CAPÍTULO 8
<<Nathalie>>
Depois daquele telefonema frustrante, caí sentada na cadeira e entrei em crise de choro. O policial trouxe um copo de água e me forçou a bebê-lo. Foi pior... A mistura da tensão, da frustração, do medo e de não me alimentar por horas fez com que aquela água detonasse um monstro dentro do meu estômago.
Na mesma hora que a água entrou, saiu em jatos. Foi uma cena horrível! Se eu já não estivesse tão sem ânimo, teria até ficado ruborizada por ter vomitado tudo no terno do Nelson. Mas, meu psicológico estava tão abalado, que minha reação foi apenas um pedido de desculpas meio que sem forças para sair.
"Desculpe-me."
"Tudo bem, Nathalie." - falou Nelson enquanto tirava o paletó e tentava limpar um pouco a camisa com um lenço.
"Acho melhor eu chamar a faxineira para dar um jeito aqui!" - exclamou o policial.
"Aproveite também para providenciar um almoço leve para minha cliente, porque o que aconteceu agora só dá mostras do quanto ela está debilitada e de estômago vazio. A propósito, Nathalie, quando foi sua última refeição?" - perguntou Nelson.
"Foi uns cereais antes das sete da manhã..." - respondi sem interesse.
"Antes das sete? São quase duas da tarde! Isso é mau trato, senhor policial! Vou relatar isso no meu pedido ao juiz!"
"Vou providenciar o almoço da senhorita." - respondeu contrariado o policial.
Quando este saiu, Nelson sentou em uma das cadeiras a frente da que eu estava e ficou me olhando em silêncio.
"O que foi? Está com pena de mim? Ou será nojo porque vomitei em você? Deve estar se perguntando por que está aqui para defender uma criminosa em que ninguém acredita e que, ainda por cima vomita em jatos!" - gritei jogando nessas palavras toda a revolta que eu estava sentindo com essa situação.
"Errou, senhorita. Estou aqui pensando no que alguém pode ter contra você para armar uma cilada dessas!"
"E quem te garante que foi armação? Se os próprios advogados da Sillman, que me conhecem, não acreditam em mim, por que você acredita?"
"Acredito porque não sou o único. Tem gente boa e honesta lá fora e que sabe da sua inocência, só não tem como provar, ainda."
"E quem é essa ou essas pessoas?"
"Aí é que está o X da questão. Essa pessoa não pode te ajudar diretamente porque, senão, pode acabar sendo envolvida também..."
"Ainda não sei o que pensar..."
"Pois, então, não pense! Apenas coma quando a comida chegar porque preciso ir agora apresentar ao juiz o seu pedido de habeas corpus. Pretendo levá-la para casa ainda hoje." - falou usando um tom cheio de entusiasmo, mas que não me convenceu. Talvez pelo meu cansaço, talvez pela desilusão de não saber em quem confiar.
"Confie, Nathalie! Sou eu que vou te tirar daqui e vamos provar sua inocência!"
Assenti com um longo suspiro. Recostei os braços e a cabeça na mesa e resolvi esperar. Era só o que me restava mesmo...
A faxineira entrou, levantei um pouco para que ela pudesse limpar a sujeira que fiz. Ela não falou nada, mas percebi em seu rosto o desgosto de estar limpando o vômito naquela sala. É como se ela pensasse que eu fiz de propósito, para protestar ou agredir, sei lá... Quando ela terminou, agradeci e pedi desculpas.
"Tudo bem." - ela falou entre os dentes num tom que dava para reparar que o fazia apenas por educação.
Voltei a me sentar e a recostar a cabeça na mesa. O cansaço venceu e, naquela posição, eu cochilei. Não sei por quanto tempo. Mas foi o suficiente para eu ficar com dor nas costas. Percebi isso no momento em que o policial me acordou e me apresentou uma quentinha de alumínio toda amassada, meio aberta.
"Desculpe, mas foi difícil arrumar alguma comida a essa hora. O faxineiro andou muito até encontrar." - falou o policial num tom um pouco mais cortês - "Volto daqui a pouco. Coma!"
Tirei a quentinha do saco plástico, terminei de abrir a tampa que já estava meio aberta e pude perceber que a comida já estava fria. Quentinha era apenas o nome. Além disso, a comida vinha toda prensada ali dentro. Farofa, macarrão, feijão, arroz, abóbora com carne seca e salada de tomate e alface. A cara era horrível! Aliás, o gosto também. A carne seca foi dessalgada de vez, nada tinha sal, nada tinha tempero, nada tinha gosto... Se já era difícil ter vontade de comer estando presa e passando por tudo aquilo, imagina ter que encarar aquele prato que parecia uma mistura de resto daquelas que se dá aos cachorros na rua! Mesmo assim, tentei... Comi umas três ou quatro colheradas. Sim, colheradas porque não me deram nem garfo, nem faca, apenas uma colher. Acho que pensaram que eu era uma criminosa muito perigosa e que conseguiria fugir do prédio da Polícia Federal portando um garfo e uma faca! Talvez eu pudesse com a ajuda do meu subconsciente, o velho professor Snape, usar algum feitiço e transformá-los em armas de fogo...
Acabei de comer, fechei tudo dentro do saco novamente porque aquele cheiro de comida naquela sala fechada já estava começando a me embrulhar o estômago. Senti vontade de ir ao banheiro. Há quanto tempo eu não fazia xixi? Estava muito apertada. Tentei abrir a maçaneta da porta e não consegui. Não demorou muito e o policial veio ver o que eu queria.
"Preciso ir ao banheiro."
"Tudo bem... Andrea, leve a senhorita ao banheiro!" - gritou para alguém que não vi.
De repente apareceu uma mulher alta de aparência bem masculinizada, voz grossa e jeito rude.
"Vamo bora! Te levo lá, ô princesa!"
Não tinha jeito. Fingi que estava tudo bem e fui. Fiquei incomodada porque ela entrou no banheiro comigo e disse que por questão de segurança eu estava sem algemas e, então, não poderia fechar a porta do reservado. Muito sem graça, abaixei a roupa e sentei no vaso sanitário. A tal Andrea recostou na pia do banheiro, de frente para mim e ficou me olhando como se ela fosse um cachorro e eu um frango naquelas frangueiras de padaria.
"Ô, princesa, se quiser ajuda é só falar!"
"Precisa não." - rosnei.
"Tem certeza? Estou aqui para ajudar."
Terminei de fazer minha higiêne, vesti a roupa e fui para a pia lavar as mãos. Andrea abriu caminho para eu passar, mas quando encostei na pia, ela veio por trás, me imprensou contra a pia e começou a se esfregar em mim. Não satisfeita, me abraçou por trás.
"Que coisinha deliciosa..." - exclamou em meu ouvido enquanto apertava meus seios em suas mãos.
Uma lágrima teimou em cair dos meus olhos, mas enxuguei depressa ao mesmo tempo em que eu a empurrava.
"Tira a mão de mim!" - gritei.
"Calma, onça! Foi só um pagamento pelo tempo que perdi te trazendo até aqui." - falou com um sorriso debochado enquanto me empurrava para fora do banheiro.
Quando voltamos para a sala onde eu estava, Nelson já estava de volta.
"Até que enfim, Nathalie! Pensei que não quisesse ir embora..." - sorriu Nelson tentando descontrair.
"Como?" - perguntei incrédula - "Ir embora?"
"Sim. Seu habeas corpus foi concedido. Venha! Vou te levar de volta para Campinas!"
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Espero que tenham gostado do capítulo surpresa!
Continuem acompanhando a Nathalie.
Se gostaram, cliquem na estrelinha e me deem seu voto ao final de cada capítulo. E podem divulgar para seus amigos também!
É muito bom quando entro no wattpad e vejo que há mais pessoas, a cada dia, acompanhando essa minha história que começou a brotar em meu coração e que está crescendo sozinha. Dividi-la com vocês é um prazer imenso!
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Beijos
Lizzy

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Canta Pra Mim
RomanceNathalie Bustamante tinha uma vida perfeita. 35 anos e a garota pobre de Taubaté já era diretora de empreendimentos e finanças de uma grande Construtora em Campinas. Morava com seu gato, tinha a casa e o carro que queria, além do trabalho que era su...