Canta Pra Mim

Capítulo 3

CAPITULO 3

<<Nathalie>>

Fácil para mim pensar na vida e lembrar de toda a história da família Sillman que dona Geanete me contou durante as várias visitas que sempre faz à empresa. Não tenho nada para fazer mesmo. Estou aqui trancada em uma sala da Polícia Federal na capital paulista. Não é uma sala muito grande, deve ter uns nove metros quadrados. Ao centro uma mesa com duas cadeiras de costas para um grande espelho retangular e do outro lado da mesa uma única cadeira onde me colocaram. A iluminação é baixa, mais diretamente voltada para o lugar onde me encontro. O espelho parece ser daquele tipo que a gente vê nos filmes, onde do outro lado ficam nos observando. Se o negócio não fosse tão sério, eu até daria um tchauzinho para o espelho. Ah, eu e minha mania de querer sempre tirar o lado bom de tudo! Isso não é filme, é vida real, minha vida real... Que por sinal está um caos agora!

A porta fica no canto direito da sala, ao lado do grande espelho. É de madeira escura, combinando com a cor ocre das paredes. O piso é escuro também, mas não consigo ver direito do quê é. Parece taco, mas sei que não é. Deve ser alguma imitação em cerâmica.

Com certeza hoje serei notícia nos jornais de TV como a diretora de empresa que foi presa ao amanhecer na OPERAÇÃO CASTELO DE AREIA, acusada de evasão de divisas e associação com obras superfaturadas do governo paulista. Eu?! Eu que sempre presei pela honestidade e pelo cumprimento das leis, aqui presa! É uma coisa surreal... Parece que estou vendo a vida de outra pessoa, não a minha...

Ainda não consigo acreditar!

Ontem foi um dia duro de trabalho. Depois de ler vários relatórios fiscais e analisar gráficos e planilhas com orçamentos, possíveis remodelações de ambientes ou trocas de materiais, fui para uma reunião com a diretoria. Apresentei as configurações para nosso mais recente empreendimento, um resort no coração do Brasil, em Bonito. Um lugar ideal para se unir turismo, consciência ecológica, diversão e descanso em um ambiente completamente fora dos padrões das grandes metrópoles. A obra foi encomendada por um grupo espanhol que tem já alguns empreendimentos hoteleiros no Rio e na Bahia, mas eles querem agora partir para um novo conceito de turismo. O resort será uma mistura de hotel, spa e centro de estudos ecológicos que poderá, entre outras coisas, abrigar pesquisadores em trabalho porque disporá de laboratórios modernos e bem equipados. Os materiais, a equipe de trabalho e as planilhas de custo foram aprovadas, como sempre, logo de primeira, por todos. Até Jorge Lancaster, sempre reticente com meus projetos aprovou sem nenhum porém, o que foi uma novidade que me deixou muito feliz.

"Querida Nathalie, você se superou! Essa obra é nosso projeto mais importante na atualidade. Seus planos serão um sucesso e lançarão a Sillman no mercado internacional!" - Jorge falou com seu sorriso de canto de rosto.

"É, Jorge, pelo menos dessa vez você concordou comigo." - respondi mais animada que de costume.

"Nathalie, eu já disse mil vezes, você é a melhor no ramo. Precisa apenas ter mais olhos de águia. Seus projetos são, na maioria das vezes, bons, mas a sua visão um tanto quanto sonhadora acaba atrapalhando um pouco na execução."

"Ah, tá bom, Jorge, vou entender tudo isso como um elogio." - Falei enquanto com o braço fazia um gesto pedindo licença para que ele abrisse espaço e eu pudesse andar e voltar para minha sala. Era quase 17h30 horas e eu ainda pretendia assistir à aula de pilates das 18 horas.

Corri para minha sala. Uma das quatro salas de diretoria situadas no último andar da Sillman. É uma sala grande, retangular, medindo vinte metros quadrados. A parede externa é toda de vidro para captar bem a luz do sol. Aliás, todo o prédio da empresa é baseado em economia sustentável, iluminação solar e captação da água da chuva. Além disso, no terraço há uma área verde onde são plantados alguns legumes e hortaliças que são usados para fazer a comida dos empregados. Mas, voltando à minha sala, ela é ampla, arejada e bem simples. Possui uma mesa de madeira na cor mogno, com os cantos redondos, dando-lhe um formato oval, que fica de frente para a porta. Há duas cadeiras de couro uma em cada lado da mesa, uma para mim e outra para o cliente. A parede de vidro fica a esquerda dessa mesa. Bem em frente à janela tem um sofá em couro marfim combinando com o acolchoamento das cadeiras em minha mesa. Sobre a mesa, sempre repleta de papeis, um notebook e alguns pertences meus para o dia a dia. O mais pessoal na sala é um porta retrato com fotos dos meus sobrinhos, são cinco ao total. Não gosto muito de misturar trabalho com vida pessoal.

"Meus sobrinhos, ai que saudade de vocês!" - resmungo como se eles pudessem me ouvir agora.

Na minha sala, no canto, encostada na parede de vidro, tem uma mesa com uma impressora multifuncional e um armário de papéis, como se fosse um criado mudo. Essa mesa armário também é de madeira na cor mogno. Do outro lado da sala, uma pequena mesa com pés de ferro preto de design bem moderno e tampão em granito cinza, onde fica uma cafeteira dessas modernas que basta apertar o botão e o café sai e uns potes de biscoito. Ao lado, um frigobar. Essa parte da sala é mais usada quando recebo meus clientes porque não sou de consumir muito sucos, refrigerantes ou biscoitos, por causa da eterna guerra com a balança. Só o café que é um vício, mas evito fazer para não acabar bebendo. Por isso, café só quando tem clientes! Fora isso, água mesmo. Consumo muita água! Na parede que fica a direita da mesa tem uma TV de 50 polegadas que uso para ter informações atualizadas nos canais de notícia e que serve também como monitor quando eu e algum cliente ou diretor precisamos fazer vídeo conferências com nossos canteiros de obras.

Depois da reunião com a diretoria e Jorge Lancaster, entrei em minha sala, guardei as pastas da reunião na gaveta, passei a chave, desliguei o notebook, peguei minha mala com as roupas do pilates, que fica em baixo da mesa e fui direto para o banheiro feminino do meu andar trocar de roupa.

Tudo estava bem silencioso porque a maioria dos funcionários já tinha saído. Só dava mesmo para ouvir que Jorge estava conversando com alguém, provavelmente um homem, mas não dava para distinguir direito porque estavam falando baixo. Também a última coisa que eu queria era encontrar com Jorge ou qualquer outra pessoa e ter que bancar a educada e parar para conversar! Deus me livre de perder a aula de pilates! Esse é um dos poucos prazeres ao qual me dou ao luxo. Fora isso, sempre trabalho muito.

Desci para a garagem, peguei meu carro, um Idea prata, e fui para a academia. Até que não é longe da Sillman, mas acabo indo de carro porque o caminho para casa é muito deserto e perigoso, já que moro um pouco afastada da cidade.

Depois do pilates, fui para casa, tomei um bom banho, coloquei meu pijaminha rosa da Marie, a gata do desenho, dei ração para Ted, meu gato, bati meu shake diet e fui tomar assistindo ao jornal. Gosto de assistir ao jornal para estar sempre atualizada. Depois assisti à novela para poder me ligar na vida das personagens e ter um pouquinho de emoção, já que a minha é muito monótona.

"Monótona? Vai pensando, Nathalie... Olha onde você veio parar?! Não queria ação? Aqui está!" - acaba de me reprovar meu subconsciente com aquele ar de professor Snape do Harry Potter.

Depois da novela, peguei o celular, fui navegar pelo meu perfil no facebook, bati um papo com uma colega de escola que está morando em Bruxelas, a Zelia, e depois fui dormir.

Um dia como outro qualquer. Eu só não imaginava que o pesadelo começaria quando eu acordasse!

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É queridos, as coisas não estão nada fáceis para a Nathalie! E me parece que ainda vão piorar mais...

Não percam! Fiquem ligados! Estarei postando mais um capítulo na sexta feira. Pretendo fazer as postagens sempre às segundas, quartas e sextas.

Obrigada pelo carinho e atenção em cada capítulo. E não se esqueçam de clicar na estrelinha e me dar mais um voto caso esteja gostando da história.

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Beijos

Lizzy