Capítulo 37

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CAPÍTULO 37

<<Nathalie>>

Saí estrada a fora sem ter a menor noção de para onde iria. Queria apenas ir para bem longe. E torcia para, quem sabe um dia, eu conseguir esquecer Jorge, que tão rápido me descartou...

Não parei nem mesmo para almoçar. Já era quase final da tarde quando parei em um posto de gasolina, abasteci e descobri uma casa na qual poderia pagar pelo jantar e pelo pernoite. Foi por lá que resolvi ficar para dormir. Eu precisava descansar. Nem mesmo me dei ao trabalho de perguntar em que cidade eu estava. Para mim, nem isso mais importava!

Quando peguei minha bolsa, vi o celular. Havia chamadas perdidas de Cacau, Douglas e Edu. Muitas mensagens também. Mas, eu não queria ler nenhuma. Senti remorso por estar fazendo isso com meus amigos. Mas, estar perto deles, dali para a frente, seria arriscar suas vidas...

Tomei um banho no banheiro coletivo, comi um prato de feijão carregado, única opção de refeição para aquele dia, e fui para o minúsculo quarto deitar. Estava já na cama, colocando o celular para carregar quando vi o número de Fábio piscando no visor. Ele eu quis atender. Talvez porque soubesse que está bem longe, na Argentina.

"E aí, menina! Quer matar todo mundo do coração?" - perguntou carinhosamente.

"Não, Fábio. Eu sou uma ameaça para vocês. A essas horas o Jorge já deve ter me denunciado à polícia. Não posso deixar que vocês sejam incriminados só porque eu... porque..."

"Só porque você se apaixonou, rompeu todas as barreiras e se entregou de corpo e alma e contou a verdade para ele?"

Essa definição de tudo que fiz parecia me ferir como aço. Fábio estava certo. Eu não quis me entregar a viver uma relação com ele, Fábio, mas quando descobri que estava amando, não pensei duas vezes, não medi consequências e me entreguei por inteiro para Jorge.

"Ei, Dani! Pare de se martirizar! O amor é assim mesmo. Ele deixa a gente cego, burro e sinistramente idiota!"

"Apesar de tudo, você ainda consegue me fazer rir, meu amigo..." - falei.

"Sabe por quê? Porque eu, assim como todo o resto da galera, quero o seu bem. A amizade, Dani, é como o amor. Quando ela acontece de verdade, também é sem barreiras, é com total entrega. Você acha que algum de nós está preocupado com o que vai nos acontecer se estivermos com você? Não menina! Sabe por quê? Porque preferimos sofrer ao seu lado do que sofrer a angústia de não sabermos aonde você está!"- Fábio falou isso num tom mais sério do que o habitual.

"Fábio, eu estou com medo de prejudicar todo mundo... eu coloquei toda a ajuda de vocês fora quando eu contei a verdade para o Jorge. Essa verdade não era só minha, eu não tinha o direito..."

"Não tinha o direito de quê? De tentar ser feliz? Claro que você tinha, Dani! Tinha e tem. Levante essa cabeça. Descanse um pouco, por uns dias até. Mas, prometa que vai voltar, que vai nos dar notícias."

"Eu preciso de um tempo para pensar..." - afirmei.

"Você sabe que tem tempo. O que quero apenas é que você prometa que não vai nos abandonar. Nós te amamos, menina!"

"Eu sei disso..." - falei sem conseguir conter as lágrimas que represei hoje durante toda a viagem de moto - "Ah, Fábio..."

"Vou avisar ao pessoal que você está bem. Mande um SMS apenas para acalmá-los, por favor, minha linda!" - pediu Fábio.

"Tudo bem. Pode deixar que farei isso agora. Beijos." - me despedi e encerrei a ligação.

Fábio realmente era o meu porto seguro nos momentos de crise. Eu sabia que era de seus conselhos, de sua voz, de sua lucidez e de seu amor que eu estava precisando naquele momento. Por isso o atendi. Agora, o mínimo que eu podia fazer era atender ao seu pedido e mandar um SMS para os meus amigos.

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