Capítulo 29

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O dia seguinte

Anna

Quando a luz adentrou o quarto e iluminou meus olhos, abri-os devagar, esfregando-os com cuidado. O sol banhava a minha pele e esquentava cada partícula do meu corpo. Varri o quarto com os olhos, observando cada pequeno detalhe daquele lugar parado no tempo.

Virei o corpo com dificuldade, para observar melhor o ambiente. Foi quando o vi; Guilherme. Ele dormia, sentado em uma cadeira enquanto a cabeça se apoiava no colchão da minha cama. Observei-o com cautela, tomando cuidado para que ele não acordasse.

Meus olhos ardiam, minha cabeça parecia prestes a explodir e meu corpo todo doía. Fiz um esforço para me lembrar da noite passada, entender por que Guilherme estava ali, com a guarda tão aberta, e tão próximo.

Preferia não ter lembrado.

Sentei-me abruptamente quando as lembranças começaram a tomar a minha memória. Recordei o beijo de Henri e Chris, da aproximação de Samanta e de Francis. Meu coração veio a boca e tive a sensação de que ele parou por uns instantes.

— Anna. — Guilherme acordou e se sentou recostado na cadeira, olhando-me com cuidado. — Está tudo bem?

— Não era eu quem devia perguntar isso? — Falei ao observar o rosto repleto de hematomas de Guilherme.

Seu supercilio estava inchado, sua boca tinha um corte no lábio inferior à direita, o punho também estava machucado, sinal de que, não só ele apanhou, alguém também havia se machucado. Ele sorriu torto, mas se manteve em seu lugar.

— Não se lembra do que aconteceu? — Ele perguntou cautelosamente.

Sim. Eu me lembrava perfeitamente e queria gritar. Não era só a dor física, algo mais estava machucado, algo dentro de mim. Eu custava a entender o que havia acontecido, mesmo repassando as lembranças em minha cabeça, eu não conseguia entender. Engoli em seco e suspirei pensadamente. Balancei a cabeça em sinal negativo, pois era mais fácil negar.

Guilherme não pareceu convencido. Talvez, porque eu não passasse confiança. Abri a boca para falar algo, mas não consegui. Algo estava preso em minha garganta, um grande bolo de sentimentos. Dor, confusão, raiva, vergonha... Eu não sabia o que dizer, eu não conseguia dizer, mas eles sabiam como se fazerem presentes.

As lágrimas molharam o meu rosto e eu, logo, tratei de esconde-lo entre as mãos. Mas elas, as lágrimas, não paravam. Banhavam minha pele, quentes e salgadas, as lágrimas transformaram em líquido todos os sentimentos que estavam entalados em minha garganta. Era incrível como doída, cortava-me de dentro para fora sem piedade.

— Anna, por favor... — ele me olhava, os olhos úmidos. — Me diz como eu posso te ajudar?

Eu não sabia. Tudo o que eu queria era me encolher e me deitar em posição fetal e chorar toda a dor que eu sentia. Não era só a dor, era o medo que mais fazia estrago, a sensação de perigo iminente, como se qualquer pessoa fosse me atacar e me machucar, como se Guilherme fosse capaz de fazer isso.

Eu segurava os meus joelhos, encolhida e encostada na parede, balançando para frente e para trás, enquanto as lágrimas rolavam por vontade própria. Eu tinha a sensação de que estava fora do meu corpo, vendo-me ali, estática, aos prantos, sem poder fazer nada. Sem forças.

Guilherme ameaçou se aproximar, mas parou quando percebeu o medo em meu rosto. Eu sabia que ele não me faria mal algum, mas meu corpo não sabia disso e se encolhia a qualquer sinal de ameaça, por menor que fosse ele. Querendo ou não, Guilherme era uma ameaça em potencial e, se quisesse, poderia me machucar.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora