capítulo 35

1K 51 20
                                    

Eduarda narrando

Eles pararam o carro, de frente a minha casa, escorreguei para o banco do lado direito e abri a porta, dei uma passada entre o meio fio e o carro sentindo minha intimidade queimar, olhei para os meninos no carro e sussurrei um obrigado, e logo me virei assim que vi suas expressões sérias e ele logo arrancar com o carro.

Ajeitei minhas pernas e segurei na barra de meu blusão,  que Deus me dê forças, me apoio no portãozinho e abro o mesmo, me escoro na parede de concreto brusco e sinto minha pele rigida, a cada passo que eu dou e como se algo me rasgasse aos poucos, reprimo os lábios, tentando conter as lágrimas.

Paro um pouco e me encolho sentindo uma forte dor no útero, subo mais três dregaus, e agradeço infinitamente por está aberta, entro em casa com menos uma tonelada em minhas costas, fecho a porta e me viro, vendo Estela dormir tranquilamente no sofá.

Me esforço e corri até o banheiro, fecho a porta com brutalidade, e ligo o chuveiro me jogo de baixo da água, e tiro o blusão, me agacho ali e choro infinitamente, tentando tirar aquela sujeira do meu corpo.

......

Eu sinceramente  nunca pensei em tomar decisões, uma menina crescida em uma favela, com uma filha que tem idade de ser sua irmã, criada somente pela mãe, e nunca pode decidir nada, pois o destino já tava trassado a luta de ser uma suburbana, sim, eu nunca pensei que seria necessário eu tomar decisões.

Mas eu finalmente  vi com outros olhos oque para os outros era tão óbvio, a vida é como uma semente, oque você planta colhe, oque você escolhe é uma opção, ao mesmo tempo que estou só, tem alguém segurando minha mão, mas a vida é minha a cada batida do meu coração é tudo meu, eu não  posso deixar que dominem-o como se fosse uma máquina, que com somente cliques já sabe oque tem que fazer.

Respirei fundo, saindo dos meus devaneios, e tirei o lacre do remédio é tomei logo três de uma vez, ajeitei meu cabelo jogando-o para trás e tomei mais uma golada de água.

Fui em passadas lentas me escorando na parede até a sala, e observei, Estela, minha filha, minha vida.

Joguei a cabeça  pra cima tentando evitar que as lágrimas indesejadas rolem.

Eu já tomei minha decisão não tem mais volta.

Fiz um coque rasteiro e o cobri com a toca de meu moletom, ajeitei minha mochila nas costas, e dei mais uma passada me inclinando é dando um beijo na minha filha.

Admiro seu rostinho tão delicado e fecho os olhos com força tentando sucumbir a culpa.

Eu não quero que ela sofra como eu, eu não quero que ela passe oque eu passei, e se for preciso eu morro para que ela não sinta oque estou sentindo.

E espero que um dia ela me perdoe.

Virei minhas costas e respirei fundo indo até a porta, dei uma última olhada ao redor sentindo um aperto no peito, tudo oque se planta colhe, isso ronda minha cabeça me deixando tonta.

Desci os degrais estreitos do corredor e abri o portanzinho de ferro, tomei tanto remédio que as dores por todo o corpo passaram a ser como um pequeno e fraco belisco.

Fechei o portão  devagar e desci o inferno deste morro.

Em questão de vinte minutos cheguei na barreira do Escadão, abaixei a cabeça assim que vi o galeguim, ajeitei meu capu, e tentei ser discreta oque é impulsiveo, já que no calor de trinca e um graus do Rio de Janeiro uma loca de roupa de moletom e tênis.

Hã, só eu mesmo, arregalei os olhos assim que vi o Dinho subindo de moto o morro, ferrou.

Fiquei de Costa fingindo procurar alguma coisa e escutei o barulho de sua moto passar longe, graças.

Voltei a descer e vi um garoto aleatório
aparentava minha idade,
Sentado no meio fio, tomando uma coca.

Fui até ele  e tomei coragem.

Eduarda_ ei menino.- me inclinei o chamando.

_ qual é.- se virou pra mim na mo carranca.

Eduarda_ faz um favor pra mim.- ele ajeitou a aba do boné me encarando e levantou uma sobrancelha.

_ sou Judas, quero algo em troca.- ironizou.

Revirei os olhos, mas não tinha jeito tinha que ser ele.

Eduarda_ qual é seu nome.- ele passou a mão no queixo e me olhou de cima a baixo.

_ Aluízio por quê?.- ajeitou a calça caída.

Magrelo, magrelo, coitado.

Eduarda_ você é do movimento?.- perguntei.

_ ou qual foi desenrola logo aí, sou não parceira, to só visitando meu primo aí.- assenti contente.

Eduarda_ ótimo.- sorri.- conhece o Dinho? Um alto pra cacete, forte, vivi sem camisa...- fui dizendo suas características.

_ claro que conheço po, ele que é o meu primo.- gelei, né possível  o destino só pode tá ao meu favor, finalmente.

Virei de lado e abri minha mochila e peguei um bilhete que escrevi para ele.

Eduarda_ ó, entrega isso a ele, e diz que eu to confiando nele pra isso, por favor.- ele resmungo algo inaudível e saiu xingando.- te devo uma.- gritei para que ele escutasse e recebi uma amostra de seu dedo do meio, ignorei e sai correndo para o ponto de ônibus.

Sorri aliviada, adeus complexo do alemão.

_____________

Tchanram🧚‍♀️

Lembrando essa história se passa no ano de 2007 a 2011

Novos capítulos seram atualmente no ano de 2019

Tudo Por Um AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora