CAPÍTULO 19
<<Nathalie>>
Finalmente a esperada segunda feira chegou. Douglas já havia dado um jeito de levar, no domingo, a maior parte dos meus pertences para o apê. Portanto, na segunda feira pela manhã, Dani chegava em sua moto, com um pequeno embrulho de roupas na garupa ao novo apartamento. Era um prédio antigo, na Vila Industrial, bairro próximo ao centro de Campinas. Era um lugar bastante movimentado porque na Vila Industrial fica localizado o terminal Multimodal de Campinas, que é um terminal para ônibus intermunicipais, interestaduais e locais, com previsão de receber a linha do trem de alta velocidade, o TAV, que ligará Campinas a Uberlândia. Conheço os detalhes da Obra porque a Sillman foi responsável por boa parte das obras desse terminal. O TAV, em especial, é um empreendimento muito polêmico porque é de alto custo. Mas, é inegável que o terminal é um dos melhores do país.
O apê fica localizado em um prédio antigo de quatro andares, com seis apartamentos por andar. Não tem garagem e a portaria é um corredor no centro do prédio. A fachada está completamente descuidada. A tinta, que um dia foi bege, hoje se encontra descascada em algumas partes, em outras verde musgo pela umidade e, no geral, muito manchada. O aspecto do prédio é horrível! Paredes manchadas de sujeira por dentro, assim como as escadas de mármore e que hoje já estão tão gastas que as pontas são arredondadas. O único elevador é muito velho, mas funciona.
Bem, o porteiro também não destoa do ambiente. O homem parece ter uns 300 anos! Até meu subconsciente riu da minha cara de pânico ao ver o homem e o prédio.
"Está com medo, mocinha?! Pelo visto o caminho para o Beco Diagonal deve ficar atrás de alguma parede por aqui!" - riu meu subconsciente, o velho professor Snape.
"Bom dia, senhorita! Posso ajudar?" - falou o porteiro sem muito ânimo.
"Bom dia! Meu primo trouxe minha mudança ontem e disse que deixaria a chave aqui." - respondi.
"Ah, Daniele..." - falou me olhando de cima em baixo.
Certamente ele não achava que uma mulher com cabelos loiros de raizes escuras espetado para cima, usando uma calça jeans, uma camiseta branca do Bob Marley com um nó na parte de baixo, do lado esquerdo, de óculos dourado de armação retangular e segurando um capacete vermelho da cor de sua moto seria alguém com juízo. Meu pai e minha mãe pensariam o mesmo! Esse pensamento me deu vontade de rir, mas não o fiz.
"Daniela, senhor. Me chamo Daniela Frasão. Sou fotógrafa. Vou passar um tempo em Campinas para fotografar a cidade e as pessoas para um livro de fotos que vou lançar."
"Interessante..." - respondeu o velho com uma cara que demonstrava o quanto ele achava meu trabalho sem importância e me dando a chave do 302.
"É um dos apartamentos de canto, ao lado da escada. Saia do elevador e vire à esquerda. É a porta do lado esquerdo. Ah, cuidado com o elevador. Às vezes a porta não fecha e também ele não costuma parar muito nivelado nos andares. Depois a senhorita acostuma!" - falou em meio a um acesso de tosse.
Peguei rapidamente as chaves, antes que pegasse um vírus qualquer e me dirigi ao elevador. O elevador era uma caixa minúscula de madeira. Apertei o três e a porta ficou entreaberta, faltou uns quinze centímetros para fechar completamente e ele subiu assim mesmo. Quando ele parou indicando o terceiro andar, vi que o elevador estava um pouco mais baixo que o patamar do andar, mas dava para sair assim mesmo. Afinal, todo esse ambiente combinava com Daniela Frasão porque certamente Nathalie Bustamante não moraria num lugar com tantos problemas infraestruturais como esse. Nunca!
Quando cheguei na porta do apartamento reparei que todas eram iguais, pintadas de cinza. O número também era visível e estava no lugar, aliás, era o único apartamento que ainda tinha o número! Abri a porta morrendo de medo do que encontraria, mas Douglas havia sido legal comigo. O apartamento tinha uma sala pequena onde não havia sofá, só dois almofadões e um tapete felpudo que ocupava um bom espaço. Dava até para dormir ali. No canto havia uma mesa improvisada com um carretel de madeira desses gigantes que as empresas de telefonia e iluminação usam. A mesa estava com o centro coberto por uma toalhinha quadrada de pano florido e tinha um vasinho de planta em cima. Os bancos da mesa eram dois puffs marrons. No lado da mesa tinha uma janela que dava para a parte frontal do prédio. Tinha uma TV dessas de monitor de led de 22 polegadas presa na parede ao lado esquerdo da porta.
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Canta Pra Mim
RomansaNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...