Capítulo 22

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CAPÍTULO 22

<<Nathalie>>

Naquela noite, depois da saída triunfal do karaokê e da troca de mensagens com Cacau, não consegui dormir de tanta excitação. Meu cérebro fervilhava. Era uma mistura de sensações esquisitas, diferentes e novas para mim.

Eram minhas primeiras vinte e quatro horas num apartamento estranho e morando nele, tudo isso porque oficialmente eu era uma mulher morta, com nova identidade. E tinha que ser assim já que se eu fosse descoberta, seria presa por desvio de verbas públicas e falsidade ideológica. Isso me assustava. A saudade dos meus pais, irmãos e sobrinhos, que deveriam estar sofrendo com minha morte também me deixava intranquila. A certeza da cumplicidade dos meus melhores amigos que estão arriscando suas vidas e carreiras por minha causa era a única coisa que me trazia um pouco de conforto. E ainda tinham Josué e Fábio, que nem me conheciam direito, mas que se uniram numa empreitada arriscada para me salvar! É, de fato, teria que valer à pena ter tanta gente se arriscando por mim.

A novidade excitante de me tornar uma mulher fatal. Essa era a mais esquisita das sensações! Sempre fui muito recatada e, de repente, tive que me tornar uma loira fatal. Confesso que antes de sair de casa com aquele vestido tubinho preto na altura dos joelhos e aquela bota, me olhei umas trezentas vezes no espelho. Estava morta de vergonha. Sentia-me como uma daquelas mulheres fúteis que eu via na academia onde fazia pilates, aquelas que prezam o corpo e o visual porque não possuem discernimento e inteligência para sustentar uma conversa sobre assuntos triviais por mais do que dois minutos!

Mas até que estava sendo divertido e excitante. Conversei muito com Cacau, lá na fazenda, sobre isso. Ela me explicou um pouco sobre seus trabalhos como atriz e que eu poderia fazer o mesmo. Ela dizia que quando vestimos uma personagem, que temos que deixá-la criar vida dentro de nós. É como se nos escondêssemos dentro dele e, todas as suas atitudes seriam reportadas a ele, personagem, e não a nós. Nesse caso, Daniela poderia ser fatal e isso não mudaria a Nathalie que eu sempre fui.

Desse modo, Daniela Frasão se tornou, para mim, uma personagem, um alguém que eu represento, mas que não sou eu. Portanto, a Dani pode ser sexy, atirada, feroz, desinibida sexualmente e livre para fazer o que quiser sem que isso tudo denigra a imagem que tenho de mim mesma e que os outros tem.

Assim, a Dani poderia se expor à vontade que isso não mudaria o fato da Nathalie ser a freirinha! Engraçado, acho que a Dani, no fundo, era uma fantasia minha. Eu sempre quis ser uma mulher fatal e achava que não levava jeito, mas, agora eu tenho obrigação de ser e acho que estou conseguindo.

"Eu, hein! Será que eu sou assim? Uma mulher fatal daquelas que eu via nos filmes, será?" - pensei enquanto verificava se a porta do apartamento estava fechada, antes de dormir.

"Eu sempre soube que você era uma sangue ruim!" - exclamou em minha cabeça meu velho e rabugento professor Snape.

Para complicar ainda mais essa minha novidade de mulher fatal, ainda tinha o fato de eu ter que seduzir o nojento do Jorge. Já não bastava o fato de sermos diferentes e de vivermos discordando, agora eu também sabia que ele era o responsável por tudo de ruim que eu estava passando. Tudo pelo maldito dinheiro! E eu teria que me aproximar e seduzir aquele homem! Pensar nisso me causava um certo mal estar.

Mas, acho que não me saí muito mal em minha primeira noite no karaokê. Enquanto cantava reparei que Jorge me notou e que não tirou mais os olhos de mim. Pude sentir que me seguiu com seu olhar enquanto fiz minha retirada triunfal. E aposto que ele deve ter pensado em ir atrás de mim. Conheço aquele homem, ele adora uma caçada e uma mulher bonita.

Voltei para casa feliz com o resultado e muito empolgada. Definitivamente não dava para dormir com todo aquele vulcão de sentimentos! Levantei da cama e fui até a cozinha. Resolvi tomar um leite quente com açúcar. Mamãe, quando éramos crianças e adolescentes, sempre nos dava a mim e meus irmãos, leite quente com açúcar antes de dormir. Dizia que esquentava o corpo e dava alento ao coração, trazendo o sono. Se isso tem algum fundamento científico eu não sei, mas que funciona, isso funciona.

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