CAPITULO 2
<<Nathalie>>
A Construtora Sillman foi fundada em 1953. Stênio tinha apenas 22 anos e já era engenheiro formado quando começou a arregimentar um grupo de pedreiros e mestres de obras e passou a correr pelas pequenas cidades dos arredores da capital paulista em busca de novas frentes de trabalho. De início, eram obras simples, como construção de muros, telhados, algumas vezes eram ampliações de casas e assim foi fazendo o nome da empresa. Seu diferencial? Fazer a obra com a Sillman era garantia de trabalho bem feito, rápido, sem complicações e pagamento facilitado. Stênio havia firmado parceria com algumas fornecedoras de ferragens, cimentos e afins e recebia as encomendas diretamente das fábricas e mais barato porque pagava sempre à vista. Por isso, podia cobrar pelo material da obra o mesmo que a pessoa gastaria se fosse ela própria até a loja comprar. E naquela época não havia crédito fácil e era muito complicado arrumar quem parcelasse a compra de material para as construções pequenas, como um muro. Mas, bastava a pessoa contratar a Sillman, assinar o contrato e umas promissórias e seu material e obra estavam garantidos e parcelados.
Os anos passaram e, em 1958, a Sillman já estava consolidada como a Construtora das famílias paulistas. O sonho de ter uma casa é possível e a Sillman faz o sonho virar realidade para você! Esse era o lema da Sillman afixado em todo local onde houvesse um canteiro de obras, por menor que fosse.
Por essa época, o Brasil consagrava-se, na Suécia, campeão mundial de futebol. E, para a felicidade de Stênio, que era torcedor do Santos, o menino Pelé, de apenas 17 anos estava representando seu time na seleção brasileira. Essa felicidade era maior ainda porque pouco tempo depois, em outubro de 1958 nascia Geanete, sua filha com a amada esposa Jacquie.
Stênio e Jacqueline Orlandini se conheceram enquanto ainda faziam o colegial. Eram muito amigos e de pronto suas famílias perceberam a troca de olhares e o compromisso entre eles foi firmado. Jacquie, como ele carinhosamente a chamava, fez escola normal e ao terminar lecionava para crianças num grupo escolar perto de sua casa, em Campinas, interior de São Paulo. O casamento só aconteceu em 1957 quando a Sillman já estava mais consolidada e quase um ano depois vinha ao mundo a linda Geanete, de olhos verdes e cabelos vermelhos como a mãe e sorriso largo e maxilar quadrado, como o pai.
Mas, em janeiro de 1963 o sonho de felicidade em família de Stênio foi brutalmente interrompido. Jacquie contraiu tuberculose. Não adiantaram os cuidados dispensados, nem mesmo uma mudança de ares. Jacquie foi internada em uma clínica em Campos do Jordão. Stênio quase se mudou para lá com Geanete, mas a doença evoluiu muito rápido e em 27 de janeiro Jacquie partiu deixando Stênio perdido, desolado e preocupado com o futuro de Geanete, que ainda iria completar cinco anos de idade.
Nesse ínterim, Rosalinda surgiu como um apelo às preces de Stênio. Mãe de família, sabia como cuidar de uma casa, de uma criança e não era uma desmiolada tentando caçar um marido, como as várias mulheres que cruzavam o caminho de Stênio desde que ele se tornara o ricasso viúvo.
Geanete foi crescendo e sendo mimada pelo pai. Enquanto Rosalinda ensinava a menina a ser dócil, paciente, educada e amorosa, Stênio fazia todas as suas vontades tentando suprir com caprichos a ausência da mãe e a sua própria, já que passava a maior parte do dia na empresa.
Geanete conheceu Greg quando estava no último ano de escola, aos 17 anos, numa das várias idas à Sillman para pedir seus mimos ao pai. Seu olhar cruzou direto com o daquele moreno de cabelos compridos, olhos cor de mel, maxilar alongado, sorriso envolvente e meio hippie. Apesar de usar o uniforme da Sillman e manter os longos cabelos cacheados presos, Gregório Lancaster deixava transparecer em seu riso e seu porte a inconfundível maneira livre de encarar a vida de quem já saiu da adolescência, pois já tinha 21 anos, mas que não se deixara viver de vez no mundo sério dos adultos. Geanete amou aquele jeito de ser desde o primeiro dia, porque apesar de ter tudo o que queria, não se sentia livre, sempre tão cercada de cuidados por seu pai.
O namoro começou escondido nesse mesmo ano de 1975. No ano seguinte, se tornou oficial, mesmo a contra gosto de Stênio e quando completou sua maioridade, ela e Greg casaram. Foi como se uma espada cruzasse o peito de Stênio. Sua única filha estava casando com um homem que preferia continuar trabalhando como mestre de obras do que se encastelar em um escritório. Esse era o grande problema de Stênio, seu genro não queria se render aos moldes de uma família bem sucedida que ele tanto queria manter!
A relação entre pai e filha se tornou muito distante, apesar de Geanete e Greg estarem morando com Stênio. É que os jantares em família eram raros. Na maioria das vezes o casal ia para junto de uma comunidade alternativa onde todos cantavam, conversavam e viajavam com o consumo de drogas.
Depois de um tempo, Geanete descobriu que estava grávida. Seguindo os conselhos de Rosalinda, suas visitas à comunidade foram trocadas por repouso, alimentação regrada e abstinência de drogas, o que não foi fácil, mas que ela fez por amor ao bebê. Greg não gostou, mas respeitou a escolha de sua amada, apenas não se sentiu preso por isso. Continuou com a rotina de trabalho, comunidade e drogas, mesmo morando na mansão e voltando todas as noites para casa. Sua relação com Geanete nunca mais foi a mesma depois da gravidez, mas nunca pensaram em se separar, talvez porque o relacionamento morno que estavam tendo fosse confortável para ambos e também porque Greg gostava de seu filho, apesar de serem tão distantes.
Quem adorou a situação foi Stênio, que cuidou de perto da educação do neto Jorge. Com a Sillman reconhecida como líder de mercado, Stênio já podia se dar ao luxo de dividir a administração da empresa com seus diretores, enquanto ele também cuidava de Jorge.
O menino cresceu com a visão passada por Stênio de que seu pai era um preguiçoso desmiolado, apesar das intervenções de Geanete que sempre lembrava ao filho que, apesar de tudo, Greg continuava trabalhando na Sillman. Apesar disso, ela não se intrometeu nessa relação, nem na educação de Jorge porque, no fundo, sentia que faltava mais responsabilidade ao seu marido. E Greg, que presava sua liberdade, achou mais fácil deixar o filho aos cuidados da mãe e do avô.
Jorge é um cara alto, de um metro e oitenta e cinco, talvez. Tem cabelos castanhos claros grossos e pesados, que ele sempre tenta domar cortando baixinho, o que nem sempre consegue. Olhos verdes como os da mãe e rosto comprido e afinado, como o do pai, assim como o seu nariz. Parece um pouco com o Jim Carey, o máscara, aquele ator americano. Tem um sorriso meio torto para o lado esquerdo, o que o deixa com um ar de deboche quando sorri. Gosta de se vestir impecavelmente e anda com ar daqueles seres superiores que acham que são o único espécime perfeito da criação.
Engraçado eu pensar nisso! Jorge e eu divergimos não só em pontos de vista, mas em jeito também. Tenho olhos castanhos escuros, cabelo castanho escuro liso, cortado channel na altura do ombro e muito cheio. Uso óculos de armação preta e sempre acho que estou acima do peso para os meus um metro e sessenta e oito. Quanto ao sorriso, não costumo sorrir muito porque uso aparelho nos dentes. Acho que a única semelhança é que também gosto de me vestir com roupas sóbrias como ternos e taillers. Pelo menos alguma coisa em comum!
Bem, não devo ter um visual muito ruim porque dona Geanete sempre elogia minhas roupas.
"A Sillman é muito bem representada por você. Sua sobriedade mostra de cara aos clientes que presamos pelo profissionalismo." - ela me disse certa vez.
"Sei, mamãe. A Sillman é representada por mim que sou seu presidente." - retrucou imediatamente Jorge naquele dia.
"Por favor, não briguem por minha causa. Não quero nada além de realizar meu trabalho corretamente." - respondi tentando apaziguar os ânimos. Afinal, eu não precisava também de que Jorge sentisse ciúmes de sua mãe comigo para ser mais uma divergência entre nós!
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Espero que estejam gostando de conhecer um pouco da Nathalie e da história da empresa onde ela trabalha.
Continuem acompanhando e descubram os rumos tomados pelas personagens!
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Beijos
Lizzy Arim
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Canta Pra Mim
RomansaNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...