijos
Lizzy

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Canta Pra Mim
RomanceNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...