Capítulo 28

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CAPÍTULO 28

<<Narrador>>

O burburinho foi geral. Era uma mistura de choque com revolta. Muitos ficaram pasmos, achando inacreditável o que acabavam de ouvir. Outros achavam que era tudo muito possível. A única pessoa presente ao Cemitério Municipal que não se mexeu, não esboçou reação e nem se pronunciou foi Jorge Lancaster.

Ele foi conduzido ao carro de polícia e saiu sem falar nada. Geanete quase teve uma síncope e desmaiou devido ao choque. Mathias a amparou junto com outras pessoas e ela foi conduzida ao posto médico ao lado do cemitério. Marcos foi atrás de Jorge e, antes deste entrar no carro, comunicou:

"Jorge, não se preocupe, vou agora mesmo começar a trabalhar na sua soltura. Você é réu primário e, com certeza, estará em liberdade ainda hoje."

"É o que espero..." - limitou-se a dizer Jorge.

"Fique tranquilo. Mathias cuidará de sua mãe e pedirei ao Amaral e ao Vanderlei para me ajudarem em tudo que for possível." - reafirmou Marcos.

Jorge assentiu com a cabeça.

"Não responda a nenhuma pergunta, nem diga nada enquanto eu não estiver presente. Entendeu?" - advertiu Marcos.

"Sim." - Jorge respondeu secamente e manteve o silêncio.

Na saída, o carro da polícia que conduzia Jorge foi cercado por uma dezena de repórteres que tentavam tirar a melhor foto ou ouvir algum pronunciamento do assassino do próprio pai. Jorge estava sentado no banco de trás, imóvel. Parecia que ele tinha se transformado em uma estátua. Seu rosto não denotava nenhum sentimento, nenhuma curva traía tristeza, preocupação, arrependimento ou nada. Parecia que havia um iceberg sendo conduzido no banco daquele carro.

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<<Nathalie>>

Almocei no apê e acabei pegando no sono no tapete da sala. Também, depois daquela noite mal dormida isso já era de se esperar. Acordei um pouco depois das quatro da tarde. Liguei a televisão para começar a despertar, pois iria mais tarde à fazenda. Fiquei trocando os canais para ver se tinha algo interessante. Até que, de repente, me deparei com a cena de Jorge dentro de um carro de polícia.

"... as investigações não foram concluídas, mas o fato é que Jorge Lancaster esteve no terminal de Cargas do aeroporto de Viracopos ontem, buscou seu pai e o conduziu, segundo testemunhas, para o Jardim Londres..."

Eu estava chocada. Não foi uma briguinha simples. Ele havia premeditado tudo. Jorge não o seguiu ao local do crime, ele mesmo o levou!

Dentro de mim vários sentimentos começaram a fervilhar; o nojo crescente, a angústia de ter que me aproximar dele, o medo de não conseguir, a saudade da minha família, a revolta por ele ter feito tudo aquilo comigo. E a surpresa de ter a certeza de que ele era um homem tão sem sentimentos a ponto de matar o próprio pai. O que leva um ser humano a agir com tanto desprezo pela vida?

"Está com medo, sua detestável sangue ruim?" - esnobou o rabugento professor Snape, dentro de mim.

Tarde demais para ter medo. Quem foi até onde eu fui não pode ter medo. Mas, como vou fazer para continuar se ele foi preso? E agora o que seria do plano? Resolvi perguntar ao Douglas e mandei um SMS:

"E agora que o pássaro está na gaiola?"

Esperei alguns minutos e veio a resposta:

"Duvido que permaneça lá. Prepare-se para ir ao baile hj tb! "

Aí já era demais! Acreditar que ele não esquentaria lugar na cadeia, eu até acredito. Mas sair de lá e ir para o karaokê? Isso era loucura! Mas, se Douglas falou, era melhor eu dar crédito. Nisso chegou outra mensagem do meu amigo:

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