Capítulo 32

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Desculpa

Anna

A felicidade tem um preço, um preço caro e doloroso que escorre pelo rosto em forma de lágrima. Só sabemos o gosto doce da felicidade, porque, de alguma forma, já pagamos por ela. Pagamos ao sentir o gosto é amargo que vem de dentro, subindo pela garganta e tomando todo o paladar. Esse é o gosto da tristeza, que escorre líquida pelo rosto e que devemos pagar para, realmente, conhecer a felicidade.

Desde hoje, eu decidi que aproveitarei o gosto da felicidade. Aproveitarei cada riso de alegria, cada sorriso bobo, cada formigamento e excitação que aquecerá o meu coração. Darei valor a cada segundo em que a felicidade se mostrar presente, valorizarei a felicidade como se fosse a última vez. Isso é o mínimo que posso fazer ao descobrir o preço que eu pago por ela.

— Você não vai acordar? — Era Mari quem me sacodia, tirando-me de meus pensamentos.

Eu já estava acordada fazia horas. Na verdade, eu não sabia ao certo se havia dormido em algum ponto da minha crise existencial. Meus olhos ardiam em lágrimas e meu coração se contraía em dor. Se, ao menos, eu tivesse dormido para esquecer um pouco aquela sensação de vazio e impotência, mas isso não aconteceu. Sem dúvidas, não aconteceu.

— Já estou me levantando. — Falei com um suspiro.

— MEU DEUS, O QUE ACONTECEU COM SEU ROSTO. — Ela berrou.

Um suspiro me escapuliu. Eu já imaginava que estivesse inchada, com olheiras e abatida. Entretanto, não era para tanto alarde. Até parece que ela nunca passou uma noite em claro enquanto chorava. Conhecendo Mariana como eu conheço, é de fato estranho imaginá-la chorando durante a noite por qualquer que seja o motivo. Ela valoriza demais as suas horas de sono.

— Não exagere, irmãzinha. Vou tomar um banho.

Levantei-me e saí, sem esperar qualquer resposta dela. Não queria ter que rebater ou discutir qualquer que fosse o assunto que ela queria ter. Eu não tinha capacidade mental alguma para formular qualquer frase com mais de cinco palavras.

O banho me fez bem. A água quente limpou e acariciou a minha pele. Esquentou o tecido gélido e sem vida, enchendo-me de esperança outra vez. Contudo, era só eu sair de dentro da água que a sensação de sujeira me tomava novamente, então a dor voltava, a ânsia de vômito, a falta de ar e a vontade excruciante de chorar.

— Você não tem que dar muita atenção para isso. — Falei para o meu reflexo no espelho embaçado. — Basta absorver e expelir. Sem dar muito valor. Você consegue, Anna.

Eu consigo?

Piada, não é, Anna?

Eu não tinha tanta certeza quanto a essa informação. Eu não tinha certeza de muita coisa. A única certeza que eu tinha, e essa era bem forte e confiante, era de que eu não queria ir à escola. Somente a ideia de encontrar Francis, fazia as minhas pernas bambeares e não era de uma forma boa.

Obriguei-me a terminar de me arrumar; nada além de vestir o uniforme e de prender o cabelo em um coque alto. Até pensei em passar corretivo nas olheiras quilométricas que tomavam o meu rosto, entretanto, a força de vontade me faltou e eu parei por ali.

Quando saí do banheiro, Mariana entrou apressada e bateu a porta, então eu peguei minha mochila no quarto e me direcionei ao primeiro andar da edificação.

Maldita a hora, viu?

Para melhorar meu humor, — tem certeza de que o senhor está escrevendo a história certo, Deus? Não é possível — encontrei Guilherme e Catarina na cozinha. Ela o abraçava pela cintura, na ponta dos pés, enquanto tentava alcançar sua mão com a boca. Ele parecia segurar um pedaço de torrada.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora