Capítulo 40

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O barulho da moto tomava conta da noite. Luka sentia o impacto do banco contra seu corpo à medida que percorria a estrada de chão que agora havia se tornado um caminho irregular de terra fofa por conta de toda a chuva que atingira a cidade. O terreno acidentado não o impedia de acelerar para chegar o mais rápido possível na mansão.

O pneu derrapou quase provocando uma queda ao fazer a curva para entrar no portão e agradeceu por ele estar aberto. Ajeitou as mãos no guidão se preparando para frear gradativamente, especialmente quando o farol iluminou uma pequena figura encolhida nos degraus da varanda.

Marinette permaneceu por muito tempo encolhida, de cabeça baixa, encoberta pelos braços que repousavam em seus joelhos dobrados. Luka precisou parar  e descer da moto, chamando o nome da amiga após levantar o capacete, para conseguir chamar a atenção dela, contudo, não o bastante.

Levantando-se de modo rápido, cobrindo o rosto por conta da claridade e focando o chão em que pisava, caminhava de modo apressando ignorando o rapaz que a recebia de braços abertos esperando um abraço. Afirmou querer sair dali logo com uma voz chorosa e que custou a sair.

Luka a puxou um pouco para si, vendo a situação em que se encontrava, queria muito algum tipo de explicação ao mesmo tempo em que se segurava para não entrar pela porta da frente e exigir isto. Ao ouvi-la pedindo para irem embora novamente todos esses pensamentos esvaíram-se de sua mente. Marinette era sua prioridade e nada mais importava naquele momento.

Foi até a parte de trás da moto onde abriu o baú e tirou o capacete extra, a entregando. Esperou que ela se ajeitasse para arrumar o próprio e subir no veículo, o manobrando antes dela subir na garupa e agarrar com força seu corpo. Em poucos segundos a moto se retirou com o farol iluminando a escuridão do caminho de volta deixando para trás apenas o breu da noite.

Pollen estava na lateral da casa e observou tudo o que havia acontecido. Uma discreta lágrima de cor caramelo escorria pela lateral de um de seus olhos. A tristeza que sentia refletiu nas plantas do jardim onde todas — exceto o enorme carvalho — que resistiram a tempestade junto da "floresta" de alecrins morreram.

Luka atravessou a cidade o mais rápido que o limite de velocidade permitia, apesar de acreditar ter levado pelo menos duas multas e jogado, sem querer, um pouco de água empoçada em algumas pessoas que caminhavam próximas de uma esquina.

Sua urgência foi tanta que mal cumprimentou o porteiro ao adentrar no condomínio onde morava e estacionou a moto de mal jeito em sua vaga. Pegou a mochila das mãos de Marinette e a conduziu para dentro do prédio com ambos esquecendo-se de retirar o capacete, fazendo isso apenas quando entraram no elevador.

Estava com o braço atravessado atrás do corpo dela, a segurando pela cintura enquanto andavam pelo corredor. Estava tão nervoso que provavelmente teria errado a chave do apartamento se houvesse outra além dela e a da moto em seu chaveiro. Quando a porta se abriu, guardou seu capacete em um armário aberto próximo da porta, pegando o de Marinette e devolvendo a mochila para ela.

Segurando a alça superior com ambas as mãos, a moça parecia mapear o lugar, visto que era a primeira vez que estava ali, olhando discretamente para todos os lados.

— Não repare a bagunça, a tempestade fez alguns estragos aqui.

Ele se referia em especial ao vidro quebrado da janela da cozinha onde um pedaço de papelão foi usado para evitar o ar frio da madrugava de invadir o local. Um balde estava bem no centro da sala onde gotejava pela lâmpada o que o obrigou a mudar algumas coisas de lugar além de depender da iluminação do corredor do prédio e o do próprio apartamento para iluminar o cômodo.

— Imagino que queira tomar um banho — tentava ser discreto ao observar a amiga — Está com fome? Posso preparar algo para nós.

Não sabia se Marinette estava sem voz para falar ou simplesmente não queria se dar o trabalho para tal ao negar de leve com a cabeça. Tentava acalmar sua mente e não pensar no que poderia ter acontecido e esperar que ela se pronunciasse a respeito. Passou uma das mãos pelo longo cabelo preto o jogando para trás em uma tentativa falha de mantê-lo assim, esperando que isso o acalmasse um pouco.

A Maldição da Mansão Agreste [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora