Capítulo 34

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CAPÍTULO 34

<<Nathalie>>

Jorge, naquele momento, se mostrava tão indefeso quanto eu nunca imaginei que ele pudesse ser. Eu estava mergulhada nesse pensamento quando percebi que ele tremia. Inacreditável! Jorge estava chorando copiosamente em meu colo. Fiquei tão pasma com aquilo que não tive nenhuma reação imediata.

Quando me dei conta de meus atos, eu estava cobrindo seu corpo com o último dos cobertores e fazendo cafuné nele. Estava profundamente mexida por aquela demonstração de fraqueza humana. E ele, murmurou:

"Me perdoe por isso, Dani! - murmurou segurando uma de minhas mãos.

"Shiiiii... Descanse, apenas descanse!" - ordenei e num ato impensado dei um beijo em sua cabeça.

Aquele meu gesto parece tê-lo serenado. Seu choro foi diminuindo e, em pouco tempo Jorge estava dormindo. Parecia um menino indefeso. Aquele Jorge arrogante e prepotente que eu conhecia não se assemelhava em nada a esse homem completamente entregue em meu colo. O que será que poderia ter acontecido com ele hoje para que ficasse assim? Douglas falou que Jorge sumiu durante o dia todo... Alguma coisa de errado aconteceu, mas o quê?

Minhas perguntas não ficaram sem resposta. Passaram alguns minutos e meu celular vibrou. Por sorte Jorge não acordou e pude ler o recado de Douglas:

"Freitas foi assassinado hj a tarde. A arma que matou Gregório Lancaster estava com ele."

Fiquei pasma. Um pânico ainda maior tomou conta de mim. Jorge havia matado Freitas também! Apaguei rapidamente a mensagem. Eu não sabia mais o que pensar. Esse cara indefeso que dormia no meu colo era o Jorge arrogante da Sillman, o causador da minha desgraça e um assassino? E o que iria acontecer agora? O que será que ele faria quando acordasse. Se eu já achava que corria perigo, agora eu tinha certeza, ainda mais porque eu não tinha a menor ideia do que esperar dele daqui para a frente.

Será que Jorge estava tendo crise de consciência? Ele matou o Freitas hoje a tarde e queria fugir do mundo ao meu lado? Será que ele queria apenas se sentir seguro por um tempo e depois me mataria para não deixar rastro?

Eu não tinha resposta para meus questionamentos. Na verdade, eu não tinha nem resposta para o que eu estava sentindo porque, dessa vez, não era nojo. Então, o que era?

Recostei na pedra mais firmemente, ajeitei o cobertor que me cobria e o de Jorge e continuei ali, sentada ao ar livre fazendo cafuné e cuidando do causador da minha desgraça.

Não sei quanto tempo passamos assim. Sei que ainda era noite e eu não tinha pregado o olho.

"Cuidado para não tomar a Amortentia, sabe tudo!" - advertiu meu rabugento subconsciente.

De jeito nenhum! Dessa vez meu subconsciente enlouqueceu! Amortentia é a poção do amor do Harry Potter. Poção do Amor... Impossível! Eu não podia estar pensando nisso! Vítima que se apaixona por algoz é síndrome de Estocolmo! Não, isso é loucura! Não mesmo! Ou, será? Meu Deus, será que eu havia me apaixonado pelo meu executor? Será que eu era tão burra assim?

Eu estava perdida nesse caldeirão de pensamentos e sentimentos quando Jorge começou a se mexer e levantou. Coçou a cabeça parecendo sem graça e falou:

"Dani, me perdoe! Eu... Eu..." - respirou fundo e continuou - "Eu não sei por onde começar, mas eu quero te contar... Eu preciso te contar... Eu preciso conversar com alguém..."

"Claro! Mas, por quê eu?" - perguntei tentando encorajá-lo quando senti que ele ia desistir.

"Porque eu quero... eu preciso abrir... eu preciso desabafar com alguém. Eu não conheço ninguém em que eu possa confiar..."

Canta Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora