Capítulo 23

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CAPÍTULO 23

<<Narrador>>

Jorge foi atingido por um raio no exato momento em que voltou do almoço com os sócios do shopping em Sorocaba e ouviu o detetive comunicar à sua mãe sobre a morte de seu pai.

Como assim encontraram seu pai morto? Na véspera, a manhã de Jorge tinha sido um caos. Primeiro a discussão de seus pais, depois a reunião de diretoria com o imbecil do Freitas e para completar, a visita de Nelson. Ele saiu da Sillman na hora do almoço. Sabia que precisava agir, tinha que tomar uma atitude. Foi procurar por Greg.

Seu pai deveria estar trabalhando em uma reforma no terminal de cargas do aeroporto de Viracopos. Não hesitou, pegou a Mitsubish e rumou para o aeroporto.

Quando chegou, encontrou um Greg mais carrancudo do que o habitual, porém menos atento ao trabalho. Acabara de esbarrar em um vergalhão e havia feito um ferimento em sua perna. Jorge o encontrou no container que servia de enfermaria para os trabalhadores.

"Papai, o que houve com sua perna?"

"Nada, meu filho. Nenhum estrago em minha perna pode ser maior do que o que anda cercando sua vida..." - respondeu melancolicamente.

"Papai, o senhor andou bebendo?" - perguntou Jorge espantado, pois Greg levava o trabalho a sério demais para beber em serviço.

"Precisei. Eu tenho que ser duro. Preciso tomar coragem para ir à polícia. Eu sei que sempre fui um pai ausente, mas preciso fazer isso por você. Vai doer em mim também... E, Deus sabe como eu não queria te ver sofrendo, mas não tem jeito... O errado não vira certo só porque quem o faz é alguém que amamos!" - continuava a lamentar-se.

"Papai, o senhor precisa descansar. Depois precisamos conversar." - nesse momento a enfermeira voltou para o container - "Essa bebida e esse ferimento estão te deixando confusos e o senhor já não está falando coisa com coisa."

"Não quero descansar! Preciso só tomar coragem para fazer o que tem que ser feito!" - rebateu Greg.

"Vamos sair daqui, papai. Eu te ajudo. Depois o senhor pensa no que quer fazer."

Jorge falou essa última frase enquanto tentava apoiar seu pai e levá-lo para fora do container. Quando Greg levantou, ficou visível que ele havia bebido mais do que poderia e estava com dificuldades de se manter em pé sozinho, tanto pela bebida quanto pelo ferimento. Por isso Jorge estava quase amassado por seu pai, apesar de não ser baixo. É que Greg, acostumado ao trabalho pesado nos canteiros de obra, apesar da idade, tinha um corpo mais macilento e musculoso que o filho.

Com toda a dificuldade Jorge foi arrastando Greg para sua Mitsubish. E Greg apenas resmungava por não poder andar sozinho. Quando chegaram ao carro, Greg sentou no banco do carona e Jorge afivelou o seu cinto de segurança. Jorge ligou a ignição do carro e falou:

"Vamos, papai! Vou levá-lo para casa. O senhor está precisando de um banho e um café."

"Nem pensar! Para a mansão, não. Não quero. Preciso relaxar. Se quer me levar para algum lugar, me leve para a comunidade. Eu deveria mesmo é ir até a polícia. Mas, nisso você nunca me acompanharia!" - afirmou Greg.

"Mas, papai, deixe de besteira! Claro que não vou leva-lo à polícia! O senhor está confuso com tudo o que está acontecendo. Precisa descansar, quem sabe tirar umas férias..." - Jorge tentou argumentar.

"Não, Jorge. Não tente me dizer que não sei de tudo que está acontecendo porque eu sei. E, meu filho, como eu queria que tudo isso fosse mentira! Como eu queria não te ver metido nessa lama..."

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