Capítulo 16

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Desde que Adrien havia se retirado da sala de jantar, Marinette não conseguia deixar de pensar em como algo nele lhe incomodava. Quando foi devolver o carrinho para a cozinha chegou a perguntar para Duusu sobre ele, mas a menina literalmente deu de ombros erguendo os braços e inclinando a cabeça em confusão.

Retornando para o quarto logo trocou de roupa para tentar dormir, sem sucesso. Não havia barulhos para lhe perturbar, mas sua mente estava barulhenta demais para permiti-la fechar os olhos e dormir.

Quando finalmente conseguiu, para seu azar, sonhou com sua lembrança de infância e ao contrário do que normalmente acontece — esquecê-la após despertar — a voz do misterioso garoto ficou repetindo em sua mente como um disco arranhado e seus olhos verdes não lhe saiam da cabeça.

Sentia-se louca ao compara-los aos olhos do patrão. Sempre teve uma lembrança vivida dos olhos do garoto ao qual conversava em seu sonho, mas nada se comparava aos olhos de Adrien que pareciam brilhar como joias recém-polidas.

Apesar disso, conseguiu fazer suas tarefas com a perfeição e capricho de sempre e sem atrasos. Ainda recebeu um elogio quando encontrou Nooroo ao ir para o refeitório. E após uma refeição maravilhosa e seu monólogo com Duusu, quis aproveitar para relaxar no jardim.

Nos últimos dias o cinza das nuvens tingia o céu sobre a mansão e mesmo não chovendo parecia tornar as coisas um pouco depressivas. Agora o tradicional azul lutava por espaço na abóboda celeste e o sol brilhava por entre as nuvens pesadas que ainda insistiam em se formar.

Enquanto descia os degraus da varanda, observava a lua diurna correndo pelos céus, querendo se esconder atrás da casa rumo ao poente, por algum motivo aquela simples visão a fazia esquecer-se do que tanto lhe perturbava.

Parecendo uma criança que pisava apenas nas pedras maiores do caminho, chegando a saltitar um pouco, procurava por Pollen com o olhar. Percebendo que a jardineira não se encontrava, foi em direção ao gazebo suspenso sobre o lago.

A ponte de madeira branca destacava-se pelo som produzido bem como o piso do gazebo, parecendo ser oco na parte de baixo. Os parafusos e porcas usadas em ambas as construções eram grandes e bem evidentes e conhecendo-se bem, sentia que mais cedo ou mais tarde tropeçaria em um deles.

Caminhou até a extremidade aposta a ponte e apoiou as mãos no guarda-corpo igualmente de madeira e inclinou-se um pouco para a água. Sua cor escura permitia um reflexo um pouco desforme e não muito nítido, ainda assim, acreditava ser uma boa imagem. Puxou um breve sorriso de canto.

Seus olhos percorriam toda a extensão do lago procurando algum tipo de peixe que poderia ter lá. Imaginava encontrar carpas ou tilápias nadando pela água, visto sua fácil criação, mas não havia um único animal.

Acabou debruçando-se sobre a madeira encarando a paisagem a sua frente. O muro não era visível naquela parte, como se o lote se estendesse para além do alcance da visão. As irregularidades do terreno se mantinham, mas por algum motivo acreditava que aquela parte possuía mais verde, além de algumas árvores espalhadas, nenhuma chegando perto da beleza da do quintal.

O vento estava agradável e balançava gentilmente os fios de cabelos, cujo elástico não conseguia segurar, para os lados de seu rosto sem incomoda-la. Sua franja também se movia de forma discreta, onde alguns fios começavam a se rebelar dando a aparência de frizz.

Fechou os olhos ao puxar bastante ar para dentro dos pulmões. Escutava alguns pássaros ao fundo, o barulho da água provavelmente se agitando com o vento e até as folhas da árvore se agitando. Soltou o ar que segurava lentamente pela boca perdendo-se em seus devaneios.

A Maldição da Mansão Agreste [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora