Capítulo 35
<<Nathalie>>
Tomei um choque ao ouvir aquelas palavras. Ele percebeu e segurou o meu queixo me fazendo olhar para ele e continuou:
"Eu matei o meu pai, é do que estão me acusando. Mas, eu não o fiz. Eu e meu pai sempre tivemos uma relação difícil. Ele era um homem trabalhador, mas minha mãe e meu avô achavam que sua ânsia por liberdade era vagabundagem. Do mesmo modo que tentaram impedir meu gosto pela música quando eu era adolescente..." - falou com o olhar distante e sofrido - "Eu não podia ser músico porque um homem de verdade tinha que se preparar para prosseguir o empreendimento da família..."
Conforme ele foi falando, meu pânico foi diminuindo e, percebendo que eu não ia fugir, ele foi deitando sua cabeça em meu colo. Parece que ele se sentia seguro assim. Para encorajá-lo a prosseguir comecei a fazer-lhe um cafuné. E ele prosseguiu.
"Seguindo o que queriam mamãe e vovô, me dediquei aos estudos e aos negócios da família e me tornei o presidente da Construtora do meu avô. E, cada vez mais distante do meu pai. Ele era mestre de obras na Construtora, não quis um cargo nos escritórios. Ele já trabalhava lá antes de casar com minha mãe..."
Ele respirou fundo, deu um beijo em minha coxa e continuou:
"Um dia, precisei resolver uma coisa em um canteiro de obras e cheguei sem avisar na hora do almoço. Meu pai estava sentado com os pedreiros e ajudantes. Todos comiam quentinhas, riam brincavam e meu pai estava muito feliz. Quando acabou de comer, pegou um violão e começou a tocar. Você tem noção de que até ali eu nunca soube que meu pai tocava violão? E ele cantava também!" - falou procurando meus olhos.
"Jorge, você quer descansar?" - perguntei completamente tocada pela sua fraqueza.
"Não, Dani. Se você puder me ouvir, eu preciso continuar. Preciso desabafar tudo isso que está guardado dentro de mim." - falou decidido - "Naquele dia eu percebi que eu era muito distante do meu pai. Talvez mesmo sem saber eu tivesse escolhido meu avô e minha mãe em detrimento do meu pai... Mas, como a escolha já havia sido feita, só me cabia seguir em frente. Meu pai nunca soube da minha presença naquele dia..."
"Por quê não? Ambos amavam a música!" - questionei.
"Tem escolhas que a gente faz e não pode mais voltar atrás. Você sabe o que é isso, Dani?"
Eu sabia exatamente do que ele estava falando. A escolha de fazê-lo se entregar já tinha sido feita por mim. Mesmo tendo a certeza, naquele momento, que eu estava irremediavelmente apaixonada por ele, minha escolha já tinha sido feita: Jorge Lancaster teria que se acusar e me dar minha vida de volta. Ao pensar nisso, meus olhos encheram-se de lágrimas. E ele, certamente pensando que era por ele, continuou:
"E fui seguindo minha vida de empresário. Pelo menos eu agradava ao meu avô e minha mãe e isso estava bom. Mas aí uma sujeitinha sem sal e aguada foi aparecendo com seu trabalho na empresa e meu avô começou a protegê-la..."
Ao ouvi-lo fazer menção a mim, me remexi e tirei sua cabeça de meu colo. Jorge sentiu que algo estava estranho e me encarou. Falei para disfarçar:
"E você ficou interessado na sujeitinha!" - falei fingindo uma crise de ciúmes.
"Não. Nunca! Nunca me apaixonei por ninguém... Até hoje, pelo menos..." - Jorge levantou, me tomou em seus braços e começou a me beijar, dessa vez desesperadamente, como se quisesse provar que só eu importava.
Eu queria sua confissão, mas eu também precisava ansiosamente estar nos braços daquele homem. Eu sabia que muito em breve seguiríamos rumos opostos, mas eu precisava gravar em minha pele e em meu olfato aquele seu cheiro. Eu precisava que cada um dos seus beijos, dos seus toques e suas carícias mapeassem meu corpo. Eu não poderia ter Jorge para sempre, mas mesmo que ele tivesse tentado me matar isso já não importava mais... Minha razão sucumbiu ao meu coração. Eu iria amá-lo para sempre. Esse vulcão de sentimentos desencontrados só fez com que eu me entregasse ainda mais aos seus toques possessivos. Fizemos amor ainda mais intensamente do que antes. Dessa vez, me desfiz de todas as minhas armaduras e me aninhei em seus braços e tive o sono mais tranquilo das últimas semanas.
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Canta Pra Mim
RomanceNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...