Capítulo 26

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Meu amor

Anna

Na mesma noite, conversei com a minha mãe sobre a possibilidade de Francis morar com a gente. Na reunião, encontravam-se ela, minha irmã e meu pai que, coincidentemente, havia acabado de voltar de outra viagem — já era a quinta, só aquele ano.

— Como assim? — Mariana falou de cara feia, enquanto olhava Francis. — Não temos espaço para mais um.

— Mãe! — Indaguei.

Eu havia explicado toda a situação, desde o abandono dos pais até ser expulso de casa. Omiti que estávamos oficialmente namorando, pois, se falasse sobre, provavelmente, perguntas brotariam do nada.

Francis observava, calado, toda a situação como se já estivesse acostumado a ouvir falarem dele como se ele não estivesse presente. Ele olhava para nós quatro como se fossemos estranhos, com aqueles olhos frios e calculista. Estava quieto demais, como se estivesse desconfortável com a situação.

— Senhor e Senhora Gil, — ele chamou a atenção do quarteto que discutia de forma incontestável — em primeiro lugar, eu gostaria de pedir oficialmente a mão da sua filha, Anna, em namoro.

Meus pais olharam perplexos, como se aquela fosse uma hipótese absurda. Em seguida olharam para mim, pedindo por uma confirmação. Balancei a cabeça em sinal positivo, entretanto, não pareceu ser o suficiente, pois eles se voltaram para Mariana, na tentativa de liquidar as suas dúvidas.

— Mas um motivo para ele não morar aqui. — Mariana argumentou, enquanto mexia em algumas mechas de seus cabelos. — Nós não sabemos nada sobre ele, só a versão dele sobre o caso. Como garantir a veracidade?

— Mariana, ele é meu namorado e eu confio plenamente em suas palavras. — Falei cansada daquela ladainha. — Diferente de algumas pessoas, ele não inventa um relacionamento para me magoar.

As palavras saíram cuspidas e cheias de rancor. Mari me olhou, meio chateada, meio culpada. Ela sabia que eu me referia ao Guilherme, mas não só a ele. Ela também mentiu, fez eu me sentir culpada quando eu não precisava. Ela também tinha culpa no cartório.

— Senhor e Senhora Gil, eu não contei isso para a Anna em busca de um abrigo. — Ele falou em um tom calmo, mas visivelmente chateado com o conteúdo da conversa. — Eu só não acho certo começar um relacionamento com mentiras e omissões.

Tinha como ser mais fofo?

Segurei sua mão esquerda, tentando reconfortá-lo. Eu não queria que ele se sentisse triste ou pressionado. Provavelmente, aquele não era um assunto fácil, pois ele estava cutucando uma ferida muito difícil de cicatrizar. Eu sempre tive meus pais presentes e a remota possibilidade de não os ter, fazia meu coração doer.

— Por que você decidiu vir para Belo Monte, Francis? — Minha mãe questionou, olhando firmemente em seus olhos.

Minha mãe sempre foi a rainha do nosso jogo de xadrez. Se ela não concordasse com algo, não teria nada que o meu pai, rei do nosso jogo de xadrez, pudesse fazer. Ela também era mais dura, não se convencia com tanta facilidade. Já meu pai era mole como manteiga e qualquer sorriso já cativava seu coração.

— Pensei que pudesse encontrar a minha mãe aqui. — Ele suspirou. — Assim que completei dezessete anos, comecei a procurar por ela e descobri que ela morava por essa região. Mas não consegui encontrá-la.

— Você se lembra dela? — Meu pai questionou.

— Não muito. Eu era muito novo quando ela foi embora. — Os olhos de Francis estavam sendo novamente tomados por lágrimas, a boca estava vermelha assim como seu nariz, mas ele se negava a chorar. — O pouco que me lembro foi da nossa despedida. Ela me colocou sobre a mesa da cozinha e segurou minhas mãos pequenas e disse que estava indo embora para o meu bem, pois ela precisava ajudar no tratamento do meu pai biológico e só poderia ser minha mãe quando pudesse ser uma família de verdade.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora