Capítulo 23

541 65 27
                                    

A chuva parecia estar indo em direção a cidade criando uma verdadeira linha divisória próxima ao limite do asfalto. Se o terreno estivesse seco, ela tiraria uma foto brincando com aquela coincidência, só uma brincadeira para lhe fazer esquecer um pouco da situação da estrada de terra, ou melhor, lama.

Não arriscaria sair correndo, era pedir para cair de cara no barro que por sinal estava bem fofo e seu pé afundava um pouco, poderia dizer que era parecido com andar na neve, se seu sapato não parecesse grudar no chão.

Um pouco de água entrava pela abertura e pelas partes de tecido de seu tênis o que a desanimava ainda mais e a fez levantar a barra da calça para garantir que sujaria a menor quantidade de peças de vestuário possíveis.

Provavelmente nunca ficou tão feliz ao ver o portão da mansão aberto e agradecia pelo terreno estar mais propício a uma caminhada. A verdade era que se não fosse as pedras molhadas, nem daria para perceber que chovera ali visto a discrepância que existia entre o quintal e a estrada, mas a mente de Marinette estava ocupada demais para se atentar a esse detalhe.

Chegando à varanda, desfez o nó dos cadarços e tirou os tênis, colocando as meias, visivelmente manchadas, dentro deles e os carregando pelo calcanhar, não se importando com a madeira molhada e fria sob os pés. Destrancou a porta não muito contente, ainda sentia as marteladas em sua mente de tudo o que acontecera mais cedo.

Estava tão distraída que nem percebeu quando esbarrou em alguém indo em direção à lavanderia. Tanto o guarda-chuva quanto seus sapatos foram de encontro ao chão e ela sentiu uma leve dor no nariz, isso que dava estar mais focada no chão do que no trajeto em si.

— Está tudo bem, Bugaboo? — a voz de Adrien cortou o ambiente.

Aquilo a fez olhar para frente, com a mão cobrindo um pouco o rosto e uma expressão assustada. Corou levemente.

— Adrien? Oh... Céus... Desculpe... Espero que não tenha te machucado.

— Eu estou bem, não se preocupe — sorriu para ela — E voc...

Ele mesmo se interrompeu ao prestar atenção no rosto dela, as marcas de choro eram mais do que evidentes nele. Olhos fundos, ainda vermelhos e claramente inchados. Por impulso levou a mão para lhe fazer um simples carinho, conseguindo se deter ao perceber o que estava fazendo. Não agora, não ainda.

Recuou o braço praticamente o jogando-o na lateral o próprio corpo, mordendo o lábio inferior sem se importar em ser discreto. Vê-la assim causava um aperto em seu peito, um desconforto inexplicável. Fechou ambas as mãos em punho, sentindo a ponta de seus dedos quererem rasgar o tecido da luva e perfurar a pele de sua palma.

— O que houve? — disse com voz baixa, controlando o tom para soar o mais calmo possível.

Logo ela entendeu sobre o que ele se referia, sua mão ainda estava sobre o rosto e com um rápido movimento, caminhou seus dedos até o cabelo, tirando-o de trás da orelha e jogando uma mecha para tentar cobrir seu rosto desviando o olhar dele.

— Nada de mais — abaixou-se para pegar os objetos notando que um pouco de lama marcou o piso — Eu vou limpar isso daqui a pouco, não se preocupe. Desculpe novamente.

A intensão era dar a volta por ele e continuar seu trajeto até a lavanderia, de preferência com passos rápidos. Mal havia se afastado quando sentiu um enorme calafrio correndo por seu corpo, a voz de Adrien pareceu lhe perfurar em vários pontos de seu corpo com tamanha autoridade que havia sido proferida. Apertou os dedos nos objetos que segurava tremulando bastante. Virou-se assustada, com os olhos tão abertos que os sentia doer por conta do inchaço.

A Maldição da Mansão Agreste [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora