Capítulo 11

165 51 12
                                    

Coisa boa não pode ser

Anna

Todos somos histórias em processo constante de desenvolvimento. Em momentos aleatórios, é comum um bloqueio criativo ou outro, mas, quando o último ponto final for posto após a última palavra, seremos belas histórias, prontas para serem lidas.

Tudo o que eu queria era que aquele pequeno pedaço da minha vida não fosse registrado, ou que, pelo menos, não fosse descrito com tanta veracidade, pois, durante os próximos dias, apenas coisas absurdas irão acontecer e quando eu digo absurdas, não me refiro à eu dançando em um evento de Miss idiota.

Enfim, janeiro havia chegado e os meus dias se tornaram cada vez mais agitados. Aula de etiqueta duas vezes na semana, aula de história toda terça e quinta e o final de semana ficou reservado para as aulas de dança. Quem coordenava todo o espetáculo era Renata, a mãe de Christian.

Renata Silva era uma mulher esbelta, alta de cabelos lisos e cheios que batiam na altura de seus ombros. Diferentemente do filho mais novo, raramente se via aquela mulher sorrir. Ela encarava a todos com superioridade, com seus olhos castanhos esverdeados, frios e assustadores. Usava uma maquiagem pesada, as pálpebras estavam sempre escuras, as bochechas estavam sempre contornadas, deixando seu rosto ainda mais fino, e na boca um batom nude cobria os lábios.

— Acho que todas vocês já conhecem as regras do concurso. — Ela olhava para todas nós, um total de dezoito garotas. — Cada etapa vale uma pontuação, no final, será a média dessa pontuação que dará a uma de vocês a coroa. Uma dica que dou a todas, principalmente às que tem facilidade de engordar ou emagrecer, cuidado com o corpo. Se nós tiramos a medida de vocês agora, não é à toa.

Todas nós concordamos. As medidas eram tiradas no começo do ensaio por um simples motivo, precisávamos manter o peso. Era terminantemente proibido engordar ou emagrecer durante o concurso. Um vestido apertado demais, ou um vestido largo demais era sinal de que vacilamos em algum momento, e os juízes levavam tudo isso em consideração.

— Em caso de empate, o que é muito raro, serão os pequenos detalhes que farão a diferença, e é claro, o discurso de miss. — Ela fez uma pausa e passou a mão pelo vestido justo vermelho. — Esse ano o tema é: Os deveres de uma miss para com o mundo. Sei que muitas de vocês pensam que esse é apenas um concurso idiota e antiquado, mas pensem... — ela olhou dentro dos meus olhos como se lesse meus pensamentos — todos nós temos deveres, e o concurso é para ensinar isso a vocês.

Assentimos. Dona Renata tinha algo em sua fala, algo amedrontador, extremamente ameaçador. Engoli em seco, e se eu fizesse algo errado? Eu não deveria estar ali, eu não queria estar ali e não me sentia à vontade em estar ali. Ao contrário de minha irmã, que estava exalando confiança.

— Sugiro que comecem a planejar o discurso. — Ela concluiu, deu meia volta e nos deixou sozinhas na companhia umas das outras.

Estávamos na sala de uma enorme casa. O piso era de madeira, assim como a escada gigantesca a nossa frente. A estrutura tinha muito mais de três metros de pé direito. Na parte de cima, encontravam-se os quartos, mas era proibido subir um degrau sequer. Para o interior da sala ficava a cozinha, na última vez que visitei o lugar, a cozinha foi o ambiente em que passei mais tempo, afinal, lá tinha comida. À nossa direita, ficava um pequeno escritório, onde eu nunca coloquei um pé, e por fim, à nossa esquerda se estendia um grande salão, onde costumava acontecer o evento.

As paredes eram todas pintadas de branco, um branco tão claro que fazia meus olhos doerem. Quadros davam vida e quebravam a branquitude do lugar. A sala não parecia uma sala, não tinha um sofá para visitas ou uma TV. Talvez porque a família não fosse acostumada a receber pessoas.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora