Capítulo 12

150 49 5
                                    

Regra número um de sobrevivência: evite.

Anna

O mundo caminha para o caos e a prova disso está em nossas ações, quando desejamos o incompreensível, o inimaginável, o surreal... Está no desejo arrebatador de ser o impossível, mesmo que isso machuque, mesmo que sangre, mesmo que quebre todos os seus ossos. A magia está, literalmente, naquilo que é improvável.

Talvez, seja por isso que dizemos que o amor é mágico. Amar é caminhar em direção ao caos de bom grado.

— Por favor, me dê seus documentos e o documento do carro. — O policial, Pierre era o seu nome, pediu ao Henri.

— Aqui estão. — Henri o entregou com agilidade.

Caio Pierre era o policial mais novo que eu conhecia. Tinha cabelos ruivos, era gordinho e parecia um bebê. Tinha vinte e tantos anos, mas parecia ter apenas vinte. Quando se formou como policial, prometera proteger a cidade com a sua vida, mas eu me perguntava se alguém seria capaz de fazer qualquer mau aquele ser tão grandemente digno.

Ele olhou os documentos e em seguida, com os olhos semicerrados, olhou para Henri.

— Esses documentos não são falsos, não é, senhor Henrique?

Mariana, que observava a situação calada, já estava cansada de toda aquela conversa mole.

— Falsificado? Por um acaso somos os personagens de uma série teen, norte-americana? — ela fez uma pausa, aproximando-se, por entre os bancos do carona e motorista, do policial. — Libere logo a gente, Pierre.

Pierre lançou seu olhar mais magoado do que bravo, o que partiu meu coração. Ele entregou os documentos ao Henrique, que sorriu de forma doce, como se pedisse desculpas. O policial fofinho deu meia volta e caminhou de volta ao carro da polícia, acelerou e partiu para a sua ronda cotidiana.

Há algum tempo, ouvi falar que Pierre queria ser ator quando mais novo, porém, por pressão do pai, que também foi policial, o adolescente Caio Pierre abriu mão de sua volátil carreira como ator e iniciou sua carreira na polícia. Ele ficou dois anos no exército brasileiro, prestou concurso e hoje recebeu uma ordem, nada delicada, da minha irmã nada delicada.

— Você é grossa assim sempre ou está de mau humor hoje? — Henrique questionou minha irmã, quando Pierre partiu tão desanimado que as sirenes do carro estavam desligadas.

— É sempre. — Respondi primeiro.

— Eu só falei o que vocês não tiveram coragem de falar. — Ela fez uma pausa e olhou para mim com desdém. — Eu sempre falo o que vocês temem falar.

Isso era verdade. Mariana não tinha papas na língua. Desde pequena, se algo a incomodava, ela falava. Dificilmente era possível vê-la chorar e mais difícil ainda era vê-la aceitar algo de bom grado quando esse algo não a agradava. Nós éramos verdadeiros opostos.

Ela recostou no estofado creme da BMW, cruzou os braços sob os seios e suspirou profundamente. Agora ela estava mal-humorada. Mariana é algo que eu defino como retilíneo. Ela não faz rodeios, se ela gosta, ela gosta, se ela não gosta, ela não gosta. Parecia fácil viver assim, mas eu duvidava de que realmente fosse.

— Vamos ou não para casa? — Ela perguntou entediada.

— Acho melhor deixar para mostrar essa velocidade para vocês outra hora. Porque já está ficando tarde.

De veras. O sol já se punha longínquo e morno. O dia foi todo assim, desde que o sol nasceu. Mesmo quando o sol alcançou seu ápice no céu cheio de nuvens, o dia foi morno. Nem frio, nem quente, apenas uma mistura aguada dos dois. Agora que o sol começava a se esconder, uma pequena neblina tomava a estrada deserta. Aquele fenômeno era raro de acontecer no centro da cidade, mas ali, onde a mata era densa, onde as árvores eram frondosas e balançavam sua folhagem como quem dá oi à noite que se apresenta rala, e a temperatura era comumente mais baixa, a névoa tremeluzia sem vergonha de ser quem era.

O Amor dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora