CAPÍTULO 14
<<Narrador>>
Na Sillman, logo pela manhã, o expediente começou tenso. Todos estavam consternados, mesmo os que ontem falavam mal de Nathalie em grupo. Uma coisa era descobrir que alguém do seu convívio era metida com falcatruas, outra coisa era saber que esse alguém havia sido barbaramente assassinado por um grupo de justiceiros.
Edvânia não conseguia se conter. Entrou em crise de choro quando ficou sabendo da notícia logo que entrou no hall da construtora.
"Nããão! A Nathalie, não! Ela não faria mal a ninguém! Por quê? Por quê fizeram uma crueldade dessas?" - gritava em meio às lágrimas.
"Tem é que pegar uns caras que fizeram um negócio desses e matar à paulada!" - vociferou um rapaz.
"Gente, calma!" - falou Marcos tentando desacalorar os ânimos.
"Calma? O senhor pede calma porque não está se importando com o que aconteceu mesmo!" - devolveu a pobre Edvânia.
"Claro que eu me importo, mas entrar em desespero não vai trazê-la de volta!" - falou com respiração alterada.
Amaral que estava ao seu lado, de olhos marejados, falou quase ao seu ouvido.
"Mas você, Marcos, não se importava mesmo, foi o primeiro a dizer que os advogados da Sillman não poderiam defendê-la."
"Olha Amaral, eu... Ah, não tenho que ficar me defendendo!" - falou dando de ombros enquanto ia para seu escritório.
O falatório no hall continuava muito alto. Foi quando Jorge Lancaster chegou e, mais uma vez, dispersou a todos.
"Escutem aqui! Isso é uma empresa e precisa funcionar. Claro que estamos sentidos! Apesar de ter nos roubado e sujado o nome da Sillman, ela é, quer dizer, era um ser humano e essa morte tão cruel choca. Mas, a vida de todos nós continua. Ao trabalho e sem fofoquinhas pelos corredores! Ah, e senhorita Edvânia, não vou admitir essa cara de choro para atender aos clientes!"
Foi pior, Edvânia chorou ainda mais e alguns colegas a arrastaram para o banheiro com medo dele a demitir.
O clima ficou tenso o dia todo. Mas, com medo de Jorge, todos evitaram o assunto. No final do expediente, Freitas que passou o dia calado, trancado no escritório e apenas atendendo alguns clientes, foi procurar Jorge em seu escritório.
"Tem um tempinho para mim, chefe?"
"Claro! Mas não me venha chorar pela Nathalie também..."
"Não."
"Então, por quê está com essa cara?"
"Você já pensou se esse grupo anarquista resolver executar todos os envolvidos nesse caso?"
"E o que teriam vocês dois a ver com isso?" - perguntou Geanete, que acabara de entrar.
O susto da chegada daquela visitante inesperada fez com que os dois respondessem em uníssono.
"Nada."
"Ah, bem! Acho bom" - enfatizou a mulher - "Filho, preciso falar com você."
"Fiquem a vontade, estou de saída." - falou Freitas um pouco sem graça.
"Estranho esse rapaz. Quem é?" - perguntou Geanete assim que Freitas saiu.
"É o novo diretor. O que assumiu no lugar da Nathalie."
"Ah, tá... Eu vim aqui para falar dessa pobre moça mesmo." - falou enquanto se servia de um uísque. - "Seu avô quer ir ao enterro."
"O quê? Mas ele nem sai mais de casa porque diz que sente cansaço!"
"Mas, insiste..." - continuou Geanete sem se abalar. - "Estive pensando... Se você for para representar a Sillman, ele ficará mais calmo e não se sentirá na obrigação de ir..."
"No enterro dessa corrupta?! Mamãe, até mesmo depois de morta essa mulher vai continuar se colocando entre nós?"
"Meu filho, não é assim, nunca foi assim..."
"Não, nunca!" - esbravejou Jorge em meio à sua crise de ciúmes. - "Primeiro o vovô que a tratava como sua neta. Depois você, que sempre que vinha à Sillman se trancava naquele escritório dela e passava mais tempo lá tricotando do que aqui comigo que sou seu filho!"
"Jorge, você está alterado. Vamos para casa. Conversaremos depois."
"Pode ir para casa você! Vou sair e relaxar um pouco... E, não me espere para conversar!" - falou enquanto pegava sua maleta, as chaves do carro e saía do escritório deixando Geanete ali, parada.
XXXXXXXXXXXXXXX
Jorge sempre foi uma criança mimada. Na adolescência aprontava muito, mas ninguém ficava sabendo porque seu avô e sua mãe passavam panos quentes. Rosalinda, a babá de Geanete e também do filho, bem que tentava ajudar, mas, em vão. Seus filhos, Marcos e Mathias, mais velhos que Jorge, tentavam ajudar dando conselhos, mas ele nunca ouvia a ninguém.
Era um adolescente cheio de aventuras sexuais, mas sem romance. Agora Jorge estava com 37 anos e ainda vivia sozinho. Seus namoros eram casuais, baseados apenas em sexo e, quando as namoradas se tornavam mais incisivas, falavam de casamento, chamavam Stênio de vovô ou Greg e Geanete de sogros, ele dava um fim na relação.
Seu caso de amor mais duradouro é com a música. Há anos atrás, Jorge descobriu na periferia da cidade um galpão alto, lugar pequeno, que a noite sempre tinha Karaokê. Era para lá que ele fugia sempre que estava estressado. Ninguém o conhecia, ele não precisava fingir ser sociável como fazia o dia todo no escritório e, ainda por cima, podia fazer o que gostava, cantar.
Na adolescência, tentou formar uma banda de rock, mas seu avô não deixou porque isso era coisa de vagabundo. Então, ali naquele karaokê, ele fingia que era um astro do rock. E, para sua felicidade, se sentia num show mesmo porque a maioria dos frequentadores cantavam bem também. Só um ou outro que aparecia de vez em quando e cantava mal, mas até isso era bom porque aí ele tinha chance de fazer algo que quase não fazia, rir. Ali Jorge ria de verdade e com gosto.
Rir... Rir para quê? De quê? Sempre quis agradar ao avô. Desistiu de seu grande sonho, a música, só para agradar ao avô. Para quê? Desde que Nathalie apareceu na Construtora ele ficou em segundo plano. E que sacrifícios ela fez para estar ali? Com certeza estar na Sillman não era sacrifício para ela e sim a realização de um sonho. A garota pobre estudou e conseguiu um emprego que a fez mudar de vida. A Sillman não era um sacrifício para ela, era um prêmio. Já para ele, uma obrigação.
Naquela noite, estacionou sua pickup cabine dupla Mitsubish L200 Triton preta na porta do galpão, pegou o cardápio que continha o nome das músicas e seus respectivos códigos, pediu uma cerveja e mandou seu pedido musical. Mais umas três pessoas cantaram e, logo depois, o apresentador chamou:
"J.L., venha que é a sua vez!"
Jorge levantou, pegou o microfone e começou a cantar Vou Deixar do Skank:
"Vou deixar, a vida me levar pra onde ela quiser/ Estou no meu lugar..."
------------------------------
Tudo o que Jorge quer é se livrar do fantasma de Nathalie, mas fica difícil com seu avô e sua mãe insistindo em homenageá-la! Pelo menos ele usa o ditado popular :"quem canta seus males espanta!" Mas, será que cantar vai aliviar a consciência de Jorge?
Não deixe de acompanhar os próximos capítulos!
Agradeço pelos votos e pelos comentários. Continuem me seguindo e clicando na estrelinha para me darem seus votos.
Me adicionem no facebook:
https://www.facebook.com/profile.php?id=100007251019054
Beijos
Lizzy
![](https://img.wattpad.com/cover/23209834-288-k543243.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Canta Pra Mim
RomansaNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...