Capítulo 13

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CAPÍTULO 13

<<Nathalie>>

Todos os jornais falavam as mesmas coisas. Uns de maneira mais sensacionalista, outros com mais base nos fatos. Mas, todos davam destaque na primeira página para a diretora de uma construtora que foi presa pela Polícia Federal num esquema de desvio de verbas de obras públicas e que depois de pagar fiança e ser solta foi sequestrada por um grupo de anarquistas intitulados Em Defesa do Povo, quando estava sendo levada para casa por seu advogado. No local do sequestro foram encontrados panfletos do grupo e uma carta aberta para a sociedade e a polícia. Um dos jornais reproduzia um trecho dessa carta que dizia:

"...Por isso mesmo, não podemos mais admitir que a população brasileira seja massacrada por essa ordem dos desmandos perpetuada pelas classes dominantes que se alternam no poder. (...) O povo tem direito de ser ressarcido de todos os seus prejuízos ou, pelo menos ter a certeza de que medidas exemplares serão tomadas para que esses criminosos de contas gordas saibam que não podem ficar impunes. Como sabemos que essa polícia corrompida, assim como esses tribunais vendidos que "guardam" e "regem" nosso país ainda não são capazes de imparcialidade e respeito ao povo e aos seus bens, achamos por bem começarmos nós mesmos a tomar medidas exemplares. Não esperem mais encontrar essa cadela vadia dessa ladra figurando em nossos corredores. Ainda no dia que vocês estiverem lendo isso ela estará sendo executada para que sirva de lição. E, que autoridades e esses ladrões comecem a fazer o papel que realmente lhes cabe, senão muitos outros morrerão...."

A carta ainda discorria um pouco mais exaltando o povo brasileiro e os seus direitos e terminava assinada pelo grupo anarquista Em Defesa do Povo.

"Caramba!..." - fiquei sem palavras ao ler. Já pensou se isso fosse verdade e realmente existisse um grupo disposto a me matar por um crime que eu nem cometi?!

"Carta emocionante, não acha?" - perguntou Cacau com brilho nos olhos.

"Linda, meu amor!" - aplaudiu Josué.

"Sinistro..." - balbuciou o impressionável Fábio.

"Até que participar da montagem para teatro do texto da minissérie Anos Rebeldes serviu para alguma coisa!" - se vangloriou Cacau fazendo gestos de campeã. - "E não se preocupe, porque o Douglas me ensinou a não deixar impressões digitais em nada. Nem o CSI conseguiria chegar até a autora da carta!"

"Meu Deus, não precisa nem me dizer como estão meus pais... Dá para imaginar depois de ler essa carta!..."

"Liguei para uma amiga médica, a Sara, e pedi para ela acompanhar a saúde de seus pais. Falei que estou chocada e preocupada com o tio Sérgio e a tia Liane." - me acalmou Cacau.

"Bem, não tem outro jeito mesmo. Só me resta pedir a Deus por eles, por meus irmãos e sobrinhos..." - falei resignada.

"Gente, vão começar os noticiários da hora do almoço!" - lembrou Josué.

Fábio ligou a TV exatamente na hora que estava tocando a música de abertura do telejornal.

"Olá, boa tarde! O jornal da tarde começa agora com um crime que está intrigando e chocando Campinas. Nathalie Bustamante, a diretora da Construtora Sillman, que foi presa ontem pela manhã pela Polícia Federal na Operação Castelo de Areia, foi sequestrada ontem à noite quando voltava para casa com seu advogado e encontrada carbonizada no porta malas de um carro que foi queimado nos arredores de Campinas. Um grupo anarquista intitulado Em Defesa do Povo assumiu a autoria do crime e o classifica como medida exemplar para evitar outros desvios de verbas públicas. Sem dúvida nenhuma é um crime que choca pela premeditação, foi uma execução sumária e, o que é pior, choca por parecer que estamos diante de uma nova ordem social. Não é isso Carlos Otaviano, nosso especialista em segurança pública?..." - falou a jornalista.

Todo o telejornal foi, praticamente, falando do crime, das investigações e do terror que se espalhou pela região. Mostrou imagens do prédio da Sillman, do carro queimado, da fachada do IML e das obras do governo que estão suspeitas de desvio de verbas. O delegado responsável pelas investigações deu entrevista falando do andamento do caso e a equipe do telejornal tentou entrar em contato com o advogado, o Nelson, mas sua secretária informou que ele ainda estava descansando das agressões sofridas. De repente, as imagens se tornaram mais do que familiares. Estavam mostrando o muro da frente da casa dos meus pais e meu irmão dava uma entrevista.

"...Nenhuma, ninguém aqui tem condições de falar nada. A Nathalie era uma mulher fantástica, muito amada por todos nós e temos certeza de que ela não era culpada de nada do que estava sendo acusada." - falou meu irmão em meio a muitas lágrimas e soluços.

Chorei junto. A dor de ver o sofrimento de minha família era muita, mas a certeza de que eles também sofreriam muito se eu fosse presa, me fez entender que aquilo tudo era preciso.

"Tomara que se um dia eu puder voltar a ser eu, eles me perdoem por todo o sofrimento." - falei quase sem sentir.

"Eles vão, querida. Eles vão." - afirmou Cacau me abraçando.

"E agora? Como é que vai ser daqui para a frente? Sei que a Daniela tem que viver, mas ela, eu, vou fazer o quê? Como vou chegar no culpado? Vou me esconder aqui para sempre? Aliás, de quem é essa casa?" - metralhei as perguntas da mesma maneira que elas vinham na minha cabeça.

Meu subconsciente foi pego de surpresa pela avalanche de questões e ele, meu professor Snape, ficou suspenso no ar de cabeça para baixo.

"Ei, garota, calma! Assim eu fico tonto!" - pediu Fábio.

"Ah..., gente, cada vez que me sinto forte, acontece ou vejo algo que me deixa tonta, confusa!... Parece que sempre tem algo para me lembrar que eu não sou forte..." - comecei a chorar. - "Eu só queria ficar em paz, continuar na minha casa cuidando de Ted e trabalhando no projeto do resort lá na Sillman. Eu sempre me senti segura lá. Achava que todos gostavam de mim. Até o Jorge que sempre tinha reservas quanto ao meu trabalho, que sempre achava um defeitinho, até ele tinha se tornado amável ultimamente..." - me lamentei.

"Como é, o cara mudou de atitude com relação a você assim do nada? Quem é esse Jorge" - questionou Cacau.

"É o presidente da Construtora. É acho que ele viu que era só birrinha boba. Ele tinha ciúmes do avô e da mãe comigo!"

"Muito estranho, muito estranho mesmo..." - considerou Josué.

"Sinistro!..." - mais uma vez exclamou Fábio.

"Ciúmes por quê?" - questionou Cacau.

"Cacau, ele é filho e neto único. Foi criado para presidir a Sillman. Aí eu entrei na empresa e a qualidade do meu trabalho foi aparecendo. Nesse meio tempo, seu Stênio saiu da presidência e colocou o Jorge, mas avisou que eu era tão fundamental para a empresa quanto o neto e que me considerava uma neta. E, portanto, o Jorge teria que me dar carta branca nos meus projetos, caso fossem aprovados pelo restante da direção. E, desde que ele assumiu a presidência, dona Geanete, mãe do Jorge vai muito lá e nos tornamos amigas. Acho que é por isso que ele tinha esses ciúmes bobos..."

"É, agora você não é mais uma ameaça!... Morta ou presa você está, de qualquer jeito fora do caminho dele." - concluiu Cacau.

"Você não está achando que..." - acompanhei pensativa o fio de raciocínio dela.

"Não sei... Tudo é possível... Esse tal de Freitas é que será a estrada que nos levará ao culpado..." - afirmou minha amiga.

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Que situação, a da Nathalie, não é? Ter que assistir a uma reportagem sobre o próprio assassinato e ver o sofrimento do seu irmão tendo que dar entrevista!

É, mas ela precisa passar por isso para resolver o problema da sua prisão...

Não percam as emoções do próximo capítulo!

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Beijos

Lizzy

Canta Pra MimOnde histórias criam vida. Descubra agora