Capítulo 24

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CAPÍTULO 24

<<Nathalie>>

Depois de tudo que pesquisei na internet e das informações que Douglas me deu antes do almoço, eu precisava pensar no que fazer. Já tinha agora noção suficiente de que Jorge era um cara mais perigoso do que eu imaginava. Só um monstro para poder matar o próprio pai. Mas, por quê?

Eu sempre soube que, assim como seu avô, Jorge não gostava da ideia de Greg trabalhando nos canteiros de obra. Para eles, um membro da família tinha que manter a pose e a postura aristocrática que ambos cultuavam. Só que Greg era diferente. Amável com todos, simples e sem frescuras. Comia e conversava com os peões de obra e fazia questão de ser tratado como um funcionário qualquer. Nunca se dirigiu ao escritório sem ter sido chamado ou se não fosse um problema muito grave. Respeitava demais a hierarquia na Sillman, jamais se rebelou contra um chefe imediato seu. Todos os engenheiros diziam que era o empregado mais cordial e aplicado que tinham, apesar de isso contrastar com seu jeito hippie de quem leva a vida na flauta.

O que será que aconteceu? Se Greg trabalhasse nos escritórios da Sillman eu até poderia pensar que ele descobriu a sociedade de Jorge com Freitas, mas não era o caso. Será que ele ouviu alguma conversa dos dois lá na mansão? Que Freitas já tinha ido lá armar um escândalo, eu sabia porque o Douglas falou. Mas já fazia tempo. Então, por que Jorge esperou até agora?

Minha cabeça fervilhava.

"Não esquente demais o caldeirão, mocinha, senão a poção não dá certo!" - aconselhou meu rabugento subconsciente, o professor Snape.

Mas, não consegui parar com a ebulição de pensamentos. Será que Jorge seria preso de imediato? O Douglas não podia falar para ninguém que os pneus do carro estavam sujos de lama nem sobre o estado das roupas dele porque quem viu fui eu e morto não fala.

Agora, mais do que nunca teria que continuar com meu plano. Seduzir o Jorge e trazê-lo até o apê e dar um jeito dele abrir o bico. Havia câmeras ali que nem eu sabia onde estavam de tão bem disfarçadas. O Douglas me prometeu que eu veria todas as filmagens e escolheria o que poderia ser mostrado pois eu não gostei muito da ideia de ter o meu dia a dia filmado.

Já eram quase 16 horas e resolvi sair um pouco para fotografar. O pôr do sol na antiga estação ferroviária poderia me dar ótimas fotos, ainda mais que estávamos no outono! Posso não ser uma expert em fotografias de verdade, mas eu sei que a estação do ano em que as cores da natureza são mais marcantes e bonitas aqui nessa região é o outono. Sempre gostei de observar a natureza e aprendi muito com o grupo de trilhas lá da faculdade.

Antes de sair, recebi um SMS de Douglas:

"O substituto é o verdadeiro dono das contas. Bjs."

Não poderia ser... O Freitas? Era isso mesmo? Resolvi arriscar uma pergunta:

"F?"

Ainda bem que depois de anos de convivência havia sintonia entre nós, porque Douglas respondeu:

"O próprio."

Estava tudo muito claro. Jorge e Freitas eram cúmplices no desvio de verbas e, quando perceberam que o escândalo viria à tona, trataram de arrumar uma otária em quem colocaram a culpa. E, fechando com chave de ouro, Freitas ainda de quebra conseguiu ficar no meu cargo de diretoria, como sempre quis.

"Ah, meu Deus, por que eu nunca dei ouvidos ao Amaral? Ele sempre me disse que o Freitas não prestava! E eu que achava que ele era só um puxa saco chato e grudento..." - resmunguei comigo mesma.

"Quem mandou ter sempre esse ar de intragável sabe tudo?" - falou em minha cabeça o rabugento professor Snape.

Resolvi que, mais do que nunca, eu precisava refrescar a cabeça. Ainda mais porque se Jorge era o monstro que me parecia ser, com certeza ele iria ao karaokê hoje. Por isso, era melhor eu ir tirar as fotos na velha estação e preparar-me psicologicamente.

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