Capítulo 10

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CAPÍTULO 10

<<Narrador>>

Nelson tentou se mexer. Todo o seu corpo doía. Os olhos estavam nublados e um líquido quente escorria num filete fino de sua cabeça. Passou a mão no líquido e percebeu que era sangue. A estrada estava deserta. Já era noite, mas, estranhamente não havia movimento naquela hora. Olhou para o carro e viu os pneus da range rover estourados. Decidiu pedir ajuda e ligou de seu celular para os bombeiros e para a polícia. Levantou ainda cambaleando e sentou no interior do carro a espera do resgate.

Os bombeiros chegaram logo e, em seguida, a viatura da polícia.

"Descreva toda a ação!" - determinou o policial depois que Nelson foi medicado e fizeram um curativo em sua cabeça.

"Bem, eu estava conduzindo minha cliente de São Paulo para sua casa em Campinas. Estava tudo bem até que achei que estávamos sendo seguidos. Comecei a alternar a velocidade para ver o que o tal carro fazia e percebi que ele fazia o mesmo. Achei melhor não dizer nada a Nathalie para não assustá-la..."

A explicação de Nelson foi interrompida pelo policial.

"Nathalie? A empresária que roubou milhões de obras do governo?"

"Na verdade, ela é empregada de uma construtora que tem alguns convênios com o governo estadual, mas ela não é culpada do que a estão acusando." - respondeu Nelson de forma hábil para que não pairasse nenhuma dúvida.

"Então foi uma fuga armada! Com certeza a essa hora ela está saindo do país!" - exclamou o policial.

"Não. Ela foi amarrada e sequestrada. Eu vi quando a levaram a força!" - protestou Nelson.

"E, por quê a levaram?" - perguntou o policial sarcásticamente.

"Descobrir isso é trabalho da polícia, não meu! Fui vítima, podia ter capotado o carro ou ter sido atropelado aqui enquanto estava desmaiado." - ponderou Nelson.

"Esse risco você não corria. Fecharam a estrada com cones de sinalização como se estivesse em obras e transferiram para outro trajeto o trânsito daqui desse trecho." - afirmou o policial.

"Por isso a estrada está vazia..." - concluiu Nelson pensativo.

"Ei, Andrade! Dá uma olhada aqui!" - chamou o outro policial.

"Tem uns panfletos aqui de propaganda de um grupo anarquista que se diz defensores do povo. Tem um envelope ao lado!"

"Não toque em nada. Vamos chamar os peritos!" - determinou o policial que conversava com Nelson.

Quando a perícia chegou, Nelson relatou todos os acontecimentos novamente, fez a reconstituição detalhada da cena e, depois, foi conduzido à delegacia para fazer a ocorrência e ao IML para exame de corpo de delito. Sua range rover foi rebocada para uma oficina autorizada e ele voltou para sua casa, em São Paulo, de táxi.

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<<Nathalie>>

Assim que o Santana partiu, colocaram uma fita em minha boca para que eu parasse de gritar. Percorremos um bom trecho de uma estrada secundária em silêncio. Eu podia sentir a tensão no ar. Apesar do meu medo, aprendi nessas últimas horas que precisaria estar atenta a tudo para conseguir fugir e, por isso, pude avaliar que eles estavam tensos pelas suas respirações pesadas.

De repente, o caminho se tornou mais estreito, como se fosse uma estrada de fazenda. Nesse momento, eles começaram a gritar.

"U-hu, conseguimos!"

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