Vésperas
Anna
Eu podia sentir uma ruga de expressão se formar em minha testa, enquanto a minha mãe me analisava de cima a baixo, procurando na menina a sua frente, sinais de sua pequena, obediente e doce filha. Eu sentia dizer que, mesmo que ela procurasse, não encontraria sinal daquela moça. Aquela Anna havia morrido, bem como uma parte de mim.
— Anda, pode abrindo a boca. — Ela sacudia o braço direito em frente ao meu rosto, mostrando-me o celular. — O que significa isso?
— É exatamente o que você está vendo, mãe. — Mariana interveio. — Aquele cretino do Francis tentou abusar da Anna.
Minha mãe parecia descrente. Ela olhava no fundo dos meus olhos, como se buscasse neles a verdade que Mariana falava. Eu abaixei a cabeça, pois o silêncio no ambiente era devastador. Algo me dizia que a minha mãe não estava acreditando no fato de eu ser a vítima da situação.
— Abusada? — Minha mãe falou e seu tom de voz ainda emanava raiva e decepção.
— Eu estava bêbada... Eu não consenti isso. — Tentei me justificar, mas só o fato de precisar me justificar já era triste.
— E com essas roupas, você ainda acha que precisa de consentimento? — Ela enfim abaixou o braço, aproximando-se de mim. — Eu não criei filha minha para ser puta.
— Mãe! — Mariana tentou intervir, mas não adiantou.
— Você estava bêbada. Em uma festa. Seminua. E VOCÊ AINDA CHAMA ISSO DE ABUSO?
As lágrimas escorriam pelo meu rosto como ácido, ardendo cada em cada centímetro que passava. Enxuguei o rosto com a palma da mão. Estava cansada de chorar e cansada demais para chorar.
— SIM. — Minha voz, antes baixa, tomava força e aumentava o tom. — Eu falei que não queria. Ele não tinha nenhum direito de me tocar, quando eu disse que não.
O ar estava tenso. Minha mãe se aproximou, ficando a poucos centímetros do meu rosto. Ele estendeu o dedo indicador direito em frente ao meu rosto, então continuou a falar:
— Eu não criei você para me fazer passar essa vergonha, Anna. — Ela falava baixo e calmamente. — Você me decepcionou. Muito.
Então ela subiu as escadas. Quando chegou ao seu quarto, bateu a porta com força e eu me encolhi com o estrondo.
Fiquei estática por alguns segundos. Tentava entender o que tinha acabado de acontecer e porque minha mãe estava com tanta raiva. Eu sabia que ela era rígida e conservadora, mas não imaginava que ela pudesse ter uma reação como aquela. Geralmente ela é tão sensata.
— Anna. — Ouvi a voz de Guilherme, ela estava um pouco abafada. — Está tudo bem?
Sorri.
Não. Não estava. A parte minha que se sentia culpada começou a gritar, pedindo para ser castigada. Minha mãe aflorou esse sentimento, então estava sendo difícil controlá-lo. Apesar disso, mantive-me firme, respirei fundo e sorri o meu melhor sorriso naquele momento.
— Estou bem. — Minha voz saiu embargada. — Vamos voltar ao filme. Já acabou.
Apaguei a luz e voltei ao meu lugar. Estava sob à espreita de meus amigos, e eles já haviam aturado drama demais por minha causa. Aquele era o momento perfeito para segurar a onda e ficar firme.
Você não é um rato, Anna. Haja como os músicos e não abandone o barco.
...
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O Amor dos Meus Sonhos
RomanceLivro 1 da duologia Sonhos ELE PODER SER QUALQUER UM, O AMOR DOS MEUS SONHOS. Todos temos um sonho, qual é o seu? Anna tem 18 anos e está prestes a começar o último ano do ensino médio. Um ano comum a muitos jovens que buscam um diploma, faculdade e...