Capítulo 9

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CAPÍTULO 9

<<Nathalie>>

Assinei alguns papéis, Nelson emitiu um cheque no valor da fiança e fui liberada.

"Por que você pagou a fiança?" - perguntei.

"Porque você foi solta mediante pagamento de fiança."

"Sim, isso eu entendi. Só estou querendo saber porque você pagou do seu bolso!"

"Porque você vai me reembolsar mais tarde."

"Vou?" - perguntei mais tentando assimilar a situação do que por outro motivo. Afinal, o que levava um estranho, pelo visto cheio de clientes e atolado em seu serviço a vir defender uma desconhecida e, ainda por cima, pagar sua fiança!

"Vai sim, Nathalie. Agora, vamos para casa!" - falou Nelson me chamando à realidade.

Só então observei como era o local. A sala em que eu estava era a única parte reservada de uma outra sala dividida por divisórias de um metro e meio de altura, onde havia umas oito mesas de trabalho separadas por essas divisórias. Ao canto, uma impressora e uma máquina de xerox para todos.

Andrea ficava em uma das mesas e quando me viu, lambeu os lábios de forma obscena e repugnante e me mandou um beijo. Uma sensação de revolta cresceu dentro de mim e parei meus passos para protestar. Mas, antes que eu pudesse me dar conta, Nelson apertou meu braço, me puxou para continuar andando e sussurrou ao meu ouvido:

"Agora, não!"

Ele me levou em direção ao hall dos elevadores e fomos calados. Eu estava cheia de coisas para falar! Eu queria denunciar os abusos que sofri por parte do policial que me prendeu e dessa tal de Andrea... Mas, entendi que era preciso sair dali primeiro.

O elevador chegou. Estava cheio e Nelson me conduziu para que ficássemos no canto. Devia ter umas vinte pessoas ali, mas ninguém reparou em nós por mais do que uns segundos. Uns conversavam entre si, outros estavam abraçados à pilhas de papéis que pareciam processos e havia entregadores também. Enquanto isso Nelson apertava o G1. Descemos mais alguns andares até que chegamos na garagem dos visitantes. Nelson continuou me conduzindo até que nos aproximamos de uma Range Rover marrom metálico, que percebi que era dele porque as lanternas piscaram quando ele apertou o alarme.

"Gostou do carro?" - perguntou numa tentativa de me distrair.

"Bonito. Um pouco caro, mas bonito..."

"Que carro você tem?"

"Um Idea." - respondi dando de ombros.

"Não me parece muito confortável.."

"Mas é útil." - respondi num tom que dava a entender que aquela conversa automotiva estava terminada para mim.

"Diga, Nathalie! O que está querendo falar?" - perguntou enquanto sentávamos nos bancos da frente do carro.

Enquanto ele afivelava o seu cinto de segurança, comecei:

"Tá, tudo bem... Primeiro, sei que estou sendo acusada de desvio de verbas e que acham que sou culpada. Mas isso não dá direito a esses policiais de me tratarem assim. Eu... eu... eu..." - engasguei e engoli em seco, sem coragem de continuar.

Abaixei a cabeça, quase encostando nos joelhos. Eu estava me sentindo tão suja, tão vulnerável... Chorei... Chorei como se aquelas lágrimas pudessem lavar toda a sujeira daquele dia.

Nem sei por quanto tempo ficamos ali naquela garagem. Nelson entendeu que eu precisava daquele momento e se limitou a me estender uma caixa de lenços de papel para quando eu decidisse parar de chorar. Ainda bem, porque se ele encostasse em mim para me consolar, eu não sei como reagiria. Estava sendo muito difícil para mim. Sempre fui uma pessoa quieta, recatada quase. Ser tocada por aqueles estranhos e ouvir tanta sujeira vendo o brilho daqueles olhares me fez querer sumir de mim mesma, como se isso fosse possível.

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