Capítulo 48

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Proposta

Anna

Nunca entendi a lógica de que para chegar a algum lugar é preciso pisar fundo no acelerador. Leigos, não sabem que, para que o veículo ande, é necessário mais do que pisar fundo no acelerador, é fundamental soltar a embreagem lentamente. Pois, de nada adianta pisar fundo no acelerador, se o pé não sai da embreagem. O carro não vai andar de jeito nenhum.

Nesse momento, eu me sentia um carro. Mariana pisava fundo no acelerador, querendo me fazer chegar até Guilherme, mas tinha alguma coisa pisando na embreagem, impedindo que eu saísse do lugar.

— Olha só que arraso! — Mari falou quando saí do banheiro usando apenas o biquíni. — Esse corpo precisa ser mostrado.

— Também não é para tanto. — Suspirei me olhando no espelho, notando cada pequeno detalhe. — Olhe só essas estrias!

— Qual o problema? — Mariana pergunta enquanto poli o esmalte vermelho das unhas.

— Qual o problema? — Voltei-me para ela constrangida. — Parece que o Super Choque deu um choque na minha bunda.

— Olhe pelo lado bom, ele é um gato.

Mari riu da própria piada e se sentou na cama, sem me dar qualquer confiança. Ela não se importava nem um pouco com as minhas paranoias e falta de confiança em mim mesma.

— E essa pele, toda flácida? — Choraminguei, sem deixar nada passar. — Olhe o tanto de celulite!

Mariana bufou, revirou os olhos e se levantou. Ela andou até mim e segurou em meus ombros, olhando profundamente em meus olhos. Era como se eu visse o meu reflexo sair do espelho e dizer:

— Gata, que autoestima baixa é essa? — Ela soltou meu ombro para então prosseguir, ainda olhando em meus olhos. — Anna, você é linda e isso o que você chama de defeito, é o que te torna humana. São traços naturais, Anna. Você não é um robô com pele sintética.

Ela suspirou, revirou os olhos uma última vez e então deu meia volta.

— Eu vou na frente, mas não se esqueça do que me prometeu.

— Eu não tenho certeza se é ele. — Falei cabisbaixa.

Por mais que eu quisesse que Gui fosse o cara sexy dos meus sonhos, eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza de muitas coisas. Guilherme sempre foi como um irmão para mim, agora eu sentia uma merda de atração por ele. Dois sentimentos me tomavam, o que me dizia que ter algo com Gui era quase um incesto e o que dizia que Guilherme era a tesoura que cortaria todas as correntes de incertezas que me prendiam.

— Não é só atração. — Mari falou como se lesse os meus pensamentos. — Ficar com ele agora, não vai afastar vocês, vai torná-los mais íntimos. Vocês só unirão o útil ao agradável... E o que importa o que esse cara do sonho disse? Ele não existe, Anna Gil, tudo é obra da sua imaginação.

Eu sabia. Sempre soube. Acontece que era real demais. Tão real quanto Gui é para mim.

— Dê a chave do quarto a ele. — Ela indicou outra vez. — Você não precisa fazer algo que não queira, só dê uma chance, vai que é ele?

Concordei com um aceno de cabeça rígido, como se agora sim eu fosse um robô velho e enferrujado. Mariana sorriu vencedora para mim e saiu porta afora, cantarolando. Eu não saberia o que seria de mim se Mari não estivesse aqui.

Pensando agora e olhando como a nossa relação mudou em tão pouco tempo, chega a ser estranho. Antes, ela era a irmã chata, pretensiosa, mimada e besta. Mas eu a amava. Sempre amei Mariana, com certeza não é de hoje. Sempre houve momentos nos quais eu olhei para ela e pensei "minha irmã..." com um calorzinho no coração. Acontece que, agora, estamos mais íntimas, esse calorzinho não vai embora. Olhar para Mari é sentir todo o acolhimento que vem ela.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora